(Eu, numa foto de brincadeira, mas que é símbolo de minha fase mais filosófica e "in" de toda minha vida, foto de Adriana Cechetti)
Nesses anos todos eu senti uma coisa tal como uma "força maior" me compelindo a escrever, a dizer sobre o que eu sentia, a dividir, a pôr pra fora coisas e pensamentos íntimos. Eu revelei a cara de minha família. Eu falei do jeito que vivia na Suécia. Eu dividia (um pouco) dos dissabores e (muito) das alegrias de viver no velho continente.
E então eu voltei ao Brasil. Os posts foram se escassando. O medo de se expor demais num país não mais seguro quanto o de antes e de expor detalhes de minha vivência para gente brasileira com quem eu me encontraria se somaram ainda ao fato de que, nos primeiros meses (exatos 11 meses para ser mais precisa), eu não achei graça nenhuma de ter voltado. Eu sofri. E vocês sentiram isso nos escassos posts. Eu queria acordar na Suécia. Eu chooooreeeei baldes de lágrimas lembrando de minhas amigas e meus amigos suecos, brasileiros, poloneses, franceses, alemães, dinamarqueses e chorei lembrando da vista que eu tinha do Mar Báltico. Chorei quando olhava para o quadro enorme da ponte Oresund que ficava meio em frente onde vivia e separava Malmö de Copenhaguem.
Foram anos incríveis! Maravilhosos! E os amigos feitos lá me acompanham e eu a eles diariamente ou semanalmente. A amizade com a maior parte deles permanecerá. Tudo foi ao mesmo tempo árduo e lindo enquanto durou.
E então hoje abri minha caixa muito pouco visitada de email do blog e vi lá vários comentários de alguns de vocês me perguntando por que sumi. Entre coisas carinhosas havia o email longo da querida Ana Flávia, aquela Ana Flávia do Europrosa, quem "vive em Viena" e é filha da Dona Euripa que visitou a Europa. Lembram?
A Ana me pede para eu ser franca e dizer por que, afinal de contas, eu voltei a viver no Brasil. Se lá era bom, se viver lá parece ser o sonho de tanta gente diferente uma da outra e se aqui há tantos problemas o que me fez retornar. A Ana pergunta isso porque está num momento seu de reflexão e de tentar concluir o que também é melhor para ela. Em meio a muita coisa legal ela pergunta:
"O que fariam/ farão essas pessoas (que deixam várias coisas para vir para Europa) num ano ou dois no velho continente? O que as motiva? Se a Somnia morasse em Viena, o que ela faria por aqui que só aqui se poderia faze-lo? Teatro todo dia, opera e baile glamouroso de valsa sao fora de questao, que eu ainda nao ganhei na loteria:) E Kaffee und Kuchen nos charmosos cafés austriácos já me renderam 12 quilos extras na silhueta.
...
Porque, embora tenha turistado no comeco, e ainda continuo achando Viena linda, a rotina é tao igual a qualquer outro lugar: viver pra se garantir os meios de se continuar a viver."
Eu não sei se sei a resposta para todas estas perguntas, mas vou tentar pensar nela com agora...
No meu caso não sou casada com um sueco e o Renato tinha um projeto claro que era ir como expatriado (contrato especial com vantagens e privilégios diferentes de um contrato local) e o emprego dele estava "vago" aqui no Brasil. Ele tinha a chance de voltar. E voltaríamos com todos os privilégios mantidos de emprego, mudança etc. Isso pesou quando o contrato acabou. Ficar na Suécia significaria enfrentar por nossa conta o contrato da mesma empresa mas lá, com salário sem casa, carro etc etc garantidos. Significaria uma vida mais real e menos "glamourosa" do que levávamos sem contar que eu (além de dar os workshops e vender telas) ainda não estava trabalhando e tendo uma renda fixa.
Então este ponto pesou muito.
O outro foi, sem sombra de dúvida, o longo inverno. Eu aprendi a amar a mudança de estações. Estou mega feliz com essa chuva caindo em Sampa e o "friozinho" de 21 graus de janeiro. Eu choooooreeei outros baldes esses dias quando vi um filme ("Sempre ao seu lado") em que víamos as mudanças de estação todas se passando enquanto o cachorrinho ia envelhecendo esperando seu dono voltar. Não era o frio o problema, mas adoecer tanto. Ter o Ângelo sempre doentinho no inverno e gastar quase seis meses do ano tão quietos, tão calados. Era ótimo por um mês, dois, mas depois doía. O inverno dói na gente. E nem que você não queira, nem que lute como eu lutava fazendo amigos, indo à casa deles, organizando festinhas e viajando por muitos cantos a gente consegue evitar se deprimir. Tem gente que não deprime, mas fica triste. Fica quieto. E o Brasil, vocês sabem, é muita alegria todo dia. Claro! Aqui também há toneladas de gente deprimida, mas deprimir independente de nada na sua vida, apenas porque são cinco, seis meses que seu corpo não curte sol, então é algo bem diferente. Aqui eu sinto uma alegria diferente. Não essa alegria de carnaval (eu nem gosto de carnaval!), nem do futebol (eu não aguento mais ver futebol em tv), mas essa alegria da natureza. Esse azul que invade minhas janelas todas do meu apê todos os dias. O sol que tantos aqui reclamam, mas ilumina praticamente todos os dias do nosso ano a nossa vida.
O inverno sueco é escuro. É muito escuro. E o escuro, sempre falei isso aqui, era o pior de tudo. Três meses mais ou menos com dia começando as dez e terminando as três da tarde. E quando falo dia falo de um dia cinza, cinza muito escuro, sem nenhuma (nenhuma!) claridadezinha, ponta de sol, nenhuma esperança de que o sol brilhe a não ser que neve...
Entendem?
Então havia meu amor pela Suécia. Havia meu amor pela vida européia mais cultural, mais centrada e menos superficial-viciada-em tv-e-corpo que a brasileira, havia uma vida com a qual eu me identifico muito, mais segura e mais calma, mas faltava poder conseguir ser a Sônia possível unicamente no Brasil. Eu de fato amo coisas simples como pedalar até o mercadinho e fazer minhas compras. Eu adoro sentir a neve na minha pele. Eu a-do-ro ouvir outros idiomas e sobretudo eu sou fascinada por gente com mentalidade aberta. Gente que não se priva de viajar, ler, aprender em troca de certas regalias que temos no Brasil. Eu amava minha vida na Suécia e não foi por não amá-la que eu voltei. Se era uma vida cheia de rotina? Era. Era sim. Aqui também já se tornou outra. Rotinas são sempre rotinas. O problema é quando elas normalmente nos incomodam mais do que deveriam. Quando repetir uma ação nos faz ficar pensando "não aguento mais isso", "não suporto mais fazer aquilo"... A rotina lá era rotina, mas era muuuito menor do que a vivida aqui. O fato de eu conhecer alguém novo sempre me tirava da rotina. Ir a um lugar nunca visitado, o sempre ter algo para descobrir.
Neste quesito o Brasil me entedia horrores. Ainda assim é o lugar onde parte de mim pode se realizar e pode ser feliz... Parece contraditório, mas é assim mesmo... A gente fica maluco depois de viver fora e gostar da experiência... Fica partido ao meio.
Viver aqui não me deixa totalmente feliz. Não. Eu ainda sonho em viver novamente fora e ainda sonho em quem sabe um dia poder me dividir entre Brasil e Europa... não sei o quê... mas era uma decisão a qual precisava ser tomada e pesando tudo, as oportunidades de trabalho pra mim, a família com saudade da gente e a gente querendo que nossos filhos crescessem sentindo o amor dos avós, primos e primas então foi melhor ter voltado. Pra sempre? Provavelmente não. Provavelmente com outras saídas, não sei se definitivas... Isso só o momento a ser vivido dirá... Por ora eu consegui, finalmente, sentir alegria em estar aqui novamente. E torço, Ana Flávia e vocês todas e todos que me escrevem compartilhando essa dura decisão de escolher ficar ou voltar, para que consigam ver quais as razões que os prendem num lugar e quais as que os chamam para outro. Se são vocês falando ou se é a voz de outros compelindo vocês a não ficarem felizes onde estão ou não decidirem partir para onde desejam.
Seguir o próprio coração e mente eliminando o quanto conseguir de interferência externa talvez seja mesmo o caminho mais seguro a ser tomado.
Beijos e obrigada por compartilharem.
O blog não acabou não! Mas eu não dou conta com minhas criancinhas de férias! :)
Comentários
Lembro que estava no laboratório de informática do departamento do meu curso quando li. Mas a vida é assim. Desde que nasci moro no mesmo lugar. Já viajei muito, mas não o suficiente para ser uma pessoa viajada. Também nunca fiz intercâmbio. Mas toda vez que vejo alguma imagem de filme com neve meu coração dói demais. Lembro dos 15 dias que fiquei no interior do interior dos EUA na casa de uma amiga muito querida. Lembro das vezes que fui na casa dela, só uma no inverno, as outras no verão. Lembro dela. Das pessoas que conheci lá. Mesmo nunca tendo morado lá, é o lugar que mais me identifico fora de casa, é como se fosse minha outra casa.
Um dia, vou ver, vou tentar contribuir com as minhas razões de porque eu quero ir, para onde ainda eu não sei.
adorei este post, tao aberto!
deu vontade de te abraçar!
beijos
Mas como não é viável ainda, acho que fêz bem em voltar.
Muito linda a preocupação de vocês de que os filhos cresçam ao lado dos parentes. Nem sempre é bom, mas é importantíssimo esse laço, desde que a família se dê bem. Eu, que vivo longe dos netos, sei o quanto faz falta o convívio.
Enfim, fico feliz por você estar feliz aqui na pátria amada.
Beijo!
Onde moro nao é tao frio, e o dia no inverno escurece mais tarde, lá pelas 5. Mas posso bem imaginar a tristeza de se ver sempre dias mt frios e escuros. Deus me livre.
Lembrei agora de quando cheguei aqui, depois de alguns dias quentes, um dia marido viu no noticiario e falou: amanha vai fazer um grau! E eu: um grau? pelo amor de Deus! E ele: mas vai ter sol!! E eu: que? quem se importa menino?? olha esse frio de 1 grau, meu senhor! E ele falou: vc vai ver a importancia disso um dia.
E é assim que entendo o significado do sol nas nossas vidas aqui. Em Manaus tem sol TODO santo dia. E o que se tem demais, nao se da valor. Aqui é outra coisa. Na Suécia, mas ainda.
Curta seus dias no Brasil!
Mas eu nao gosto nem de pensar na possibilidade de um dia voltar a morar aí. Sei lá, a última viagem me chocou mt e sao tantos motivos pra isso, nooossa. De qq maneira, acho que ainda volto. É meu país, sabe? Mas é um país mt injusto, mt esnobe e mt hipócrita e isso ainda me dói mt...
Sonia, nao entendo porque as pessoas falam tanto em viver na rotina. Eu adoro rotina, sem ela, me sinto perdida.
Mas, as pessoas sentem tédio na europa. Porque??
Ja li mts pessoas falando sobre isso.
Eu acho que é porque no Brasil a gente vive num estresse terrível todo dia. E acha que isso é bom, ou ja esta acostumado a isso. Da a impressao de quem tem sempre algo acontecendo, nao é? O noticiario fala sobre coisas terriveis todo dia. Vc tem sempre que se adaptar as novas armacoes dos bandidos, vc nao pode confiar inteiramente na sua amiga, tem que ter cuidado em falar a verdade pra nao magoar os familiares, ahh tanta coisa.
Ja vi mt gente deprimida em morar aqui. Mas a pergunta é? porque mora aqui entao criatura???????? vai pra casa!
Sei que ha motivos e motivos. Mas tem gente que fica pelo status. Isso nao é legal, nao é bacana. Tem que ficar, como vc disse, se o coracao pede isso. A gente tem que aprender a ouvir nosso coracao. Sempre.
Peco a Deus que no dia que nao me sentir mais feliz aqui, que tenha forca pra voltar pra casa quando necessário. Mas até lá, curto minha vidinha rotineira, tranquila e mt gostosa que tenho aqui e que amo muito.
ps. desculpa o longo comment :-(
2. tbm sinto falta da familia perto, de ver os sobrinhos crescendo, da uniao bonita das filhas da minha mae... mas parece que nesta vida nao se pode mesmo ter tudo.
Já dizia nosso querido maestro Tom Jobim: " Que “viver no exterior é bom, mas é uma m… e viver no Brasil é uma m… , mas é bom”?"
Olha, sei lá, eu acho que viveria bem em qualquer lugar, desde que ali tivesse respeito e humanidade para comigo e com as pessoas a minha volta.
Pelas duas vezes em que estive na Europa tive a maior sorte, pois só vi tempo bonito, céu azul, mesmo fazendo frio como agora na Espanha, mas eram dias lindos e o sol estava lá no céu, iluminando e trazendo alegrias aos corações. Penso que a falta dele por tanto tempo deve ser terrível, não consigo nem imaginar direito isso que nos fala, pois só de pensar me dá medo, muito mesmo.
E olha que nem sou de pegar sol, vivo me protegendo com filtro solar e nunca vou a praia que é logo ali na esquina, mas preciso saber que existe a luminosidade do astro lá fora e o mar por perto.
Eu choraria também muitos baldes como você, pois o que viveu lá foram tempos muito lindos e eu que já vou fazer 5 anos também pela blogosfera e a acompanho desde sempre, sei bem o que passou neste último ano, um misto de tristeza e alegrias.
O legal é que vocês são abertos às mudanças e isso é muito bom, faz a vida girar e ter sempre novidades pela frente.
Vocês ainda têm muito pelo caminho e vão morar em lindos lugares por este mundo afora.
um grande, super beijo, carioca
Te amo, Somnia! Obrigada pelo carinho em responder assim tao exato, redondinho.
Beijao!
continue escrevendo, cada vez q entro no teu blog e vejo q tem post novo, mesmo q esteja nublado, sinto um solzinho vindo do pc =D heheh
bjos!!
Eu já visitei seu blog outras vezes, mas nunca comentei. Meu interesse era exatamente conhecer a experiência de alguém que retourou para o Brasil. Vira-e-mexe eu tenho vontade de voltar, mas é complicado. Eu moro no Canadá, meu marido é daqui e está super bem na sua profissão. No entanto, pra mim, que sou da área da saúde está sendo super complicado me estabelecer na minha área. De vez em quando bate uma frustração e eu penso em voltar. Por enquanto, pesando os prós e os contras, continuo ficando. Só não sei até quando.
Obrigado por compartilhar sua experiência. Ajuda bastante a refletir. Um abraço, e boa sorte!
Pancha
Esse negocio de não querer falar muito agora que está aqui, eu entendo. Sabe que eu reativei a conta do face e tenho por lá poucas pessoas, a maioria que conheço mesmo ou tenho uma relação mais proxima. Mas nao gosto de colocar link do blog lá, por exemplo. No blog eu escrevo coisas que não gostaria que todos do face lessem. Acho o blog mais intimo (estranho né, mas é assim que penso).
Eu que nunca enfrentei assim grandes mudanças (sair da casa da mãe e ir pra casa do marido não é lá grandes coisas né, ahahah), fico imaginando o quanto deve ser dificil estas escolhas. E puxa, tantos anos em outro país, com TUDO NOVO, até a rotina, normal né que você chore baldes de saudade e pense mesmo em voltar algum dia.
Mas você falando do sol, ah Somnia, eu não sei se me adaptaria em um lugar com pouco sol não. Sou daqueles tipo bicha besta que para no meio da rua e fala: 'gente, que dia lindo, que tarde linda, que ceu azulado'. Sou fascinada pelo sol, mar, noites estreladas. Enriquece meu dia, alimenta minha alma. Preciso!
E aí, quando vamos marcar pra tomar um café?
É muito difícil voltar ao Brasil depois de vivermos em um lugar que sempre sonhamos em viver (ou talvez que nem tenhamos sonhado)..
É difícil se readaptar as correrias de São Paulo, o trânsito caótico, o medo contínuo de sair a rua...
Por outro lado é bom rever os amigos, os lugares, estar com nossa família e tb de termos aquela sensação de que "aqui no Brasil" não somos estrangeiros, é a nossa terra e acredito que todo brasileiro, mesmo os que vivem fora e não querem retornar, amam esse país, a nossa cultura e tudo de bom que aí temos..
Eu entendo os seus motivos, pq passei pelas mesmas coisas quando voltei de Londres e fui morar numa cidade pequena, com uma rotina menos corrida, foi difícil, demorei 1 ano para entrar nos eixos...quando enfim estava me adaptando mudei outra vez..
E agora, depois de 5 anos e 6 meses em Portugal mudo novamente e para a Suécia e cá eu novamente em fase de adaptação e sinto saudades de Portugal, do Brasil e tb de Londres...sim, aqui o inverno não é brincadeira, e sempre achei q o frio nos deprime um pouco sim, mas acredito que o melhor remédio é termos atividades e uma rotina, pois nos ocupa e nos ajuda muito.
Não sei se vou morar aqui para sempre, não sei como será, mas vou ficando enquanto for possível... porque sei que aconteça o que acontecer tenho sempre um lugar a minha espera que é a minha terra Brasilis..
Adoro seu blog e suas histórias!
Beijos, boa semana e tudo de bom!!!
:-)
voce ja era casada com um sueco(se eu entendi certo)nao dava para voce continuar vivendo na suecia,e vir e ir do brasil para a suecia da suecia para o brasil a hora que quiser?
Parece que nos conhecemos de tempos que não têm início, dos tempos sem tempo....
Te admiro, respeito e ao mesmo tempo o carinho que cresce me faz ter vontade de dar um abraço, mas um abraço imenso daqueles sabe? aquele dos tempos imemoriais.