Pular para o conteúdo principal

Síndrome de Homer, episódio no. 3: tv, panela e sala de espera



Dia de retorno ao médico. 
Sem paciência para o elevador tomo as escadas. Chego na sala, senha na mão, escolho um lugar quieto. Quase toda a gente está de pescoço esticado, olhos fixos na tela da fina TV presa ao teto. 
Num outro canto um painel com luzes e números: 118.

Caramba! Checo meu número novamente: 126. Então deixa eu ver o que esse povo anda olhando tanto ali... Afinal eu nunca tenho tempo para assistir à televisão. Bom momento de aproveitar... Hum... Cerro os olhos tentando ler as legendas porque o som está desativado. Percebo que trata-se do programa de uma conhecida apresentadora brasileira, Ana Maria Braga, alguém de quem eu já ouvi falar e vi bastante fotos em revistas de fofoca.

Uma moça, vestida de branco, chora muito... E então a câmera volta para a apresentadora que fala uma porção de coisas entre elas algo o qual consigo ler: "panela".

Hummmm... panán! Outra senha! Caramba! 121! Até que está indo rapidinho...

Olho pra lá, olho pra cá e lá está a mocinha chorando novamente. Junto dela, outra, quem num claro gesto de consolo põe as mãos sobre o ombro da primeira. Entretanto, ela também tem um "rio de lágrimas sob seus olhos".

Muito estranho... penso. Por que estas aí estão "llorando" tanto? Do pouco que sei aquele não era um programa sobre muitas tragédias... Lembro-me perfeitamente de ter visto um trecho um dia enquanto ficava na esteira do prédio. Não é neste programa que o convidado cozinha e passa debaixo da mesa?

É eu tô sabendo!

Tento então entender mais algumas coisas e não porque eu precise de óculos, mas porque as letrinhas eram realmente muito ruins de serem lidas e a distância bem grande. Até que consigo enxergar mais alguma coisa...

"... .tá tá tá... muita pressão.... tá tá tá... "panela"...."

124!

Ai caramba! Que rápido!

Hummmm... deixa eu entender antes que me chamem... Elas estão vestidas de branco, com aventais grandes. Parecem cozinheiras ou chefs... Caramba! Será que uma dessas coitadas teve explodida uma panela de pressão no restaurante? Naquela correria?

É... pode ser! Eu já vi rapidamente também naqueles programas do Norton, aquele loirão inglês quem detona todo mundo. O inferno pode acontecer na cozinha de um restaurante...

Provavelmente a mais nova teve uma terrível experiência de ter uma panela de pressão explodindo em sua cozinha... Só não encaixava muito aquele outro monte de moços e moças também vestidos com aventais brancos. A falação era muita, mas as letrinhas tão pequenas...

De volta à apresentadora, o "tom" de Ana Maria Braga parece realmente sério. Ela fala, fala e embora quase como uma velha cegueta consigo concentrar meus últimos esforços... Os olhos vão da senha até as legendas e pegam mais coisas soltas... A Fulana, a Ciclana... tá tá tá... Hum... fulana, ciclana...

A câmera volta para as moças que, agora, choram juntas. E choram muito.

125!

Caçarola! Lembrando de uma conversa tida com a sogra dias atrás e do pânico que os suecos, por exemplo, tem ou teriam à nossa quase primitiva panela de pressão concentro minhas forças e atenção restante nas frases escritas na tela... Desejo realmente entender como foi que a panela da moça explodiu e  quais as precauções devem ser tomadas para que algo ruim assim não aconteça na minha cozinha, onde sempre tenho a companhia de pelo menos uma menininha e um menininho...

Hummm... cerrando os olhos então consigo ler melhor e entender... Panela, a Panela... Na Panela... Deixar a Panela...

Não....

Eu estava de novo dando o maior fora danado. Todo o xororô era por conta de mais um reality show e de um grande dilema das duas mocinhas: quem sai, quem fica num programa chamado... cha...mado... Adivinhem? Panela de Pressão!

126!

E eu quem um dia duvidou de como televisão em consultório pode mesmo servir para entreter a gente!

Comentários

Wilqui Dias disse…
Legal sua narracao..e mais legal ainda que vc tinha ficha bem proxima de ser chamada né? eu ja cheguei a pegar a ficha 126 a mocinha chamava 89. rssss e nao tinha tv..por que foi aqui na Noruega eu fiquei contando as folhas de um planta(acho que contei umas 3 vezes as mesmas folhas) já que aqui tb ninguém puxa assunto em salas de esperas. rsss
Mariana disse…
O mais triste é que quando o programa fica interessante chamam a nossa senha!!!
Mas neste programa da Ana Maria Braga tem tb alguns dramalhões. Sempre que acontece algum tragédia ela convida os parentes da vítima e faz uma reportagem com eles. Apesar de conhecer o reality show dos chefs de cozinha, eu estava pensando em algum familiar de vitima da violencia no Brasil, rs rs rs..
Somnia Carvalho disse…
oi Wiki!
prazer em te conhecer! eu adorei seu comentario no outro post mas so nao consegui tempo para responder com calma!

verdade! nem tente puxar assunto com eles! rs... sabe vou confessar que voltei meio sueca escandinava nisso... eu nao dou espaço pra ninguem puxar conversa no consultorio comiga... que horror nao!
rs
Somnia Carvalho disse…
hehehe Mari a nossa imaginacao e moiiito fertil nao e nao? rs
Cíntia disse…
Adorei a narrativa. Prazer Sonia, só agora conheci seu blog. Parabéns pela escrita. Abraços
Beth/Lilás disse…
kkk Essa dona Sonildes!!!
Eu também não sei qual é e o que rola na Ana Maria Brega atualmente, pois faz tempo que não assisto mais tv e nem o programa dela.
Mas, fiquei curiosa pra saber o que aconteceu mesmo com as tais moças choronas. Você não descobriu o que rolou? Pow, agora eu quero saber, caramba!
Por essas e outras que quando vou para qualquer sala de espera médica, levo meu livro do momento na bolsa. Não fico mais de cara pra essas televisões com programinhas chatos.
Não se esqueça de levar um livro da próxima consulta, ok.,

beijocas cariocas
Tatiana disse…
Imaginei a cena... hilário!
Muito boa a narrativa.
bjoca

Postagens mais visitadas deste blog

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que