O primeiro texto inscrito no concurso (Uma foto, mil lembranças) foi da Grace Olsson e se você ainda não leu, vai lá porque vale muito a pena!
Ontem eu recebi o segundo texto, enviado pela nossa Jovem Beth Q. (ou Beth Lilás, do Mãe Gaia), mas só agora pouco pude abri-lo. Com os olhos marejados ao final da leitura acabei decidindo publicá-lo também aqui e publicar todos os textos que serão enviados. De quem tem e de quem não tem blog.
Isso não impede que vocês publiquem seus textos em seus blogs. Além de ajudar a que mais pessoas leiam seu texto e depois possam votar, também pode incentivar outros a participar do concurso!
O texto a seguir é de uma sensibilidade e simplicidade comovente, de dar aquele nó na garganta e pensar em coisas que já sabemos todos os dias, mas ainda não somos capazes de parar o trem para aproveitá-las... Ele é ao meu ver a cara da Lilás!
Se deliciem! E se inspirem para mandar uma foto com um texto que pode ser exatamente da cor, no tom, da forma e estilo que você dejejar!
Para sempre em meu coração.
"Em meu arquivo de fotos possuo centenas, talvez já chegue ao milhar, nunca as contei, mas tenho muitas que fiz desde que essas pequenas maravilhas digitais foram inventadas. Algumas em lugares lindos e de sonhos, lugares que poderia falar muito já que têm histórias e tanta coisa para se descrever ou relembrar. Tenho também fotos minhas com meu filho e marido que sempre revisito para sentir de novo o prazer daqueles dias e momentos em que vivemos e fomos felizes juntos. Mas, escolhi esta foto acima com minha mãe como figura central, numa cena insólita e que ao mesmo tempo captou todo o espírito simples, infantil e nobre de sua personalidade.
Sim, ela é uma grande alma! Uma pessoa com brilho próprio e com um interior tão bonito e humilde que contagia a todos e conquista amigos.
Na manhã em que juntas passeávamos no parque aqui da cidade, vimos crianças pequenas em carrinhos com suas mães, pessoas idosas conversando sentadas nos vários bancos espalhados por ali e dezenas de barraquinhas com artesanatos feitos por pessoas criativas, muitas idosas e com aptidões e vontade de trabalhar e ganhar um dinheirinho. Neste clima alegre e colorido que nos envolvia e fazia do nosso passeio algo relaxante e feliz, foi que de repente, à nossa frente surgiu esta estátua humana, iluminada debaixo de um sol de primavera.
Eu sabia o que era aquilo, já tinha muitas por aqui e até no exterior, e que a pessoa por debaixo daquela fantasia, mexia-se a cada vez que alguém depositava uma moeda em sua caixa que ficava sob os seus pés. Mas, minha mãe, que pouco sai às ruas e desconhece tais ideias e formas de se ganhar um troco hoje em dia, ficou observando curiosa aquela estátua.
Como eu gosto de vê-la sorrir e sei que tem um espírito leve e infantil, propus-lhe que colocasse uma moedinha na caixa do artista. Ela se aproximou e colocou a moeda, mas ficou atônita quanto percebeu que a estátua mexeu um dos membros e mudou de posição.
Foi então que ela descobriu a brincadeira e ficou encantada, parada, observando, rindo e esperando outra pessoa ou criança deixar a moedinha para que o homem estátua se mexesse de novo.
Fez-me ficar ali por alguns minutos olhando o comportamento das pessoas e do artista, divirtia-se notoriamente com aquilo e eu com ela e sua ingenuidade.
Não satisfeita, pediu-me para fazer uma foto dela ao lado do ‘artista’ que tanto a encantara.
E aí está ela, olhando de frente para a camera, sem vaidade, descontraída e com olhar tranquilo de quem entende o inestimável valor do tempo e aproveita momentos como estes para apreciar com delícia a serenidade do instante.
Isto foi há dois anos e ela tinha mais vontade de passear, de ver o mundo e encantar-se com as coisas, mas refiz este passeio noutro dia, num domingo pela manhã, porém ela já não se interessou tanto pelas coisas que viu e nem queria comprar nada, apenas caminhar um pouco e dar-me o braço para apoio na total confiança de que eu estava ali ao seu lado naquele momento.
Em seu já longo percurso de vida plantou amor, três filhos e amizades verdadeiras que não a abandonam, sempre estão à sua procura ou visitando-a em casa, mas a vida aos poucos vem lhe roubando as memórias mais recentes, como um ladrão invisível que entra em sua mente e deixa-nos, a nós que a adoramos, impotentes e entristecidos.
Mas ela continua seu caminhar, com a suavidade no olhar e jeito sereno que herdou das Minas Gerais, pró ativa, solidária e cativante. E diante disso, penso que é difícil entender a lógica e ambiguidade da vida e dos acontecimentos, por isso quero apenas viver e deixar viver, estar perto dela o quanto puder e beber de sua companhia e de seu toque leve, quase imperceptível, quando se apoia em meu braço para algum passeio nos domingos pela manhã.
A cada dia que passa, mesmo com ela se distanciando no abismo que a memória abriu dentro de si, mesmo assim, aprendo muito com ela, reconheço que sua presença ainda é um bálsamo para nossos corações e o mais interessante é que quando paro para pensar na vida e no que sou e como estou hoje, percebo o quanto dela está em mim e como repito seus gestos ou atitudes. Isso de alguma forma me consola e me faz feliz em saber que ela vai se perpetuar dentro de mim para sempre, até o fim dos meus dias.
Vida longa, mãezinha!"
Beth Q.
Comentários
Em muitas coisas não gosto de parecer com minha mãe (nos defeitos, por ex.) mas na maioria sinto-me também orgulhosa de ser um pedacinho de quem me deu a vida e tanto me amou.
Um beijo para a linda mãezinha da Beth. (Esqueci-me o nome dela...Será D.Léia? Corrija-me, Beth, se não for!)
Beijo!
Eu quis apenas participar como uma boa aluninha de redação, como era nos meus tempos de ginásio em que a professora dava um tema e a gente tinha que desenvolver.
Taí então a minha redação que virou um tributo para minha mãezinha.
E, Lúcia, o nome dela é Rita.
beijos cariocas
voce sabe que e mais que uma boa aluninha de escola ne amiga? voce tem sensibilidade ne Lilas! essa sua mae, essa foto, ta tudo lindo minha amiga!
e obrigadissima por ter de novo escrito pra borboleta!
Só agora estou a ler os textos que estão a participar no concurso. Não quis ler antes para não me deixar influenciar, antes de escrever o meu próprio texto. Li os primeiros textos que foram aqui publicados, da "outra série" e também gostei bastante do texto que acompanha a foto da Jovem Beth Q.
Lindo! A coisa mais triste que vivi na vida foi ver meu pai e minha mãe entrarem em seus sonhos exclusivos enquanto ainda estavam fisicamente saudáveis, exceto a cabeça que bateu assas.
Sua mãe fisicamente me lembrou muito a minha!
Girassóis nos dias e nos dias de sua mãe.
Beijos
Abs
Márcia
Que lindo ver uma filha com tanta admiração assim pela mãe...
Sei o coração transbordante de amor e carinho que voce tem e agora entendo o porquê...uma mãe assim só pode ter mergulhado os filhos em muito amor, carinho e dedicação e hoje, é somente o retorno de tudo isso que ela fez pelos filhos amados...o que voce é hoje voce deve, realmente, à sua mãezinha querida.
Obrigada por compartilhar conosco um momento tão lindo e vivido e entendido com tanta sabedoria.
Beijos com muito carinho
Liz
Que momento precioso - na foto e na sua memória - e que você nos passou com essa sua forma poética de escrever.
Adorei conhecer a D.Rita que você tanto admira.
beijo grande