(Brandie Carlile, "The story")
Quinta-feira, friozinho na cidade de São Paulo, e estou aqui emocionadésima, embrulhada em lágrimas. Um contentamento tão grande me toma por poder conhecer histórias como esta que publico hoje e lhe convido a ler (please!) ouvindo a música que a inspira.
Depois das lembranças sedutoras do Ricardinho Perez e da ternura da Ingrid, apresento o terceiro texto para nosso concurso "Uma música, mil lembranças", agora é a vez da Maria Helena Freitas, cuja história e excelente blog ("Uma caipira na Suécia") meio que dispensa muitas apresentações. De sua história ar-re-pi-an-temente linda (ai que lindo Maria Helena!) com uma trilha sonora para ninguém neste mundo botar defeito esta moça do Paraná, quem de caipira não tem nada, moradora também da minha Suécia querida veio para arrebentar nesta manhã e fazer o meu dia, e tenho certeza de que o seu também, muito mais bonito!
Obrigada e que sua história continue recheada de lembranças tão intensas quanto estas! Ah! e obrigada por me apresentar Brandie Carlile e sua "The Story"!
E, gente, depois de ler me responda: este concurso não é lindo?! Mande sua história também!
....
The Story
"Eu não lembro quando foi a primeira vez que escutei essa música porque de início ela foi apenas mais uma música daquelas que marca por causa da voz da artista, dos primeiros acordes doces do violão sendo suplantado pelo som da guitarra na sugestão de um sentimento muito intenso, que acalma mas mesmo assim continua de certa forma ecoando... foi em 2010 que “The Story” deixou de ser “uma história” para entrar definitivamente para a trilha sonora da minha vida.
Mas “A História” começou em meados de novembro 2009 e teve tudo que um bom romance deveria ter para dar certo, exceto por um detalhe: tinha data para terminar. Foi como se em um dia eu estivesse com as pernas bambas e o coração acelerado por causa de conhecer ele e no dia seguinte as mesmas pernas também estavam bambas e o coração acelerado pela angústia de dizer adeus.
Acho que foi toda a confusão com as pernas e o coração que me fez soltar um: “A gente se vê!”... e só. Durante três semanas nós partilhamos um milhão de histórias de nós mesmos e construímos uma história juntos, uma história cheia de promessas que não deveria acabar assim. Mas nós sabíamos desde o início, então o que mais eu poderia fazer? Eu pensei que não dizer nada seria o melhor, por isso deixei que ele entrasse no carro e se fosse sem levar nenhuma palavra que pudesse indicar que eu não queria aquilo... Afinal, assim seria mais fácil.
Quase pirei os primeiros dias, tinha uma sensação de ter perdido algo irrecuperável. Ficava martelando na minha cabeça o meu “A gente se vê!” imaginando se alguém poderia ter sido mais idiota. Depois de duas semanas começamos a falar pelo skype e eu comecei a alimentar uma esperança de que aquela frase não tinha sido de toda mal, ao final.
Foi depois de uma das primeiras longas conversas que tivemos no skype que eu ouvi “The Story” de novo e ela parecia ser simplesmente para mim. Era como se eu ouvisse nas entrelinhas dos versos “eu conheço seu segredo, não é isso que você gostaria de ter dito?”, e meu coração gritando um “sim! Sim!”; tudo muito absurdo mas libertador. Cada linha da letra dessa música é para mim, eu pensava. Então eu decidi que definitivamente, por mais louco que pudesse ser, eu compraria uma passagem de avião e passaria 30 dias na Suécia.
É: ele é um sueco aventureiro que foi parar sem querer em uma cidade bem pequena do Brasil, banhada pelo mar de soja que é tão típico da região oeste do Paraná. E lá estava eu levando uma vida bem tranquila e sossegada como assistente social de prefeitura, até o dia em que disse para uma amiga no ginásio de esportes: “Sabe aquele cara? Ele é da Suécia. Dizem que ele fala português e eu acho que seria uma boa se eu ajudasse ele com a ‘língua’”.
Não sei se teria feito isso se naquele dia eu soubesse que quatro meses depois um e-mail com o título “Compreeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiii!!!!!” estaria saindo da minha conta de e-mail tendo como anexo a cópia do bilhete de viagem. Isto foi um tipo de “agora é pra valer”: em 28 de junho eu voaria pela primeira vez na minha vida, uma viagem para outro continente, para o outro lado do mundo – quase 16 horas no avião e mais 7 esperando em aeroportos... Para quem tinha saído do Paraná umas poucas vezes na vida era pura insanidade.
Foram sete meses até nos reencontrarmos, sete meses marcados por ansiedade, impaciência, insegurança, “The Story” e uma santa loucura. Uma loucura movida por lembranças fantásticas – de um amor de verão; pela certeza de que ele me conhecia como ninguém apesar do curto tempo em que estivemos juntos e pela necessidade que eu tinha de dizer para ele: “aquelas semanas maravilhosas não eram uma fantasia, elas são uma verdade porque eu fui feita para você”.
Em todo o tempo em que estivemos juntos no Brasil nunca dissemos a bendita frase (eu amo você). Vivemos o sentimento intensamente sem jamais mencioná-lo. Através dos e-mails e no skype também usamos uma série de termos como você é importante para mim, eu sinto muito a sua falta, adoro quando você ri desse jeito ou todo aquele arsenal tão típico de comédia romântica... Então em um daquelas conversas no skype eu percebi que havia entre nós uma série de mal entendidos por causa da língua. Me deu uma espécie de pânico: eu estava vivendo no país das maravilhas, mas e ele? Passagem comprada, férias arranjadas, toda aquela preparação... podia acontecer, obviamente, que depois de termos mais 30 dias juntos a gente só e simplesmente dizesse “A gente se vê” (de novo!), mas e se o lance fosse um não reconhecimento já no aeroporto?
You see the smile that's on my
mouth
Is hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess…
Quando faltava um mês para eu embarcar resolvi falar sobre isso. Bla bla bla, mudamos muito, eu disse, quem sabe você já tem uma imagem diferente de mim e quando eu chegar aí não serei aquela pessoa que você tinha na lembrança; afinal, a lembrança é subjetiva e cada um constrói suas lembranças de uma forma única. Façamos o seguinte, ele sugeriu, vamos escrever um texto contando o que aconteceu quando nos conhecemos, quando você chegar aqui vamos trocar os textos... assim vamos descobrir quão longe ou perto estivemos.Is hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess…
Foi um boa ideia, me deu um gás de coragem. A Brandi Carlile me ajudou a escrever as minhas lembranças, “a história”. Meus pais foram comigo ao aeroporto, e depois eu passei quase que 24h dividida entre a euforia e a dúvida. E se o pessoal do aeroporto de Amsterdã me mandar embora? E se eu perder a conexão? E se a gente não sentir mais o mesmo clima? Sete meses é muito tempo, mas a viagem passou rápido demais e então lá estava eu ao lado da esteira de bagagem, esperando a minha mala aparecer. É agora, pensei, que vou descobrir se eu sonhei essa história sozinha.
“I climbed across the mountain tops/ Swam all across the ocean blue/ I crossed all the lines and I broke all the rules/ But baby I broke them all for you/ Because even when I was flat broke/ You made me feel like a million bucks…”
... Meu coração tava me deixando surda quando eu sai no terminal ainda mais porque eu vi ele sorrindo com um buque de rosas na mão que foi esmagado no meio de um abraço e um beijo. Caraca! Eu quase não podia acreditar: rosas??? e ele tinha me preparado um jantar a luz de velas, seguido de morangos e vinho.
Certa noite ele me contou que havia me preparado mais uma surpresa: uma viagem de carro até a França. Nesse dia eu li para ele “a história”, a nossa história que eu havia escrito. Usei o fim do texto para explicar como eu havia me sentido mal pelo “A gente se vê” do dia da nossa despedida e que o queria mesmo dizer era... “All of these lines across my face/ Tell you the story of who I am/ So many stories of where I've been/ And how I got to where I am/ But these stories don't mean anything/ When you've got no one to tell them to/ It's true... I was made for you”. Quando estivemos na França ele leu a versão dele da nossa história para mim, mas como estava em sueco ele me daria em outro dia. Eu voltei para o Brasil sem a “história dele” para mim, e acabei mesmo por esquecer que ele não havia deixado a versão dele comigo mesmo porque aquele mês de verão tinha sido um verdadeiro sonho, espantando qualquer sombra de em relação a nossa história. Tanto que eu mudei para a Suécia.
Numa noite de novembro no ano passado – na data em que celebrávamos dois anos que havíamos nos encontrado – ele me perguntou se eu mesma não gostaria de ler “a história” já que agora eu podia entender sueco. Eu respondi que eu gostaria que ele lesse para mim em sueco, porque seria mais emocionante ouvir a narrativa na voz dele... Eu ri muito recordando uma série de coisas tão engraçadas e gostosas que marcaram aquelas três primeiras semanas da nossa história, e meu pensamento estava voando longe até que ao fim ele disse: Vill du gifta sig med mig? Que significa: você quer se casar comigo?
É claro que eu não entendi nada, mas quando ele se ajoelhou na minha frente e mostrou a aliança não havia mais necessidade nenhuma de palavras!!! E pensar que ele já havia escrito tudo durante aqueles sete meses em que estivemos separados – inclusive a última frase – aqueles meses em que eu ouvia sem parar “The Story” esperando o momento de dizer para ele: eu fui feita para você...
Ele já tinha a resposta: eu sei, quer ficar comigo para sempre?"
Comentários
Nossa, este concurso tá bombando!
Andei lendo os textos e achei todos fofos e muito bem escritos, como este daqui que me deixou até emocionada.
Adoro Love Story! hehe
Vou até lá no blog da moça conhecê-la melhor depois do que escreveu por aqui.
Acho que vou entrar nessa, mas não tem nada de love pra contar, pelo contrário, é coisa engraçada. Pode?
Veja o email que vou te mandar, ok.
bjs cariocas
Historinha de amor com final feliz. Que fofura vcs dois!
vou lá conhece-la no blog.
Bjs pra vcs dois. E pra vc, Sonia