("Os verdes campos da minha terra", Agnaldo Timóteo)
Nosso concurso ("Uma música, mil lembranças") está quase chegando ao fim, mas ainda há tempo para que você envie sua história e sua música. Eu mesma penso todos os dias em uma nova música cheia de mil lembranças sobre a qual eu escreveria para concorrer, mas acho que não tem graça eu concorrer num concurso meu para tentar ganhar uma tela minha. Tem? A sensação é que eu poderia falar sobre minha vida toda a partir de músicas. Sinto minha vida como uma imensa trilha sonora.
Vocês não sentem o mesmo? Estão com medo de participar? Não sintam! Inspirem-se no exemplo de mulheres como Irene!
A Irene (cujo sobrenome e os diversos posts onde foi tema já devem sugerir alguma coisa) me disse que, apesar de não ser nem um pouco fã de Agnaldo Timóteo, esta música e as lembranças que dela advém, não saíram da cabeça dela, enquanto pensava um texto para o concurso.
Só para que conste: eu adoro! É brega! É hor-rível! Ele é uma personalidade terrível, mas eu adoro, porque exatamente me faz lembrar tannnnto minha infância... eu, meus irmãos e meus pais indo de Variante bege, Brasília verde abacate para a colônia de férias do Sindicato dos Metalúrgicos, em Caraguatatuba e Ubachuva, uma vez por ano e ouvindo Agnaldo o caminho inteiro...
O título da música já meio que diz tudo. A Irene, quem eu conheço há uns... quinze anos (uau!) e de quem como a comida e sobremesas muito boas quase todo fim de semana, já esteve aqui "Em busca do tempo perdido". A Irene é assim, cheia das lembranças. Respira lembranças! E entre estas, ela tem lembranças de sua terra, de uma época vivida com intensidade e a qual, ela sabe, a moldou a ser o que é hoje...
Inspirem-se em Irene deixem as recordações virem à tona, mesmo se não são as que você mais desejaria ter! Reconhecer o que se sente é também caminhar para o novo! Recordar é bom não para ser apenas saudosista e viver do passado, mas para às vezes conseguir fechar um ciclo. Reconhecer que o passado tem seu lugar, mas o passado nunca mais será presente. Eu acho que faz um bem danado! É sim gente! Não como lamento, mas como reconhecimento de que a memória está presente em nós em cada suspiro, em cada gesto, em cada célula do nosso corpo! A memória somos nós!
Ótima sexta para vocês! Obrigada Irene!
Os verdes anos da minha infância
"Uma casa simples e humilde na beira da estrada de terra batida, terra vermelha, muito pó. Animais passeando de lá pra cá. Meninos e meninas de pés avermelhados correndo livremente. O sol quente, um convite para brincadeiras, para o andar no cafezal verdinho e florido, subir nas goiabeiras, laranjeiras, mangueiras, pessegueiros, mamoeiros e saborear ali mesmo seus frutos. Brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, rodas, escorregar na montanha de palha de arroz, correr pelos campos de bicicleta ou a cavalo. Nadar nos pequenos açudes. A noite, rodinhas de crianças para ouvir histórias de assombração inventadas e contadas pelos mais velhos. Depois ir dormir morrendo de medo do escuro.
O horário da escola era um só para todos e acordar muito cedo fazia parte da vida da criançada.
Neste cenário passei minha infância.
No lugarejo não tinha o ginásio. Depois de muita choradeira, meu pai deixou que eu continuasse os estudos na cidade, onde eu ficava de segunda à sexta e voltava para casa nos finais de semana.
Apesar de tanta coisa bonita, foi uma época muito difícil para mim.
Nos sábados e domingos a escola se transformava em um salão de baile. As carteiras eram encostadas e a música tocada por instrumentos musicais como a sanfona, violão e pandeiro que animavam os pares dançantes.
Foi num desses bailes que conheci meu primeiro namorado. Uma paixão, um amor puro e verdadeiro que meu pai, um italiano ciumento e brigão, de uma maneira violenta, dando um soco na cara do "meu príncipe encantado" colocou um ponto final no romance. Um romance que foi parar na justiça.
Sofri e chorei muito.
O tempo passou. Ele se casou. Eu me formei muito nova e como professora voltei às fazendas para dar aulas.
Numa charrete, puxada por cavalos, chegava-se numa pequena escola, muito bem cuidada pelos donos suiços, e que ficava bem no centro e um enorme campo verdejante que de manhã estava sempre molhado pelos orvalhos da noite.
No início dos anos 70 meu pai resolveu mudar-se para São Paulo. E assim eu deixava para trás tudo de mim.
Nessa época a música que fazia o maior sucesso era "Os verdes campos da minha terra", cantada por Agnaldo Timóteo.
Para mim era um verdadeiro passeio da imaginação.
Me casei com o Caetano, um conhecido já dos velhos tempos e a quem eu chamo de Pê. Foi ele quem veio preencher todo o espaço e vazio ficado em meu coração. Ele é e sempre será minha outra metade. Um fiel companheiro de todas as horas com quem tive meus dois filhos amados: Renato e Adriana. Dois netos: Ângelo e Marina. Uma preferida nora, Sônia.
Tenho uma irmã casada que até hoje mora no lugarejo.
Durante muitos anos seguidos lá eu estava de volta.
Mas tudo que ali vivi, deixou de ser real.
Eu mudei, tudo mudou! Foi um sonho!
É isso! Eu sonhei!"
Comentários
Essa proposta musical é ótima.
Xeros
Lindo texto, lindas memórias e mais lindo ainda saber que sempre há lugar pros nossos sonhos. Porque se ele não acontecer como esperamos, vem logo o destino nos trazendo boas e felizes surpresas!
Parabéns por ter vivido tudo isso e ter criado uma família maravilhosa. Me sinto orgulhosa por ser fruto dela.
Com amor,
Dri
Esta música lembrou um tempo em que na casa de uma tia tocava sempre A.Timóteo e eu odiaaaaaaaava. só queria saber de Beatles. hehe
bjs cariocas
Mas menina,que pai bravo heim? rsrs
Um abraco Irene, tbm por Pê.
Timoteo tbm era mt ouvido la em casa, mamae ouvia tudo qt era brega :-)