Pular para o conteúdo principal

Diário num Exílio (Radioativo): dia 4



Hormônios à flor da pele. Emoções jorrando escada abaixo. O corpo tenta entender o terrível e (não seria bom?) impacto da volta dos hormônios dentro dele. Cansaço, inchaço, de saco na lua! Chora. Se arrasta pelas ruas para comprar um lanche. Os hormônios é que estão fazendo isso comigo? Come feito vira num cantinho. Facebook. Volta. Deita. Dorme muito. Acorda. Facebook. Tanta gente me faz companhia. Fala com um e outro. Facebook. Por sorte existe este mundo virtual. Inteligente o loiro chato de cabelos cacheados! Chat. Chateia. Chato. O dia não passa. Choraminga. Quero meus dois! Quero meus três! Facebook. Fala. Ri. Algum telefonema. Conversas boas. Escreve. Pensa. Blog a todo vapor radioativo. Facebook. Facebook. Facebook. É só o que me resta? Saudades de casa. Xororôs. Aguarda por visita e  encomendas na calçada da Angélica. As pessoas passam. Apressadas. A noite chega. Vão pra onde? Voltam pra onde? Pensam o quê? Saint-Exupéry tinha razão. Não sabem de onde vêm. Não fazem idéia pra onde vão! Os carros buzinam. Os ônibus lotados. Os passos rápidos. Sou Wim Wenders observando o mundo. Sou uma cineasta atenciosa. Por este prisma, o mundo é lindo. Ah! A beleza do segundo! Ao mesmo tempo não estou no mundo. Sentada ao longe, só, na calçada. Ninguém sabe de mim. Só quem não está no mundo consegue observá-lo. Uma, duas, dez fotos. Observo. Um filme. Uma esquina. Ninguém me vê. Não sabem nem deles mesmos? Ai meu Deus! Estou tão fora do mundo. Conseguirei eu voltar a habitá-lo? Como se faz para ir pro mundo real? De novo! Chegam provas de alunos. Não consigo! Ganha jantar entregue à distância pelo amor da vida. Ganha chocolates especiais. Se delicia. O amor é magnífico e tem gosto de bolo de chocolate molhadinho da Jean et Marie. Distância. Retorno ao exílio. Facebook. Xororô. Facebook. Êpa! Não entendo! Não consigo sair. Quem sabe de mim? O Facebook! Quem fala comigo? O Facebook. O Facebook me engoliu? Ele me engoliu? Eu só existo no Facebook! Eu sabia daquele loiro horroroso! Eu sabia que não poderia confiar nele! Como saio daqui agora? Fiquei tanto tempo que não sei mais de mim aqui fora. Existia lá. Existi tanto. Agora não existo mais fora? Quem sabe de mim aqui fora? Choro. Vazio. Dorme para a sexta chegar logo e voltar pra casa! O dia 04 foi o dia de fato triste do exílio. Ainda bem que está quase, quase no fim. E finalmente... o dia chega!

 
 (Fim de tarde, Avenida Angélica com Minhocão, april de 2012, 4o. dia do exílio, foto de Somnia Carvalho)
 
(Início de noite, Avenida Angélica com Minhocão, april de 2012, 4o. dia do exílio, foto de Somnia Carvalho)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Azulejos em carne viva? O que você vê na obra de Adriana Varejão?

( "Azulejaria verde em carne viva" , Adriana Varejão, 2000) Gente querida, Domingão a noite e tô no pique para começar a semana! Meu grande mural preto, pintado na parede do escritório e onde escrevo com giz as tarefas semanais, já está limpinho, com a maior parte "ticada" e apagada. Estou anotando aqui o que preciso e gostaria de fazer até o fim desta semana e, entre elas, está finalizar a nossa apreciação da obra de Adriana Varejão , iniciada há dias atrás. Como podem ver eu não consegui cumprir o prazo que me dei para divulgação do post final, mas abri mão de me culpar e vou aproveitar para pensar mais na obra com vocês. Aproveito para convidar quem mora em São Paulo a visitar a exposição da artista, em cartaz no   MAM , Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera, com entrada gratuita e aberta ao público até 16 de dezembro deste ano. ("Parede com incisões a La Fontana", Adriana Varejão, 2011) Para "apimentar" a dis...

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que ...

Na Suécia também não tem... bebê com brinco na orelha

("Não tem brincos: é menino ou menina?", criança sueca posa para grife Polarn O. Pyret ) Nove em cada dez vezes que alguém no Brasil tenta ser simpático com uma grávida ou alguém com um bebê de colo a pergunta é sobre o gênero da criança. Menino ou menina? Já repararam? Embora essa pareça ser a única pergunta possível para tanta gente, a verdade é que ela diz muito sobre nosso modo de ser e pensar e a importância que damos ao sexo e a escolha sexual de uma pessoa. Tomemos outra situação: quando alguém olha para um bebê menino nas ruas no Brasil você acredita que haja alguma expectativa quanto a algum sinal, uma marca, deixando claro e evidente se tratar de um menino? E quando encontra uma menina? Bom, fato é que nossa menina Marina agora tem 8 meses e eu simplesmente não tenho condições de contar as dezenas de vezes em que fui parada nas ruas em São Paulo por alguém perguntando se tratar de uma menina ou de um menino.  Até aí nenhum problema! Bebês no começo não ...