Pular para o conteúdo principal

Nossos universos paralelos

("Os amantes", René Magritte)

Vi esses dias apenas a chamada para um programa do Discovery Channel, Universos Paralelos, daí o título "super original" do meu post!

Na verdade venho pensando em outro tipo de universo paralelo. Em como nossas vidas, a minha, talvez a de vocês, nossos amigos e gente bem conhecida nossa segue tão solidamente por diferentes caminhos, quase sem se cruzar de fato.

Pensei isso quando li algumas amigas, colegas questionando atitude de alguns estudantes uspianos nas últimas semanas, nas quais alguns alunos protestam contra a presença de policias no campus. Como eles poderão achar trabalho ou coisa parecida com atitudes assim?, perguntavam-se muitos em seus facebooks da vida. Coisas de vagabundos!, repetiam outros. Ao mesmo tempo, amigas e colegas mais liberados defendiam ardentemente a liberdade total dos estudantes em seu campus porque, claro, A polícia é sempre assim! 

Uns poucos com posições menos xiitas em vários sentidos, ao mesmo tempo em que amigos intelectuais (eu até tentei entrar numa delas!) discutiam bem intelectualmente os porquês da mídia tratar assim ou assado o assunto. Enquanto uma amiga super-mega-ultra zen publicava dezenas de vídeos com orações, mantras etc tentando "captar" e ajudar alguém a perceber o realmente importante da vida...

Eu gosto de conversar, e muito, além disso tenho amigos e amigas muito queridos. A queixa deles sobre diferenciados problemas em suas vidas me mostram algo mais ou menos como a tela de Magrite: queremos ser amantes, amigos perfeitos, mas estamos fechados ao outro. E não ver o outro e não se questionar é também não ver a si mesmo.

Talvez a gente fique sempre muito mais chata e pessimista quando no fundo está centrada no próprio umbigo e eu tenho estado, nas últimas semanas, ou meses, um tanto centrada no meu umbigo, ou devo dizer, na minha tireóide.

Descobri, por conta de exames e dores na coluna, imensos nódulos na tireóide. Daí também que tenho hipertiroidismo (aquele com o qual o corpo produz excesso de hormônios) e que tá tá tá... uma chatice de explicações e probleminhas... mas que resultam na necessidade da retirada da tireóide.

Eu sei. É algo simples, tranquilo tá tá tá... Tô fazendo todos os setecentos e cinquenta e três exames durante todos os três únicos dias em que tenho a Claudete para ajudar na faxina e tudo vai ficar bem! Espero fazer logo a tal cirurgia... mas como eu ia dizendo, nossos universos paralelos...

Quando olho ao lado (e também para dentro) é como se a gente vivesse tão enfiado nas antigas crenças e ações e nunca mudasse! E a gente parece fingir ouvir o outro e fingir que tem algo novo para dizer, mas a gente diz o que sempre disse! Entende? E diz com uma convicção!

Como poderemos mudar o mundo se nós estamos todos fechados nos nossos grupinhos e umbiguinhos...   Um sapato novo, um namorado novo, um emprego novo, um presidente novo, mas a gente não se comunica! E vivam as nossas necessidades pessoais! E salvem os nossos pontos de vista!

Eu sei que há brechas (pequenas!) no sistema! Eu sei que há trocas acontecendo o tempo todo (assim como eu tive há pouco visitando de novo blogs que adoro e não consigo tempo para rever), mas me parece tão pouco!

Parecemos olhar sempre de um pedestal: "Ah! os conservadores!" "Ah! as feministas!" "Ah! os maconheiros!" "Ah! os corruptos!" "Esses materialistas!" e "Esses viajantes da maionese!" Isso sem contar com nossa obrigação santa de todos os dias de manter o pão! E corre-se para lá, depois corre-se para cá! Quando é preciso mais, dá-lhe do mesmo!

Caminhamos muito educadamente em nossos próprios universos e eles caminham muito bem, obrigada, paralelamente a tantas outras crenças, idéias e atitudes. Mudar? Claro que não! Se estamos todos nós tão certos! Os outros é que mudem!

O problema é que não estamos de fato atentos. Não ouvimos. Não dialogamos. Então seguimos a vida. E seguimos aqueles cujas respostas sejam parecidas com aquelas que desejamos ouvir. E assim caminha, em universos bem paralelos, a maior parte da humanidade.

Comentários

Lúcia Soares disse…
Sônia, de outra maneira acabamos falando as mesmas coisas, temos as mesmas contestações. (escrevi no EmQuantos, dia 03/11.
Sinto muito pelo seu problema de saúde que, felizmente, é simples, mas não deixa de ser extenuante lidar com tudo. Tenho hipotireoidismo há anos e sei o quanto essa danadinha da tireoide bagunça nosso metabolismo. Mas assim que tiver tudo concluído, vc ficará bem.
Se precisar, tô aqui!
Beijo!

/
Anônimo disse…
Sônia, já havia comentado uma vez aqui, a respeito do queijo Minas padrão. Eu descobri seis módulos enormes na tireoide , que independente da biópicia teria que operar devido ao tamanho, fiquei com muito medo, pois sou fumante à quarenta e dois anos. Além do risco da cirurgia ,tinha perigo de ficar muda, e podia dar um problema na contagem de cálcio.Deu tudo certo, fiquei super bem,e acabei parando de fumar, hoje completei setenta dias sem fumar e cinco meses de cirurgia.
Vai dar tudo certo, pode confiar.
Jane
Anônimo disse…
Biópsia
Jane
Anônimo disse…
Estou apanhando do iPad, ele tem vontade própria.
Desculpe os diversos erros.
Jane
Somnia Carvalho disse…
oi Lucinha! vou conferir seu texto por la! claro!

obrigada!!!

oi Jane, me lembro de voce sim!
isso mesmo! encontrei um monte de gente que teve o mesmo e esta muito bem! acho que e normal no inicio ficarmos apreensivos nao? no comeco eu nao entendi direito, mas pesquisando, conversando entendi.

o mais chato tem sido mesmo ter que dispender tanto tempo fazendo exames para a cirugia, porque meu tempo e tao preciosinho... rs
Beth/Lilás disse…
Soníssima!
Eu sei que é um pé no saco tudo isso, principalmente você com estes dois lindos pimpolhos para tocar, mas encara essa, faça a retirada e você vai ver que dará tudo certo.
Vamoquevamu amiguinha!

beijos mil, cariocas
Beth/Lilás disse…
Soníssima!
Eu sei que é um pé no saco tudo isso, principalmente você com estes dois lindos pimpolhos para tocar, mas encara essa, faça a retirada e você vai ver que dará tudo certo.
Vamoquevamu amiguinha!

beijos mil, cariocas
Zarastro disse…
Isn't It A Pity(George Harrison)

Isn't it a pity
Now, isn't it a shame
How we break each other's hearts
And cause each other pain
How we take each other's love
Without thinking anymore
Forgetting to give back
Isn't it a pity
Some things take so long
But how do I explain
When not too many people
Can see we're all the same
And because of all their tears
Their eyes can't hope to see
The beauty that surrounds them
Isn't it a pity
Isn't it a pity
Isn't is a shame
How we break each other's hearts
And cause each other pain
How we take each other's love
Without thinking anymore
Forgetting to give back
Isn't it a pity
Forgetting to give back
Isn't it a pity
Forgetting to give back
Now, isn't it a pity

Postagens mais visitadas deste blog

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come...

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest...

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que ...