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Os desafios nossos de cada dia


(Somnia Carvalho, "Perder a ternura, jamais", 2005)


Há desafios e desafios na vida. Desafios muito grandes. Desafios mais amenos. Desafios muito esperados. Desafios que aparecem de última hora. Independente de qual seja, qualquer desafio torna-se prioridade quando a hora dele chega.

Meu último desafio tem se concentrado bastante numa figura peguenina e cabeluda. Na verdade, ele me lança desafios novos a cada minuto. Mas na semana passada eu me peguei surpreendentemente feliz ao conseguir uma coisa que eu mesma acharia ridícula há algum tempo atrás. Depois de semanas tentando passear ou sair com Angelito de carrinho sem que ele me deixasse embarassada na frente das suecas com seus filhos comportadinhos e dorminhocos, consegui que ele se comportasse, gostasse e me ajudasse a fazer inveja pras mães que têm bebês inquietos.

Uns dias depois falei com duas queridíssimas amigas que tiveram filhos recentemente também. Uma mora no Brasil e é amiga dos tempos da faculdade, a outra nos Estados Unidos e é minha amiga de infância. As duas falavam da dificuldade de deixar seus bebês na creche ou na escolinha. As duas diziam que haviam chorado, chorado ao ter que encarar esta nova empreitada. E o desafio dessas duas já passou por coisas nada simples como passar num bom vestibular, se formar num curso difícil, trabalhar em grandes companhias, mudar de país, aprender outra língua etc. Assim como houve um tempo em que meu desafio era dar uma aula que agradasse uma centena de alunos dentro de uma sala de cursinho. Assim como houve tempos em que tudo que eu pensava era como escrever um trabalho decente ou conseguir uma bolsa de mestrado ou doutorado ou passar num concurso ou ganhar uns trocados para comprar uns livros ou ainda perder uns quilos na academia.

A verdade, me parece, é que não tem nada na vida da gente que seja fácil, facinho de fazer ou conseguir. Pra tudo é preciso uma entrega. Pra tudo é necessário algum tipo de mudança de nossa parte, de renúncia. Renunciar ao chocolate para perder a barriga é mais fácil do que renunciar o descanso para estudar para a prova? Depende. Renunciar a horas de sono para escrever uma tese de doutorado ou gerenciar uma empresa é mais difícil do que dar conta de um bebê chorando ou deixá-lo na escolinha com desconhecidos? A resposta é não, se o desafio do momento é o bebê e não o trabalho e vice-versa.

Não há desafio menor.
Não há desafio que não exija doação.
Não há desafio que vá embora sem deixar alguma transformação e crescimento.
Perceber, entretanto, que eles são apenas mais um dos tantos que ainda encararemos em nossas vidas
NÃO TEM PREÇO.

(A tela que coloquei acima se chama "Perder a ternura, jamais" e foi inspirada em duas queridas amigas que tiveram câncer de mama, se curaram e continuaram enfrentando outros tantos desafios na vida com a mesma força e ternura de antes. Tive a alegria de ter a tela comprada por outra amiga, Daniela Mendonça).

Comentários

Unknown disse…
Sonia,diante do já vivido com o Ãngelo, qual vc acha ter sido o maior desafio que ele trouxe?
A resposta é só para vc mesma.
Beijos saudosos
Anônimo disse…
Hey, thanks for the mentioned...

Apesar de todos esses desafios ja vividos ou ainda por serem vividos, o importante e continuarmos a serem as mesmas pessoas la da boa e velha "vila"...Grandes beijos, e muitas saudades...
Sandra
Anônimo disse…
Vc já está craque em vencer desafios e, o melhor de tudo, sem perder a sua ternura. Que venham os próximos.

Da tia, que enfrenta o desafio de viver longe da grande amiga e do primeiro e mais lindo sobrinho.

Bjs,

Dri.

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