("Yamore", Salif Keita e Cesaria Evora)
“Eu tenho fé, sim eu tenho fé
Que iremos viver sem medo e confiar numa era mais risonha.
O olhar de nossas crianças irá voltar a brilhar de inocência.
E entre suas gritarias temporal talvez se acalma.
Na brandura e calmaria, nossa amor irá descansar
Dessa luta e resistência, para sobreviver nesse tormento”...
Salif Keita e Cesaria Évora
(Tradução: Yowlibrasil)
Minha sexta-feira começou embalada pela voz marcante, inesquecível e deliciosa da cabo verdiana Cesaria Évora e do africano Salif Keita...
Curioso como "sem querer" eu tenha pensado em Cesaria hoje... Curioso porque ela me lembra gente que já passou pela minha vida... umas de forma demorada como a Irene Carvalho, uma portuguesa que conheci no Brasil e me apresentou tanto a Cesaria quanto tanta música maravilhosa que marcou minha história... Outras como a sorridente artista Edith Borges, outra cabo verdiana que conheci em Malmö, e me lembre tantas outras por conta dessa força, como a Daniela dos Santos Silva, que conheci a partir de um concurso da Lola. Até hoje eu e a Dani nos sabemos uma da outra apenas virtualmente.
São tantas as causas que talvez tenham me levado a ouvir novamente Cesaria Évora hoje...
Ontem dei de cara com muitos artigos, manifestações etc sobre os protestos contra a vinda dos médicos cubanos... pensei tanto nesta nossa forma equivocada de ver o mundo e viver no mundo...
Fechei o pagamento das férias da Claudete quem trabalha aqui em casa três vezes por semana e nunca quer tirar férias porque "não tem mesmo o que fazer e para onde viajar...".
Eu a agradeci e normalmente a gente chora um pouco escondidas no ombro uma da outra... porque há uma cumplicidade na forma carinhosa como ela cuida dos meus filhos e do meu espaço... até de mim. Eu tento reconhecê-la financeiramente ou presentes, sei que ela é muito grata, mas é algo que eu sei nunca será pago. Essa dedicação... esse amor.
Talvez ainda eu tenha pensado em coisas assim porque há algumas semanas estou mergulhada novamente em Hegel, matéria que tenho estudado com alunos da terceira série. Hegel, um dos maiores e mais importantes filósofos da humanidade, era alemão, e cria uma teoria a qual vai no sentido de explicar como não podemos pensar a Razão, ou seja, nosso pensamento sem a História. Filosofia, reflexão, e História, ação, portanto, não podem ser pensadas separadas.
Neste caso, dizendo em linhas ridicularmente gerais, Hegel pensa também que há uma razão na história. Não se trata de destino, de algo pronto, mas de que nós, enquanto seres individuais, com nossas consciências individuais, estamos conectados a uma consciência coletiva e é nela onde construímos a nossa história e a história de toda a humanidade. Somos partes de um todo, somos membros entrelaçados pela história que nos une e é esta reflexão que fazemos diariamente sobre nossas ações no tempo, as contradições as quais chegamos, percebendo os caminhos corretos e equivocados tomados que é responsável pelo curso da história.
Pensando assim eu, você e a Irene Carvalho, a Edith, Daniela, Salif e Cesaria somos todas e todos partes de uma mesma totalidade. Somos representantes da humanidade de hoje, de toda humanidade que um dia por aqui já passou, porque as realizações delas nos envolvem da mesma forma e representamos a potência do que será humanidade.
Sozinhas e sozinhos não somos mais que abstração, porque todo o sentido de nosso ser aí (viver de fato nesta vida) é participar de uma forma completa e cada vez mais consciente deste coletividade. Ai! não é lindo?!
Então, se eu normalmente olho para protestinhos como as da semana passada de alguns que se dizem doutores, eu ainda mais tenho olhado para isso com descrédito, com tristeza, mas ao mesmo tempo reconhecendo como estamos distantes ainda desta consciência filosófica, como estamos de fato - se pensarmos na ideia hegeliana - de ser esta unidade. Somos ainda tão pobrezinhos! Estamos ainda tão perdidos, enquanto povo, enquanto nação, enquanto humanidade.
Ach que por conta disso ver tanta bobageira nas redes sociais, tanta volúpia e tanta superficialidade ou tão pouca reflexão me dê vontade de me voltar mais à filosofia e à música...
Ao mesmo tempo é bonito ver como há aqui e ali essas manifestações do Espírito Absoluto (para Hegel, a verdade), por exemplo, em gestos isolados de gente boa e bonita (bonita não no sentido estético) ou em ações de grupos conscientes dessa irmandade. Claro que esta é minha visãozinha limitadíssima de Hegel (espero não equivocada!) e do que consegui, ao longo destes anos, entender de sua filosofia.
É isso... provavelmente foram estas coisinhas e tantas outra mais que me fizeram querer partilhar esta canção com vocês hoje! Eu fico por aqui, limpando, corrigindo
t´aime mi amore...!"
E tenham uma ótima, reflexiva e ativa sexta-feira!
...
Yamore
Cesaria Evora e Salif Keita.
Je t'aime mi amoré menebêff fie Nê comf fop ach ari
Ene le arabylyla to much Xurin né bi feu J t'aim
Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar
Na brandura y calmaria
Nosso amor ta vins cansando
De ser luta e resitencia
Pa sobreviver nas tormenta
Na brandura y calmaria
Nosso amor ta vins cansando
De ser luta e resitencia
Pa sobreviver nas tormenta
Je t'aime mi amoré menebêff fie Boi nhat zefiu, ermãos
Ene le arabylyla to much Boi etud nhiafieu , la paz
Xeritava pá, beru kuyê mobiliko yoi nhÊ
Ahaha rilê ene La munuku mo sô
In deburu ieu kordaine
Sank é noite a namo a cantor
Ê enela mulnuku mo sol
Yo sakenem mo sol
Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar.
Comentários
Li um livro chamado 'A Profecia Celestina', que tirando os exageros d ficção, falava exatamente sobre esta ideia da coletividade e da maneira como moldamos a historia e tudo que vivemos de certa forma é parte do que construímos com a consciência coletiva.
Um beijo
Sobre a Claudete, realmente não há dinheiro que pague a ajuda que ela dá, independentemente de se pensar que é um trabalho "menor". Quando é, na verdade, de uma necessidade enorme, visto que somos elos da tal corrente humana.
O fato é que a vida dá muitas voltas e em cada uma delas os encontros se dão e podem ser permanentes ou não, fortuitos ou não.
A música é linda, como sempre.
Beijo, Somnia Sônia, querida.