Pular para o conteúdo principal

O que se perde

(Sonho, Somnia Carvalho, 2004, tela feita para Luciana Dias)


O que se perde

"....o que é que se perde num rasgo de chuva, Marinho?!... não sei... mas me pergunto curiosa e talvez você possa responder... o que é que fica na gota que se espatifa nos meus olhos quando um homem se comove do outro lado da linha, e eu, abestalhada, porque isso é tão raro, não sei o que fazer?!... o que é fica na gota, também salgada de saliva, da boca desse homem quando ele dói como vaga marinha em forma de poesia?!...eu não sei... mas ouço o que ele fala, como quando pela primeira vez ouvi o mar na concha de um caramujo... eu sou do sertão das gerais que não tem mar... só muito mais tarde fui saber da imensidão de água que as montanhas não me deixavam ver... eu primeiro imaginei o mar, Marinho, com os meus ouvidos de ver... e deve ser por isso que eu gosto tanto de poesia... e deve ser por isso que quando alguém me pergunta, como você ontem me perguntou, criatura em busca do criador, aonde ele está?!.. que eu imagino que talvez ele esteja no mar que está dentro da concha do caramujo que quando criança eu levava ao ouvido absurdamente encantada de tudo aquilo caber em algo tão pequeno... talvez esteja também na concha do meu ouvido agora quanto te ouço... não sei... talvez esteja em você... vá saber?!"


....

(Ângelo com a Lu, que já provou  que pode ser  uma "tia" exemplar: coruja, carinhosa e  cantarolante, Brasil, novembro de 2007)


O texto acima é de uma das minhas melhores amigas, a Lu Dias. 

A Luciana está entre as pessoas mais sensíveis, inteligentes, alegres e malucas que já tive o prazer de conhecer. Ela me mandou uma notícia esses dias de que está extremamente grávida e eu fiquei muito feliz e também curiosa para poder vê-la desempenhar este outro papel que a vida lhe deu, o de mãe. 

Essa notícia me fez pensar que as nossas perspectivas sempre podem se transformar, se a gente deixar espaço para a mudança.

Creio que agora ela terá material para escrever textos ainda mais bonitos e profundos, apesar de figurar, até pouco tempo, entre minhas amigas solteiras convictas. Ou quase... 

... talvez porque ela seja daquelas que não perde quase nada num rasgo de chuva...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que