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O velório do finado Zé Cedê

("O pianista", Somnia de Carvalho, 2004, acervo particular: Cindy Bataglia)


Ontem foi a morte de um querido e amado meu, o CD e o que eu posso dizer é que o funeral tem sido animado e à base de música muito boa.

O Renato, meu marido tecnologizado, já me dizia há alguns anos a mesma frase chatinha: "Sônia, pra que carregar esses cds para a outra casa? O CD morreu!". Ui, como eu detestava essa coisa dele, insistindo pra eu deixar meus cds velhinhos, de capas quebradas, onde eu coleciono gente que eu amo e que me acompanha todo santo dia.

Eu sou o tipo que não vive sem música. Eu tenho música especial pro café da manhã, como Madredeus, Fortuna e clássico barroco. Eu tenho música pro dia feliz, como Cake e músicas do mundo e seleciono a dedo música pros dias tristes, pra ajudar no chororô. Eu preciso de música especial pra trabalhar na pintura, normalmente as instrumentais e fortes. Um exemplo foi como o Concerto número 3 do Rachmaninov que eu já amava, mas que depois de ver o documentário Nelson Freire me ajudou, em 2004, a criar a tela do pianista que vocês vêem acima. E eu adoro música alegre e brega pros dias de faxina e dias de festa, como Sindey Magal e Genival Lacerda, como tocamos no fim de semana. Isso sem contar nas músicas infantis que eu ouço com meu Ângelão e danço rodando a baiana com ele aqui. 

E aí não pára mais. Eu ouço trilha sonora dos meus filmes prediletos e ouço música de qualquer canto do planeta, como as tradicionais da Ucrânia e Rússia, como algumas indianas e árabes. Acho que por isso fiquei horrorizada na aula de sueco esses dias, quando algumas colegas iraquianas disseram só ouvir música árabe.

Bom, a verdade é que eu nunca me imaginei sem meus cds, mesmo tendo o i-tunes e mesmo tendo o youtube e outros sites que eu conhecia.

Ontem, ao contrário, quando o anunciante do velório me mostrou o site Spotify (Clique aqui e acesse o mundo) eu soube que minha relação com meus antigos companheiros não seria mais a mesma.

O site é perfeito. Você pode selecionar música de qualquer canto do mundo. Ouvi Bjorn e ouvi Oswaldo Montenegro numa qualidade incrível. É possível acessar os álbuns dos cantores e fazer as buscas de formas diferentes. 

E, então, depois de fuçar e achar música da Dalida, do Cinema Paradiso, tanta coisa que eu adoro tudo ali tão facinho, tão bonito e tão prontinho só tocando nas minhas caixas eu perguntei ao senhor sabe tudo: "mas como assim? Não tô entendendo? É pirataria?" "Não", respondeu ele. "Mas, então, o que eles ganham com isso, eu nao entendo!?". Aí meu Renato me explicou que há algumas propagandas no meio, como se fosse uma rádio. Se você não quiser ouvi-las, você paga algo por mês. 

Eu ouvi e não me incomodou. Aqui, estão em sueco. Estou agora, por exemplo, ouvindo a trilha de "Le clan Pasquier", de Caroline Petit que é lindo e eu nem sequer conhecia. Cheguei até ali porque pesquisava sonatas do Chopin e acabei ouvindo de curiosa. 

Eu sei que por um lado é triste admitir que aquelas centenas de pacotinhos que você comprou com tanto carinho (eu nunca consegui comprar cd pirada nas ruas, porque sempre pensava no cantor) ou ganhou de gente amiga vão ficar ali, como se fossem um pequeno museusinho, mas pra mim é essa a relidade agora.

Se é chato admitir por um lado, por outro você verá um mundo novo se abrindo. Acredite! e o velório vai ser bom que é uma beleza!

Comentários

Nossa, eu tb adoro música e tb caço a dedo, uma para eu chorar nos dias tristes... que melancólico, não? hahaha
Adorei a dica!! E curta o velório, qnd bater saudade, bote o zé cedê, para rodar um pouquinho!!
bjks
Ju Moreira disse…
Sonia amore...acredita q tenho um post inacabado sobre o Spotify?? hahaha

Mais uma coisa q descubro termos em comum. A minha ligacao com a música é bem forte tb. ;)

xeroca
Luciana disse…
Somnia, que quadro lindo esse que você pintou. Parabéns pelo talento!
Fico triste com isso da morte dos cds, como sou meio antiquada, demoro a ceder um pouco a essas novidades sem fim da tecnologia, imagine abrir mão dos de vinil, e em tão pouco tempo os cds já estarem superados?!!!!
Tô acostumando ainda.
Também adoro música e pra variar não consegui usar o site de primeira, mas vou tentar de novo.
Valeu a dica!!!
Beijo
Beth/Lilás disse…
Chiii, acho que isso é um problema para nós mulheres! Abrir sites e caminhar por eles, mas vou tentar again.
Quanto às mortes dos CDs fico muito triste, pois já fiquei com os de vinil, agora mais esta perda é demais para o mio cuore!
Mas a vida tá correndo e a gente tem que ir junto, senão...!
bjs cariocas


(Parabéns! - lindo quadro)
Sergio disse…
Acho que vou ter que esperar mais um tempo para o velório dos meus cd's porque segundo o site este produto não está disponível no Canadá!!!! Mas vou deixar a dica na gaveta para um futuro que espero ser próximo.

Mari
Érica disse…
Não consigo matar meus CDs não, coitados. O que faço é jogar no computador e ouvir gravado dele, para não arranhar o CD.
Esse site não funciona para o Brasil no modo gratuito. Que raiva!
Mariel Stupp disse…
Em pensar que antes eu comprava um CD inteiro porque tinha uma musica que gostava (quando nao esperava com uma fita pronta pra gravar do radio!)...
Fiquei sabendo desse site pelo meu namorado mas acessando eu vejo que ainda nao està disponìvel no Brasil.
O lado positivo é nao precisar mais armazenar tanta musica na memòria do computador!!!
O negativo é ficar a merce do site caso se decida por confiar... aiaiai!
Mr.Jones disse…
Minha vida tem sempre um repertório de musicas e suas representações. Tanto que, em quase todas as minhas postagens, eu escolho uma musica que marcou algum acontecimento ou momento em minha vida, e edito um vídeo para acompanhar um texto.

Music and me.

abraços

P.S: o Reino do Mr.Jones é um fã do seu blog.
Somnia Carvalho disse…
Gente,

me desculpa se empolguei voces e deixei na mão!

eu sou má mesmo! so queria dar o gostinho e tirar!

E pensar que a grande chance de voces deixarem de ser esse pessoa junta pó perdeu se no ar!


Mr. Jones eu ja visitei seu reino algumas vezes e ainda preciso incluir o reino na lista de blogs!!!!

obrigada!

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