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Mostrando postagens de janeiro, 2009

O Brasil e alguns encontros transcendentais: "Carlos", o taxista musical

Entre o corre corre do penúltimo dia no Brasil, resolvi tomar um táxi entre o metrô Sumaré e minha casa. Estava sozinha. Ângelo havia ficado com a Vavá dele. O calor era imenso. Eu estava exausta e ansiosa por terminar tudo. Havia passado o dia andando de lá para cá, de cá pra lá na loucura de São Paulo e tudo que desejava era chegar em casa o mais rápido possível. O táxi era para mim apenas um meio para se chegar ao fim.  Quem o dirigia? Não pensei nisso. Eu havia tomado inúmeros táxis nas últimas semanas e nenhum deles, de longe, me fizeram lembrar "J ohn", o táxista inglês . Um ou outro era indiferente, estava a cuidar de sua vida como eu da minha. Um outro teve a coragem de dizer que não entendia porque nós mulheres resolvemos dirigir carros, já que a única coisa que deveríamos pilotar seria o fogão em casa. Esse um, que dirigia mal pra caramba e ia todo nervoso na direção, não mereceu nem mesmo uma palavra minha. Nem mesmo um olhar. Só o dinheiro que eu fui obrigada a lh

"se um dia eu voltar muito estranho..."

("O subúrbio do realengo, segundo o quadrinista francês Jano", in: Marcelo Coelho , Folha) O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela A Baía de Guanabara O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara: Pareceu-lhe uma boca banguela. E eu menos a conhecera mais a amara? Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela O que é uma coisa bela? (Caetano Veloso, O Estrangeiro) Tenho pensado bastante na idéia antropológica de que quando um indivíduo sai para viver fora do lugar onde nasceu, cresceu e viveu a maior parte de sua vida e aculturar-se em um território novo, ele acaba sofrendo um tipo de estranhamento .  Essa idéia não me deixou as primeiras semanas de férias aí no Brasil, embora essa tenha sido a terceira vez que volto, desde minha vinda há dois anos para a Suécia. Saindo de nossa realidade, aquela que se tornou normal, aceita e, muitas vezes, quase a única realidade possível, a gente leva

Dicas Mil: vida prática na Suécia: vacinação infantil

(Garotinho sendo atendido num Vårdcentral sueco ) Tentando dar continuidade àquela série sobre dicas da vida prática por aqui, vou aproveitar a pergunta da Talyane, uma querida "ouvinte" que nos escreve de Kalmar, aqui mesmo na Suécia. A Talyane, com um barrigon de 7 meses, vive nessa cidadezinha gostosa, onde tem um castelo que já paga a pena viver por estas terras geladas e me pergunta o seguinte: "(...) Bem eu estou grávida de 7 meses agora e estou com uma dúvida muito grande e creio eu muito importante, está me deixando de cabelo em pé... rs. E me lembro de suas matérias sobre maternidade... bem, como é o esquema de vacinas aki na Suécia? Estou com medo pq as principais vacinas são até os 6 meses de vida e minha filha vai estar sempre indo ao Brasil, até pq nos estamos aki de passagem pode-se dizer assim, e então ficoo muito preocupada com esse assunto. Como vc fez com seu bb? Melhor como é aki na Suécia, podemos pedir as mesmas vacinas? elas existem por aki?"

Valeu!!!

(Escritoras pós colonialismo ) Acabei de atualizar as respostas aos comentários dos posts todos que escrevi nas últimas seis semanas.  Eu gosto bastante quando faço comentário em blogs que leio e tenho resposta do autor, porque parece mesmo uma conversa e acrescenta ainda mais ao que pensei. Sei que em muitos blogs isso não é possível, mas não é o nosso caso aqui. Por isso me desculpem pela demora. Alguns comentários me pedem respostas mais complexas, as quais eu tentarei responder criando posts para isso.  Passe para ler sua resposta e manda mais se for o caso. Eu prometo a mim mesma escrever mais posts, porém mais curtos neste ano, embora eu não abra mão de aprofundar em um tema ou outro. Um beijo e obrigadíssima pela presença nos comentários. Sem eles, o blog seria uma conversa de Chitãozinha para as paredes. Mais vazio, com menos sentido. Valeu!!!

De volta à ilha de Lost ou "Meu querido paiol"

("Mããe, lá, aião, mião, tator!", Ângelo encantado com o aeroporto de Frankfu rt, janeiro de 2009) Olá gente querida, gente que ficou, gente com quem vou me encontrar ainda. Chegamos ontem a tarde, embora do dia eu não tenha visto nada por causa da escuridão. No meio do caminho, por cima da Alemanha, dezenas de cidades estavam branquinhas com a neve e o dia estava tão claro que a gente podia ver tudo lá em baixo. Aqui, ao contrário, tinha tanta nuvem que quando o avião pousou ainda não dava para ver a pista. Viagem tranquila até Frankfurt. Tive a impressão de estar viajando com um mocinho e não com um bebê de um ano e meio. Entretanto, o maior problema para vir para os países escandinavos, é quase sempre a conexão. Dá para encarar as doze horas até o primeiro ponto, mas depois vai ficando difícil... Mesmo o excelente humor das quatro horas de espera do Ângelo no aeroporto na Alemanha não sobreviveram a mais um entra e sai de avião. Na chegada em Copenhaguem o cansaço tomou con

Sete anos no nosso Tibet

( Casal , que bem podia ser eu e Renato, se beijando na chuva) São quase, quase meia noite aqui no Brasil. Eu, ao contrário do prometido há uns dias, não vou ainda responder aos comentários ou escrever sobre a viagem daqui. Após uma tempestade e alguns raios, a placa de rede do micro de minha mãe queimou e só hoje consertamos. Entretanto, uma outra coisa me segura, apesar do sono e do muitíssimo cansaço: hoje, 19 de janeiro é nosso aniversário de casamento, meu e do Renato. Há sete anos, eu entrava, acompanhada pelo meu pai, numa igrejinha em Helvetia, com uma chuvarada, que parecia que ia desabar o mundo lá fora, para dizer alguns "sins" ao grande amor da minha vida. - "Tá chovendo?" Foi o que perguntei, em janeiro de 2002, desesperada ao cabelereiro, quando ouvi o início do temporal e imaginei que "tudo poderia" dar errado etc etc. Meus primeiros medos bobos a respeito do casamento foram dissipados quando encontrei apoio na igreja lotada de gente que eu

"É a mulher com quem eu vivo a sonhar!"

Por umas três ou quatro semanas, desde que chegamos ao Brasil, eu - e também o Renato - me senti estrangeira em minha própria terra. É como se a gente se esquecesse totalmente o funcionamento da vida aqui e tivesse se adequado tanto à vida sueca que não entende como viveu tanto tempo sem perceber alguns "detalhes". Eu quero falar disso com mais calma. Por ora, cheguei na casa de minha mãezinha querida e vou ficar por aqui uns dias. Espero pôr em dia as respostas aos comentários que foram feitas aos posts passados e aos atuais. Depois dessa semana, terei apenas um tempo para se despedir em Sampa e embarcar para minha nova terra, onde provavelmente irei por um tempo me sentir estrangeira de novo também. Agora tô aqui curtindo o quase insuportável calor que tá fazendo, inclusive de quase 30 a noite. Tinha me desacostumado com isso também. Mas queria deixar um momento registrado, porque achei tão curioso e bonito pensar como algumas coisas tão simples podem trazer a gente de

Fomos "a la plaia ô ô ô ô"

(Manet, Beach at Boulogne sur mer, 1869) Uma das coisas que a gente mais fez durante o verão sueco foi passar o dia na praia. A gente levava milhares de coisas, como todo mundo, e se estendia na areia e no sol. Estamos aqui em Juquehy, numa praia do sul de São Paulo, e percebo ainda mais tantas diferenças entre a natureza e o povo de lá, a natureza e o povo daqui. Sem tempo para me alongar, porque tô aproveitando a chuva e a vetania para usar o computer do hotel, anoto rapidamente as que mais me chamam a atenção: - Na Suécia, praia significa: . sentir que é tempo de praia quando o termômetro bate 18 ou 20 graus. . curtir a família e o sol, não importa se a água tá fria ou não. . se estender e grudar-se na natureza, não importa se o sol é para bronzear ou não. . fazer piquenique, sem preocupação com parecer pobre de marré de si. . deixar as crianças brincarem peladas, brincarem sozinhas, soltas e livres. . não usar protetor solar (a gente é exceção), nem chapéu, nem guarda-sol, nem nad