(Estação de trem em Paris, foto de Dri Cechetti, agosto de 2009)
Minha aventura começou com um sorriso e um bom dia grande do motorista do ônibus que tomei para ir de casa até a estação de trem.
- God morgon! disse o bonito moço descendente de alguém lá do Oriente.
- God morgon! respondi mais feliz do que sempre estou as seis da matina.
E antes que ele me desse o troco minha péssima pronúncia americanizada do "station" (que em sueco é algo como stárrrônnn) denunciou-me. Então ele emendou em inglês:
- Good travel!
Sim, boa viagem seria mesmo o que eu teria pela frente e, embora já tivesse estado algumas vezes na cidade luz, eu estava animada como se fosse a primeira. No ônibus só eu e o moço motorista. O ônibus era meu e tudo me parecia possível...
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De manhã eu havia dado um beijo de "Eu te amo" no Renato, enquanto ele ainda estava sonolento e já entregue a mamadeira para o pequenino do outro quarto. Com fome ele já havia chamado "mamãeeee" e eu não consegui sair sem antes aquietá-lo. Foi ali que substituí, pela primeira vez, minha pinta no braço (que o Ângelo ama cutucar quanto está tentando dormir, por exemplo) por um elefantinho de pelúcia.
Nossa história com os elefantes começou quando, um dia, brincando nos campos de futebol em frente de casa eu inventei que logo ali havia um elefante passando correndo entre os arboredos, tentando convencê-lo a mudar de rumo e procurar o tal elefante até que chegássemos em casa.
A historinha pegou e toda vez que o menino está entediado em qualquer situação (lojas, mercados, transportes) ele diz fingindo espanto:
- Mamãe! O elefante! Olha lá o rabo dele...
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A viagem foi rápida e eu passei as duas horas do vôo lendo o "Quase tudo" de Danusa Leão. Minha cunhada Dri me trouxera de presente e me incentivara a ler a história da corajosa mulher que ela aprendera a admirar.
O diferente de viajar sozinha é que não se pode delegar função nenhuma ou esperar que alguém preste atenção em algum detalhe que você não tem vontade de prestar. Todas as placas, referências, informações e possíveis problemas ficam por nossa conta. É bom se eu pensar que é o único jeito de se sentir, de fato, independente, mas dá trabalho, claro.
Ainda que eu saiba bem e viva diariamente no mundo do "auto atendimento" dos países de primeiro mundo, a verdade é que eu acabo não prestando tanta atenção nas viagens, já que muito é mesmo o Renato quem vai fazendo automaticamente. Ele é descolado nisso e gosta de fazer, então só deixo. Nessa viagem, ao contrário, fui percebendo como a relação é quase mesma a gente com uma máquina o tempo todo. Fui experimentando esse"faça você mesmo" ao comprar meu bilhete do trem de Malmö para Copenhaguem. E depois, quando fiz o check-in, sem ir até a fila, sem falar com absolutamente ninguém no aeroporto. E continuou quando fui tomar um café e precisei operar a máquina high tech do expresso, levando alguns minutos para entender todo o processamente. E encerrei a experiência "eu-sozinha-com-as-máquinas" em Paris, quando comprei o ticket do metrô.
Talvez seja difícil entender onde quero chegar com esse bláblá sobre tecnologia se você já vive aqui, mas se você vive no Brasil pense que é total diferente. Se eu eu comparar com a experiência daí é tanta diferença que é incrível pensar como posso até me esquecer que vivo nessa relação com as máquinas rápidas, eficientes e frias o tempo todo.
(O portão do Palácio de Versailles, maravilhosamente fotografado pela Dri, também antes de minha chegada, agosto de 2009)
Eu adoro viajar. Adoro ver lugares por onde nunca passei. Gosto muito da sensação de estar perdida e boiando num lugar com gente falando outra língua. O novo me excita e me alegra. Acho que a única coisa que se repete sempre na minha vida e eu não me canso são as pessoas que eu realmente amo. O marido eu nunca desejei trocar, por exemplo. Amo e adoro o fato de me sentir "acostumbrada" a ele, mas o resto eu adoro trocar e inovar. Sempre! Ainda assim eu detesto o tempo de espera. Me entedio rápido nos vôos, nos trens e tal e sempre me sinto horrorosamente cansada. O Renato viaja horas e horas e volta com cara boa. Eu viajo duas e já fico de saco na lua, por exemplo. Ces tout la diference entre peixes e virgem!
Foi assim que decidi aproveitar o tempo escrevendo esse diariozinho de bordo que vocês estão lendo agora e que eu pensei transformar num post, assim que chegasse. Ajudou a passar o tempo e me ajudou a registrar as emoções tais como eu ia sentindo. Se o dirário interessa a mais alguém eu não sei, mas a mim já valeu a pena dividir com alguém.
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Comecei a recuperar numa gaveta perdida da minha memória palavras ou frases do francês que eu um dia aprendi rapidamente na Universidade e com o qual eu havia conseguido passar na prova do meu orgulhoso doutorado. Fiquei assim meio que cerrando os olhos, sabe? Virando o zóinho para a esquerda, numa tentavia inútil de fazer eu me lembrar de algo que me salvasse da famosa chatice dos franceses que odeiam falar inglês, embora eu mesma, acredite, nunca tenha experimentado qualquer coisa do gênero nas quatro ou cinco vezes que estive com eles.
Língua é algo assim. Você aprende. É incrível. Você fala, lê e escreve. Você aprende outra e vira um retardado na antiga. Ao menos assim sou eu. Aprender sueco me fez esquecer absolutamente todo o poquitito que aprendi de outras línguas que um dia vi bem como do francês que agora eu precisava. Ali no trem, as únicas coisas que me vinham à mente foram palavras como "croissant", "petit gateau" e "chocolat". E forçando só vinha uns trechinhos de música suuuper válidos, imagina! "Je te aime mon non plus". Bom, não dava para usar e aquela foi a prova que eu precisava para esquecer de vez de tentar falar francês na França e assumir que eu estava mesmo era com fome e que precisava logo mandar ver nos três itens franceses dos quais eu me lembrara...
Desci do trem, puchando minha econômica maletinha pelo Boulevard Saint-Germain e logo avistei Dri vindo de havaianas, vestidinho, óculos escuro e um sorriso brilhante nos olhos. Paris já era dela, a mim restava apenas tê-la como guia e companheira de viagem. Deixar que sua também paixão pelo desconhecido e sua primeira vez na capital mais famosa do mundo me enchessem de torpor e desejo de refazer os locais que eu já fizera antes.
Eu foi assim que se seguiram as horas seguintes...
Comentários
Muito interessantes as reflexões.
Vou aguardar as próximas páginas.
Beijo
Tô lendo um livro sobre Paris e ele cita uma frase ótima: "Você estava apaixonado por Paris. Você achava que era o Grande Lugar. Pois não é. Você estava apaixonado por um sonho", John Glassco, Memoirs of Montparnasse.
Acho que vivi um sonho acompanhada de alguém tão irradiante e ótima companheira de viagem como você! Obrigada! E que venham os próximos capítulos...
Tô aqui também, esperando para ver as fotos e suas peripécias, pois devem ter sido das boas junto com a cunhadinha que parece ser gente boa pacas.
bjs cariocas
Vou acompanhar cada detalhe do teu diário, ótima idéia de fazer um. As fotos estão lindas.
Bjs
Eveline
Bjks
brincadeira! eu amo CSI e queria sempre conseguir causar suspense quando escrevo... mas...
sim, tenho as paginas na cabeca so me falta tempo mesmo... chega logo!
nossa! amei essa explicacao ai! passa pra todo mundo o nome do livro sobre paris que ce ta lendo!!!
sem puxar o saco na frente do mundo todo: paris tava otima na sua companhia fofa! inesperadamente novo!
sim ela e super gente boa! e os capitulos tao na cabeca, falta ir pro papel...
eu adoro quando oce passa aqui... e minha amiga virtual fielllll querida... ainda bem que vc gosta das minhas viagens na maionese...
Fez o filhao em Paris! que clima! que tre romantic!
que chique! haha... eu fiz foi no Brasil mesmo haha.. mas paris e um perigo!
que bom que vc ta por ai lendo tambem... mas escreva mais sobre sua vidinha mais ou menos PLEASE
ah eveline me manda uma foto sua qualquer hora no email do borboleta!
borboletapequeninanasuecia@gmail.com
eu sei seu nome Cinthia, mas voce tem mais cara da Barbie girl que da Cinthia pra mim credita?
brigada brigada... voce sempre com elogios que me desconcertam! rs
ce sabe que elogio de gente que escreve bem e bommm que so ne?
brigada!
eu vou continuar, to louca pra escrever mais, meu problema nao e falta de ideia ne... ta na cabeca...
vou la pro seu pedaco daqui a pouco... beijos