("Carrinho de bebê, de Andréa Ebert)
Modernidade
A babá, preta, de branco,
empurra o carrinho do bebê, no shopping.
Ela passeia com a mãe, branca, de preto.
As duas vão no maior ti-ti-ti
Conversando sobre a modernidade de São Paulo.
(autora: uma socióloga paulista)
Há alguns anos, vi esse poema (que espero ter reproduzido corretamente, porque eu o tenho gravado apenas na memória e nos papéis no Brasil) pregado nos ônibus do centro de São Paulo.
Tratava-se de um incentivo do governo da Marta às mulheres que gostassem de escrever. Lembro de estar em pé no buzão cheio, indo dar aula no cursinho. Mudei minha aula do dia e pus o poema em debate. Rendeu uma hora e meia de excelente conversa, argumentos e possíveis idéias para tratar em temas nos vestibulares.
O impacto do poema foi tão forte em mim, que ele vem à minha mente, quase como uma canção, todas as vezes que penso em algo parecido com o assunto nele tratado. E voltou esses dias, depois dos comentários que vocês enviaram para o post "O que os suecos fazem bem que é uma beleza?"
O que vocês acham dele?
Ele diz tanto para vocês também? Quais os pontos que a autora (infelizmente que eu não guardei o nome) traz para o debate, ainda que de forma tão sutil?
...
(se alguém tiver o nome da autora, que não é famosa, nem nada, é um socióloga paulista. Assim vinha na descrição do nome... por favor me envie para eu dar os créditos? Tack!)
Comentários
ando lendo xobre o assunto por conta do curso da universidade,
mas gostei sobretudo da pintura,
ou seria colagem?
Beijos!!!
Meu pai é branco, minha mãe é negra e eu sou alguma coisa.
Quando era pequena e eles passeavam comigo, as pessoas faziam comentários do tipo: "Uau! Nunca vi um homem passear com a filha e a babá sem a mulher" e coisas assim. Sendo que a "babá" era a minha mãe.
Também quando eu era maior e ela me deixava na escola as pessoas pensavam que ela era a empregada, alguma coisa assim. Menos minha mãe. E quando eu falava que ela era minha mãe eles: "Mas você foi adotada, não foi?"
Não sei se dou risada, se choro. Deu o que pensar, de verdade essa poesia.
Então a babá que é negra.
Nesse poema só achei estranho elas conversarem sobre as modernidades, aliás, conversarem, pois geralmente as 'madames' não conversam com o empregado.
Fiquei com vergonha de comentar de tanto que comentei no outro post.
Bom fim de semana.
Beijo
me pareceu uma pintura com colagem de tecido em cima.. linda ne? tambem gostei.. entra no endereco do flickr que pus la... e de uma artista...
bom, voce viu que eu achei o comentario bom de otimo!!! rs... minha resposta ao seu comentario esta no post seguinte...
e isso! e sabe que tambem me incomoda terceirizar o filho pros avos ne? ajuda da baba, ajuda da avo e sempre bem vinda, mas passar o trabalho todo adiante ai nao!
de fato é uma cena que nao deveria ser estranha... rs.. mas a autora do poema quis mostrar exatamente como ela e corriqueira voce nao achou?
acho que por isso a brincadeira com o modernidade! nada de moderno!
Ah! sabe que eu ja vi umas madamas chiquesimas com baba nesse tititi la no shopping higienopolis por exemplo algumas vezes...
Nossa adorei esse seu comentario! cheio de realidade e verdade!
sabe que eu sempre imagino o que pode significar sentir na pele o preconceito assim... no seu caso, contra a sua mae. Acho que deve doer de um jeito na crianca que e sem explicacao.
Mas eu lembro que voce comentou ha tempos naquele post meu do "black is beautiful" que voce sempre teve sua mãe em altissima conta e sempre a admirou por tantas coisas! que otimo que a visão pequena de tanta gente nao te contaminou !
Outro dia conversando com uma amiga que mora em Natal, ela faz faculdade pela manhã, e disse que tem umas 'patricinhas' na sala dela, e que o assunto sempre é sobre os empregados domésticos, que nõ podem passar um dia sem uma babá, ou uma cozinheira, chegam a dar piti. Minha amiga contando isso não como crítica a total incapacidade das colegas de cuidarem do filho nos domingos ou prepararem um bife com arroz pra comerem na falta de uma cozinheira por um dia, mas porque acha chique. Aí eu percebi que além de ser necessário, o empregado doméstico é símbolo de status, por isso levar a babá pro shopping de uniforme e tudo mais, pq é chique.