Pular para o conteúdo principal

Uma abóbrinha, uma canção e um chororô


Semana passada ganhei dos meus amigos poloneses, Grzegorz e Agnieszka, duas abóbrinhas (Zucchini, em polonês) verdes deliciosas. Grzegorz tem cultivado uma horta, super saudável, no fundo da casa, desde que a primavera chegou.

Acabei por fazê-las, para mim e para Ângelo, picadinhas e regofadas, como minha mãe fazia para eu e meus irmãos. Imediatamente veio à minha memória cenas de minha infância. Minha mãe fazendo seu almocinho de todo dia, a gente fazendo uma bagunça danada...

Pulei, então, para a época em que meu pai e minha mãe começaram juntos uma horta e, entre alguns tapas e beijos, plantavam e colhiam legumes e verduras lindos e deliciosos. Eu a-do-ra-va passar lá nos fins de semana com o Renato e a gente escolhia o que iria levar para a semana... eu adorava gastar meu tempo lá com eles.

Foi rápido o salto que minha mente fez para algumas músicas que meu pai gostava e assoviava, enquanto trabalhava... Veio o Mário Zan, o Liu e Léu e algumas outras canções que ele também tocava em sua sanfona...

Ichi daí deu uma sôdade... Um aperto doído... 

Mas, então, Ângelo estava a puxar minha perna e dizer: mãmamãma... E então eu sorri de contente e pensei que, pra gente de raíz "mineira" assim que nem que eu, o pulo de uma abóbrinha para um chororô é rapidinnn que é uma coisa, mas só porque eu tenho lembrança gostosa pra chorar.


(Rê e Ângelo com Grzegorz e Agnieszka, no caminho de árvores ao lado da casa deles, junho de 2008)

...


Talvez a gente sempre vá relembrar o passado e a infância com tal nostalgia. Ao menos ouvi muitas vezes minha mãe e meu pai falarem de seu passado com o mesmo saudosismo que eu tenho agora do meu. E me lembro deles planejando voltar morar em algum sítio, quando a gente crescesse...

Isso e a música abaixo, provam que não sou a única manteiga derretida no mundo. Dêem uma olhada e uma "ouvida" nessa moda de viola do Liu e Léu e me digam se não é assim mesmo...



Jeitão de caboclo


Se eu pudesse voltar aos bons tempos de criança
Reviver a juventude com muita perseverança
Morar de novo no sítio na casa de alvenaria
Ver os pássaros cantando quando vem rompendo o dia
Eu voltaria a rever o pé de manjericão
A curruira morando lá no oco do mourão
Os bezerros do piquete e nossas vacas leiteiras
O papai tirando leite bem cedinho na mangueira

(Meu avô João, rodeado dos bisnetos, Júnior, Ângelo, Vitória e Luana. O tempo não pára... outubro de 2007)


Eu voltaria a rever o ribeirão Taquari
Com suas águas bem claras onde eu pesquei lambari
O nosso carro de boi , o monjolo e a moenda,
As vacas Maria-Preta, Tirolesa e a Prenda
Na varanda tábua grande cheia de queijo curado
E mamãe assando pão no forno de lenha ao lado
Nossa reserva de mato, linda floresta fechada
As trilhas fundas do gado retalhando a invernada

(Minha mãe e minha avó, as Marias que me ensinaram a amar coisas simples, como as abóbrinhas, novembro de 2007)


Queria rever o sol com seus raios florescentes
Sumindo atrás da serra roubando o dia da gente
O pé de dama-da-noite junto ao mastro de São João
Que até hoje perfumam a minha imaginação
O caso é que eu não posso fazer o tempo voltar
Sou um cocão sem chumaço que já não pode cantar
Hoje eu vivo na cidade perdendo as forças aos poucos
Mas não consigo perder o meu jeitão de caboclo.

(Liu e Léu)

...


ps: Ouça essa chorosa cancão lá sessão de músicas, do lado direito do blog, e deixe sua memória voar...

Comentários

Unknown disse…
Esta saudade mora no peito.Mas é uma saudade gostosa de sentir. Tem gosto de infãncia,de juventude. Tempo bão mesmo! Senti saudades do meu tio Chicão e da tia olivia. Que depois de um dia de labuta. As 17 horas depois de jantar,sentavam na varanda naquela cadeira de descanso.Na sala o velho rádio de madeira,com botões grande tocava as toadas de Liu e Léu. Eu ficava lá roubando um pouquinho daquele sossego,olhares perdidos no nada. Tinha muita paz,amor,bondade naquele casal de velhos que continuavam apaixonados !Saudades gostosa de sentir! Bão! Bão! Messsmo!!!
Beijos!!!!!
Ed. disse…
Voltei
muitas coisas aconteceram e uma bem importante foi o aniversario do angelino!
portanto parabens e muitos beijos atrasados!

espero que esteja tudo bem ai! saudades imensas de vc!
Anônimo disse…
Acabei de fazer uma abobrinha pra mim também....

Aqui ou na Suécia elas têm gostinho de casa.

Bjs e saudade.

Dri
Somnia Carvalho disse…
Irene, cê gostou da música?
Ela não tem cara de tio Chicão?
Boas lembranças... verdade!

Um dia eu quero ser uma lembrança legal assim... quem sabe na vida da Luana, do Ângelo...
Somnia Carvalho disse…
Querido Ed, tava sentindo muito sua falta! por aqui e lá no seu espaço!

a gente nunca volta com o mesmo! a gente volta sempre! sempre! diferente! mesmo que não pareça, logo de cara...

é bom te ter de volta!
Somnia Carvalho disse…
Dri,

outra coisa que tem gosto de casa: sopa da tia Dri, com mandioquinha e outras coisinhas!
aguardo minha ida, que ainda nao sei quando sera, para comer esse sabor de casa...

Postagens mais visitadas deste blog

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que