("Sigmund Freud", Andy Warhol,
Se vocês forçarem um pouco a memória aí lembrarão do concurso que fiz em março para as leitoras que deixassem resposta à pergunta "Que tipo de coisa consegue lhe deixar realmente feliz", num post feito por ocasião de meu aniversário.
Devem também se lembrar que as ganhadoras Mariahh, do Alentejo, Lilás, do Rio de Janeiro e Liana, de Malmö, foram as vencedoras e talvez nem mesmo elas se lembrem que receberam a promessa de uma tela minha de presente.
Depois de muito pensar, de tentar alguns rabiscos e telas que coloquei de lado, finalmente aqui estão as telas de presente para as três. Entretanto, como já conhecem de outras datas, minha empolgação com arte, filosofia e psicanálise não me deixa apenas postar as fotos dos três quadros.
Isso porque, enquanto fotografava e olhava para as telas feitas, fui pensando como não existe nenhuma ação nossa que não seja resultado de muitas outras ações, de pensamentos e vivências que tivemos. Sofremos influência de tudo e de todos ao nosso redor, desde que nosso cérebro ache "adequado" sofrer tal interferência.
Desde nossa história passada, o jeito como nossa mãe nos segurou ou afagou no colo quando crianças até o instante anterior a este, todos eles se somam ao que somos. Eu acredito que nossas escolhas (até mesmo uma simples de entrar ou não com o pai na Igreja) são resultados disso tudo e é por isso que não dá para subestimar o efeito que uma experiência ou educação maravilhosa ou traumática possa ter em nossa vida...
Bom, passando à filosofia da criação das telas e o porquê de eu ter mudado minha idéia inicial de criar para cada uma dessas três mulheres um abstrato inspirado na paisagem na Suécia, eu começo dizendo que o fato de saber quem elas eram tornou bem mais difícil a pintura do que em qualquer outros casos. O pouco ou o muito que sei de cada uma, o que imagino delas e de suas expectativas tiveram que se somar ao que eu também queria criar para cada uma, ainda tentando expressar minha liberdade de criar e meu estilo...
1a. A história de Mariahhh e de sua tela...
Sunset, Somnia Carvalho, junho 2010
24 x 30, mixed media work
Mariahhh está entre as leitoras e comentadoras com quem mais eu tenho trocado idéias filosofais. Um pouco no blog e bastante por email. Ela vive no Baixo Alentejo, em Portugal, e como eu (infelizmente eu não por muito tempo) tem o privilégio de viver perto do mar. Em nossas conversas eu soube que ela gosta de algumas telas abstratas minhas e uma das coisas pelas quais é apaixonada é ver o pôr do sol em algumas épocas possíveis do ano:
"No final do dia, com o sol a pôr-se e principalmente nesta altura do ano (Primavera),
temos um contraste de cores e luz lindíssimo.
Muitas vezes ao deparar-me com imagens dessas, dou por mim a pensar no quão feliz eu sou.
São momentos, mas são tão importantes e a nossa felicidade não é mais do que o somatório de todos esses momentos."
O sotaque escrito da Mariahh, seu jeito poeticamente português de ver a natureza, de ver tanta sensibilidade no que eu escrevo e sua vida jovial, mas carregada de tanto sentimento fez com que eu primeiro tentasse apenas criar uma pintura de um pôr do sol da frente da minha casa. Tentei, mas o resultado cheio de realismo me incomodou e me desfiz da tela.
E, então, meu desejo de criar algo que tivesse a ver com Mariahh me fez lembrar dela descrevendo estar doente deitada, lendo meus posts, ouvindo músicas que eu já havia postado e que ela também gostava... Se somou ainda ao desejo de criar algo colorido, abstrato, mas que ainda tivesse referência com aquele pôr do sol. Tinha que ser algo para uma jovem que sabe apreciar de Sivert Hoyen a heavy metal, porque gosta mesmo é de Singularidades.
(O pôr do sol em frente de casa, pelo qual me apaixonei desde que vi, verão passado, maio de 2009)
Não sei se Mariahh se gostará ou não do que criei, porque pintura é normalmente assim: a gente é ama ou odeia, mas são todas essas vivências grudadas em minha mente que se juntaram nesta tela... e cores, muitas delas, enquanto eu olhava para a foto que fiz na sacada de casa no ano passado.
2a. A história de Beth Lilás e de sua tela...
The yellow Sweden, Somnia Carvalho, junho 2010
24 x 30, mixed media work
Beth Lilás, do Mãe Gaia, a Beth, a Betona, a Lilla, a Lilasona, a amiga virtual com quem adoro fazer trocadilhos de nomes e com quem também troco um pouco da vida por email, com quem sinto junto a natureza ou a vida quando leio seu blog... A amiga de muitas outras de vocês e que faz questão de deixar comentários na caixa de todos os blogs pelos quais passa...
Eu sabia desde o início que uma paisagem dos tais "amarelinhos" suecos (plantação de canola) dos quais falei muito aqui cairia bem para ela que adora subir literalmente a serra e aproveitar seus fins de semana junto da natureza. A mesma pessoa enlouquecida por flores e cores, que se deleita enquanto cuida de seu jardim.
Também descartei um pastel que havia feito para ela e acabei ficando com esta tela. Aqui criei esta paisagem do início da primavera que, apesar de ser característica em muitos países da Europa, é para mim o símbolo da Suécia onde aprendi a ser mãe e a ser a Borboleta Pequenina.
Aqui se junta massa corrida para dar volume aos azuis do céu e muitas florezinhas secas, as quais ganhei de presente de uma querida amiga, a Márcia, outra que cuida de seu jardim como cuida de suas filhas e dedica horas de seu tempo, todos os anos, a fazer um jardim todo colorido, quando a primavera chega. A Márcia colheu estas flores e me deu no dia de minha vernissagem e logo que vi as florezinhas caindo em minha mesa de jantar sequinhas eu pensei ao mesmo tempo na Lilás. Vi nas duas amigas algo em comum e nas flores algo que as une entre si e as une a mim.
Escolhi a dedo a cantora Laleh, uma iraniana-sueca, e sua música "Big city love", já que esta segunda ganhadora vive numa das maiores, mais contraditória e linda cidade do mundo, o Rio de Janeiro, cidade que ama, mas de onde também foge para além dos muros tentando sentir outro tipo de amor.
Big City Love
Along the big city walls
I walked for a while
looking for that face
I always recognise
hello hello
it’s been a while
ages ago
but your voice still feels
this it what they call
big city love
just play it by heart
‘cause I believe in true love
this is what they call big city love
play it by heart
though it’s a sad sad call
this it what they call,
big city love
‘cause I believe in true love
there’s no where to fall
along the city walls
along the city walls
...
And all the letters that you wrote
I want them all gone
I send them back to you
with a red heart on them
and in my memories I’ll try
erasing you for good
and all the hopes I had
projected on you
was looking for
was looking for
a place to hide away, to hide away
instead I lost, instead I lost the
heart I gave away,
oh we sang those songs
sang those songs
you comfort me you comfort me
and now and now
let’s call it destiny
This is what they call
big city love
play it by heart
cause I believe in true love
this is what they call
big city love
play it by heart
though its a sad sad call
This is what they call
big city love
play it by heart
because I believe in true love..
There’s no where to fall
along the city walls.
Laleh
3a. A história de Liana e de sua tela...
Esta tela distoa das outras paisagens e talvez seja porque eu seja uma pessoa, uma tentativa ainda de artista cheia de dissonâncias.
Quando estava criando mais algumas telas para a vernissagem pensei que para a Liana tinha que ser algo daquele meu louco projeto "All we need is love". Tinha que ser porque não conheço gente mais apaixonada e cuidadosa que ela por seu romântico, lindo e amante de música brega, Thiago.
Ele quem vive cantarolando tudo quanto é tipo de música prega apaixonada brasileira e fazendo caras e bocas para sua amada.
Ela, quem tem na chamada do seu telefone a voz do marido cantando "É o amoooorrr... que mexe com a minha cabeça e com meu coraçãããooo..."
Conheci a Liana por acaso no curso de sueco e descobrimos que morávamos no mesmo bairro em Sampa, frequentávamos até a mesma padaria... Nossos filhos brincam juntos, cozinhamos, dividimos inúmeros momentos juntas... Sei de seus amores, seus sonhos, suas dores e sua inabalável crença no amor.
("Amor Perfeito", Roberto Carlos, Pacaembu, 2004)
Foi então automático que minha memória buscasse um dos nossos maiores românticos e apaixonados para me inspirar na tela... Ao som da sofridíssima "Amor perfeito", do Robertão Carlos, uma música com a qual eu também bregamente chorei na minha adolescência, eu acho que fiz e desfiz umas seis tentativas de tela.
("Casal", Pablo Picasso)
Provei dezenas de cores, jeitos diferentes de compor essa idéia sofrida que todos nós românticos sem chance temos sofre perder nosso grande amor. E brinquei com uma foto deles que eu havia tirado ano passado. Brinquei com letra do reconhecido romântico brega Michael Sullivan e com um desenho lindo do Picasso, o qual usei como colagem... Junto, bijouteria e miçanquinhas coloridas, tudo aquilo que faz parte de um sonho de garota sobre como o grande amor da nossa vida nos é essencial.
E assim cheguei nesse resultado que, ao meu ver, é um mix de porta-retrato feito cheio de amor e também uma referência às reproduções de fotos de famosos impressas em telas de Andy Warhol, mas de uma forma muito mais otimista, porque ao contrário dele, eu acho que todos nós damos material para uma bela ópera e também porque eu acho que tudo o que nós mais precisamos mesmo é de amor...
Amor perfeito
Fecho os olhos pra não ver passar o tempo, sinto falta de você
Anjo bom, amor perfeito no meu peito, sem você não sei viver
Vem, que eu conto os dias conto as horas pra te ver
Eu não consigo te esquecer
Cada minuto é muito tempo sem você, sem você
Os segundos vão passando lentamente, não tem hora pra chegar
Até quando te querendo, te amando, coração quer te encontrar
Vem, que nos seus braços esse amor é uma canção
E eu não consigo te esquecer
Cada minuto é muito tempo sem você, sem você
Eu não vou saber me acostumar sem sua mão pra me acalmar
Sem seu olhar pra me entender, sem seu carinho, amor, sem você
Vem me tirar da solidão, fazer feliz meu coração
Já não importa quem errou, o que passou, passou então vem
Vem, vem, vem
Roberto Carlos
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