("Amizade", Pablo Picasso)
A primeira vez que estive na Suécia foi em outubro de 2006. Vim acompanhando Renato numa entrevista e vindo "pensar" junto como seria viver numa terra geladinha e distante como essa. Voltamos um mês depois (eu com um mês de gravidez) já decididos, para acertar detalhes e achar um apartamento para morar no início do ano seguinte. Foi então que Martin, da imobiliária, nos levou a um apartamento que amamos logo de cara.
O dono, um africano bonito e simpático casado com uma sueca que não conheci, iria viver em Estocolmo e estava alugando seu imóvel. Éramos os prováveis próximos inquilinos e tudo ficou "quase acertado" nessa visita.
Arejado e grande, onde antes havia três apês diferentes, o lugar tinha tudo que a gente queria e um pouco mais. De cara tinha três banheiros e uma big, mas uma big de uma "casa de banho", como diz a amiga portuguesa, Maria, onde eu imaginei tomar banhos de banheira longos e deliciosos com meu barrigón, quando ele estivesse maior. E, em alguns segundos, criei fantasias sobre como seria nossa vida ali, naquele canto "perdido" do mundo, como seria nossa nova vida ali dentro daquele possível novo lar...
Olhei pela janela e perguntei o que era aquele lugar diferente ali em frente. Martin explico que era uma escola para cozinheiros...
- Ah... Que legal... sussurrei pra mim mesma.
E eu não sabia, mas aquela seria a última vez que eu veria aquele lugar até o maio do ano passado.
Não conseguimos o apê porque o rapaz tinha pressa em alugar e eu lamentei muito. Achamos outro incrível e deixei a idéia daquele de lado. O tempo passou, Ângelo nasceu e nós nos mudamos de novo. Dessa vez, próximo a um caminho de árvores e de um playground adorável. E foi lá mesmo que numa tarde do início da Primavera de 2008 que eu conheci Nikol e Iven. Mãe branquinha, filho loiríssimo, eu os tratei como sendo suecos, logo de cara. Ele dizia "não" insistentemente e eu fiz uma brincadeira. Diferente de muitas das mães com quem eu havia tentado puxar prosa, a moça respondeu. Respondeu, continuou, riu e por ali ficamos um tempinho. Eles haviam chegado há pouco em Malmö e eu já estava pelas bandas fazia um ano e meio. Então tínhamos algumas coisas a trocar.
Descobrimos naqueles minutos de tentativa desesperada de fazer amizade sólida e prazerosa que nossos maridos trabalhavam exatamente na mesma empresa.
- Uau!!! That´s coincidence! Falamos em coro, eufóricas.
(Iven no colo de Nikol, Ângelo e eu, curtindo o aniversário de 1 ano de vida do Ângelo adoidado, julho de 2008)
E foi simples assim que uma entrou na vida da outra...
- "See you here again!? mamma!"
A gente se viu nos dias seguintes e no verão inteiro que chegou. Nossos bebês brincaram dias seguidos juntos naquele playground e se adoraram como sendo irmão mais velho e irmão mais novo. Por nossa conta os maridos começaram a almoçar juntos no trabalho e, depois, a jogar futebol no domingo. Churrascos no jardim deles, jantar na nossa casa, praia e mercado. A gente dividiu de tudo no ano que passou, inclusive os dias difíceis de doença dos meninos ou de solidão ou falta de ânimo.
(Iven com Ângelo e Nikol, sempre apaixonada pelo Ângelo como se fosse de sua família, Festival de Malmö, agosto de 2008)
Apresentei a Nikol para outros amigos e, sem exceção, todos a adoraram. Ela e sua pequena família estiveram no aniversário do Ângelo e em muitos outros momentos que partilhamos com gente muito especial que conhecemos aqui. E a Nikol sempre com uma presença muito forte. Ela sorri como se nunca tivesse problemas. Ela cuida da casa, como se não tivesse sido uma super mulher de negócios até pouco. Ela rega as plantas e cuida delas como se dedica a manter seus amigos próximos. Na casa da Nikol eu cheguei inúmeras vezes sem precisar telefonar ou ser convidada e comi bolos deliciosos que ela mesma consegue achar tempo para fazer.
É engraçado perceber como a gente se gosta e em como somos diferentes. Ela, organizada com o tempo e sua vida toda, eu, latina, bagunçada com minhas programações e cheia de deixar bolo queimar. Mas, diferente da maior parte dos suecos e dos alemães, a Nikol tem, como eu, alma latina. O sangue não lhe nega a simpatia. Seus pais são da antiga Iugoslávia e foi porque sua mãe buscou uma vida melhor na Alemanha que ela e o irmão nasceram lá.
Um ano se passou e a amizade continua entre nós, nossos filhos e os maridos. Eu e Nikol agora estamos no mesmo curso de sueco, embora ela, com sua boa parte alemã, esteja já bem mais avançada do que eu. Como tudo que faz, Nikol se dedica. Não reclama e vai em frente todo dia. Sorri e sempre acha que pode enfrentar tudo que vier. E enfrenta. E quase sempre ela ganha.
A gente sempre fala daquelas duas coincidências primeiras: o playground e os maridos no mesmo emprego, mas foi só há uns dois meses que eu percebi algo sobre esse "encontro" com a Nikol que ainda havia me escapado. Era a segunda vez que eu ficava de baby sitter do Iven para que ela e Nik fossem comemorar o aniversário dela num show. Minha amiga já havia feito o mesmo por mim e eu estava lá com muito prazer. Não sei porquê exatamente eu comecei a olhar pela janela do apartamento quieto, já que o menino dormia. Era tarde, mas as luzes do lugar em frente estavam acesas. E, como num clique, acendeu em mim também uma lembrança. A sensação foi tão forte que eu pensei em voz alta:
- "Não pode ser!"
Olhei em volta e tentei imaginar o lugar sem os móveis e toda a decoração do casal amigo. Corri até o banheiro grande e "uau!". Sim! Era o mesmo apartamento do rapaz africano com a sueca. O lugar onde sonhei tantas coisas por viver e onde também imaginei nunca mais pisaria era o lar de uma das melhores amigas que eu havia feito na Suécia até aquele momento.
(Nikol e eu, em uma das únicas fotos que temos das mammas juntas, dia de praia, Malmö, junho de 2008)
Me emocionei profundamente e fiquei me perguntando qual o propósito de tudo. Nunca acreditei em destino e detesto pensar num plano onde devo me encaixar. Sempre me alegrou a idéia de que o Universo não pára e é o movimento dos astros, estrelas, das pessoas todas ao meu redor e longe de mim, junto ao meu próprio movimento de ir ou ficar que faz com que aconteçam as coisas em minha vida. Entretanto, nesse dia fiquei pensando que certos encontros parecem muito místicos, tão cheios de "coincidência" que fazem arrepiar.
Contei a Nikol e rimos juntas. Ela repetiu o que sempre me diz:
- "I say "thank´s God" every day for having met with you in that playground that day!"
Não é só a Nikol que agradece pelo encontro, eu também. E pelo ano que passamos juntas e por tudo que vivemos. E por tudo e todas as mudanças que ainda virão! Amém! Porque mesmo que a gente não saiba, o Universo e seu Criador conspiram bastante a nosso favor.
Comentários
acredito nalei do karma,
tantas historias o confirmam,,,
salud
Espero q essa amizade dure ainda muito anos!!
xero
Tack!!!! Had a bad night, was thinking of how stupid I am! Sorry again for yesterday!
Thanks for the great time, wow, almost one year of crazy sweden!
See you, and the next year will be great too;-)
Nikol
É como um grande amor. Adorei o sorriso da Nikol. Muito linda. E o filhinho, que encanto! Bom para o Angelo,já crescer sabendo o valor de uma amizade.
o colorido ....
muita cor ,
sinal de alegria...
E, parece mesmo, que estava escrito nas estrelas, com tanta coincidência entre vocês.
São amizades assim que levamos para a vida inteira, até quando nossos filhotes forem jovens. Também tive e mantenho algumas poucas çamizades que fiz quando meu filho era pequenino e as amigas tinham os seus na mesma faixa.
Somnia, Porque você não coloca aquela bandeirinha para traduzir seus posts? Tenho certeza que las gringas iriam adorar ler o que vc escreve e, quem sabe, conhecê-la melhor.
bjs cariocas
Muié, que coisa louca! Acredita que no meio do post eu tinha até esquecido do lance do apê + banheiro? (rs) De tão envolvida que fiquei na história de vcs duas...
A Nikol é realmente um doce de pessoa! Fico feliz por vc ter nos apresentado um dia. Tenho certeza que Deus colocou vcs duas na vida uma da outra... da mesma forma que Ele colocou vc na minha. E eu tb agradeco sempre! Ter vc aqui por perto é muito bom e faz toda diferenca!
Beijos
Xu-Muié
São essas amizades que levamos pela vida a fora!!
adorei!
beijos
pois é... ha muita teoria legal e bonita... eu cá misturo e faço uma salada somnia ...
e tem hora que acredito numas mais e noutras menos e assim vai..
e legal perceber que a gente sempre pode encontrar mais e mais gente legal e com afinidades ne? foi assim com a gente tambem! adoro ler voce e sentir o que voce pensa!!!
a Nikol é linda mesmo! uma amiga que a conhece diz que arrepiou tombem com o texto porque sabe que e verdade!
e voce? ja teve umas amizades assim?
sim! voce capta as cores! tem um olhar para a arte e o sensivel! acho que as cores representam em minha vida sempre a tentativa de captar e por pra fora toda a alegria contida
eu adorei sua sugestao! obrigadissima! eu vi la no seu blog... mas sou lerdinha, ainda vou ver como funciona porque nao sei exatamente.. e como meus textos sao super longos e cheios de trocadilhos nao sei o que daria um tradutor automatico... vou checar!
e viva nossa amizade tambem!
voce, a Niko, a Angela, Jessica, Ju, Paulina oh! que coisas otimas que foram colocadas em minha vida aqui!
mas sobre voce ter ses esquecido do texto... la do lance do ap do começo tente se lembrar que eu sou professora de redacao, e como tal, seria terrivel ter começado o texto com algo e nao retomado ate o final! falta de coesao total! haha...
sim! o que mais vale nessa vida!! nao e?
I didnt understand exactly you was feeling so bad! I love you mamma! dont worry about nothing!
Eu tenho uma amiga-irmã, sim. Engraçado que nossa vida daria um post. Basta nos olharmos, pra nos entendermos. Falamos muito, mas nunca as intimidades conjugais, por exemplo. Engraçado, não? Mas não aconteceu dos filhos serem amigos.