Pular para o conteúdo principal

Que jogo você prefere: "Just Ping" ou "Ping Pong"?

(Parece que como eu, ela não resiste a jogar um "Ping Pong")


Nikol, uma querida amiga que fiz aqui, usa uma expressão divertida para me explicar o que ela sente por determinados tipos de pessoas. 

O tipo número 1 é aquele que irrita porque, numa conversa por exemplo, faz com que o jogo seja apenas "Ping", quando você tá louco para que seja "Ping Pong". É aquele que não faz a conversa render porque é tímido, ou porque tem preguiça ou porque é chato demais e acha qualquer assunto sem graça. Uma conversa típica com o número 1 seria:

- Noossa! (diz você para ele, com cara de surpresa e de simpático) Você trocou a decoração dessa sala não foi? Está super bonita!
Ao que o sujeito responde sem mudar suas feições:
- É, troquei.  
- Ahnnn... É... e você disse que estava fazendo um curso novo não era? Super legal, porque é bom mesmo pôr a cabeça pra funcionar...
- ahã... É... (Continua ele com cara de jogador desinteressado).

O número 1 faz você fazer o papel do "Just Ping", sabe? quando você tá jogando a bolinha sozinho? Isso porque ele não te manda "Pong" nenhum. Você fica lá ansiando pelas bolinhas para que você não seja o único a se esforçar para manter uma conversa decente. Mas nada... 

O número 2, ao contrário, acaba fazendo com que você faça queira o jogo "Just Ping", mesmo quando você é como a Nikol, que adora fazer um jogo legal. O número 2, segundo minha amiga, não merece que você se importe em jogar as bolinhas de volta. Seria mais ou menos o tipo de pessoa que joga com as palavras, usando-as de maneira a te deixar sem vontade de jogar ou constrangido de querer continuar o jogo. 

Normalmente Nikol, alemã (organizada e séria) com raízes sérvias (mais parecido com jeitão animado brasileiro),  põe nessa categoria gente que fala demais ou que confunde poder se expressar com liberdade de falar o que quer da maneira que deseja. 

Gente assim ela faz questão de deixar jogando sozinho. Ela não se irrita, não perde tempo no jogo, não faz "Pong" para dar trela pro jogador. Ela deixa a bolinha cair do lado e põe a raquete na mesa. 

A Nikol talvez seja sábia. Eu ainda não sou tão boa jogadora. Eu sou o tipo "Ping Pong" em quase toda situação. 

Quando eu tinha oito anos, no primeiro dia de aula da segunda série, o Adriano, um menininho muito miudinho que era o primeiro da fila dos meninos, atrás de mim, a última das meninas, me olhou lá debaixo e disse:

- Oi Girafa! Ao que os outros meninos morreram de rir. 
Cansada das piadinhas da infância, me virei num segundo, sem dizer nada e fiz:
- Plaft! mandei um tapa na cara do coitado que chorou à beça. Eu mandei um "Pong" nele e virei o "leão bravo" da classe antes das aulas sequer começarem.  

Quando eu tinha uns quatorze anos, um homem de uns cinquenta tentou dar uma de esperto pra cima de mim, no ônibus apertado. Eu não tive dúvida. Virei pra ele e falei alto pra todo mundo ouvir:

- Se toca! Sai pra lá, seu velho-nojento-sem-vergonha! 

Na semana passada, conheci uma sueca mal educada, caso raro aqui. Uma senhora de muitas décadas de vida, cara de muito mal amada por todo mundo, fez assim com os braços, tipo "sai", incomodada, meio que empurrando a mim e a Jana do corredor da loja vazia, por onde ela queria passar. Esperei uns minutos, fui lá no corredor onde ela estava  testando milhares de gorros e tentei pegar um atrás dela. Quando a criatura me olhou sem sair do lugar eu não disse nada, mas fiquei gesticulando da mesma maneira que ela, meio que dizendo: "então, agora eu é que quero passar, você me dá licença!"

Adoro a teoria da minha amiga calma e pacífica Nikol e acho que ela tem razão. Certos jogos não merecem ser continuados. Se a gente tem que tolerar ser "Just Ping" para gente sem jogo, de vez em quando, é preciso aprender também a deixar aqueles que não sabem fazer um jogo legal no papel jogando bolinhas brancas sozinho. Talvez aprender que certos jogadores não merecem os nossos "Pings" e que outros não merecem os nossos "Pongs" porque, independente do resultado, o importante é como decidimos jogar ou não a partida. 

Comentários

Beth/Lilás disse…
Querida barbuletinha!
Eu sou tal qual você - Ping Pong.
Você duvida disso?
Principalmente, fiquei mais ping pong ainda, depois dos meus enta e poucos anos. haha
beijos cariocas
Somnia Carvalho disse…
ô Dona Betiiii,

Cê choveu no molhado... acha que eu tinha alguma dúvida que vc é o tipo Ping Pong? hahá... eu já sabia! eu já sabia! rs.....
Anônimo disse…
Sonia, sempre fui daquelas que via a bolinha de ping pong quicar pegando fogo do meu lado e eu dava uma sopradinha e deixava passar...agora com mais idade, menos paciencia e com mais senso de justiça e auto defesa nao perco uma raquetada. Tem gente me estranhando...mas eu estou lucrando com isso. Percebi que as pessoas confundem gente boazinha com gente idiota. Aprendi a ser sincera primeiro comigo mesma. Bj. Pinta New Ping Pong
Somnia Carvalho disse…
Dona Pinta Maioral!!!!

A-do-rei saber disso! Sempre olhei pra você pensando: como é que ela pode saber jogar e deixar a bola passar rolando??? porque você é inteligente, tem percepção, mas acho que, como qualquer pessoa mais tímida, você se sabotava quando ficava calada em momentos cruciais do jogo.

Preciso marcar um super encontro com essa nova e ainda mais demais Pinta... que tal em dezembro???

Postagens mais visitadas deste blog

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que