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"Everything's gonna be alright", lá lá, lá lá...

(Posando para as "tias suecas" da escolinha, Ângelo, Suécia, setembro de 2008)


Foi numa tarde do fim do inverno passado que eu timidamente voltei a fazer academia. Eu nunca tinha sido o tipo de ficar horas malhando e sempre odiei as máquinas em que você trabalha sozinho. Eu adorava mesmo eram minhas aulas de Body Combat e de Yoga que eu fazia aí no Brasil.

Por conta da gravidez eu havia parado os exercícios e, aqui, só havia feito uma deliciosa hidroginástica especial para gestantes.

E, então, após a minha primeira e exigente aula oficial desse ano, eu me acabei não foi na bicicleta, foi é no relaxamento. Uma música muito pop, das que eu nem tenho para ouvir em casa (No one, Alicia Keys) tocava alto na caixa e, ao som do refrão "Everything´s gonna be alright", com toda a adrenalina correndo nas veias, chorei brasilianamente no tapete de borracha.

Em meio àquela gente toda que eu nunca havia visto na vida, em meio a uma experiência que eu sabia me recordaria pela vida toda, eu me dei conta de que era a primeira vez que saía sozinha, fazendo algo só para mim. Me dei conta que, depois de muitos meses apenas sendo a provedora de leite, carinho, amor e conforto para o meu "bebessinho" pequeno e indefeso, era eu por mim mesma de novo.

Talvez isso lhe pareça muito idiota, se você ainda não teve filhos. Talvez você me entenda um pouco se teve, e se passou muito tempo cuidado só do seu bebê, em tempo integral como eu. E se o fez sem ajuda de parentes e amigos, acho que posso passar sem ser boboca. E talvez você me entenda muito melhor se fez isso em outro país, numa cultura, numa língua, num meio totalmente estranho a você e sua cria. Porque quando a gente tem um filho já deve ser sempre algo como um terremoto, mas quando a gente tem um filho num lugar totalmente diferente de onde a gente cresceu, viu e aprendeu como as pessoas faziam para criar e manter a salvo seus filhos, os seus instintos ficam ligados a mil por hora para que você consiga entender o básico e fazer as coisas funcionarem.

Então, talvez por isso, a sensação que tive, lá no meio da sala fria, foi de arrebatamento. Chorei, enxuguei um poço de lágrimas e deixei que a própria canção me consolasse: "Tudo vai ficar bem..." "Tudo vai dar certo e ficar legal..." Era assim que eu tentava pensar e era no que eu realmente acreditava.


(Sorvete, muita festa e sujeira na despedida do amigo sueco que ficou grande pra essa escolinha, Suécia, setembro de 2008)


Essa semana, algumas semanas depois de "O primeiro vôo do Anjo", fui em minha aula de Body Combat, com a qual agora me sinto familiarizada e, em casa novamente. Onde agora vou na companhia de amigas queridas, como a Xu e Ângela. Na aula onde o professor sueco sorri pra gente, porque somos as brasileiras animadas da aula, eu ouvi a mesma música novamente. Entretanto, dessa vez, foi uma sensação muito diferente daquela de abril passado. Um sentir de paz. De realização. Uma coisa danada de boa e uma certeza de que tudo realmente ficou bem. Que eu, Ângelo e Renato vencemos tantos desafios e cá estamos. Ângelo feliz da vida e aprendendo muito sueco na escolinha. Eu e Renato mais tranquilos e menos ligadões na tomada.

Diferente daquela outra vez não me senti separada deles dois, aquela quase dilaceração de antes. Pelo contrário. Percebi que não era eu por mim de novo, como pensei antes, porque isso agora é impossível. Sou eu e eles. Sou eu e minha família, sou e e cada um que eu trago comigo. Isso porque, como me disse o meu lindo companheiro ontem: muda o lugar, mas a gente não muda. Nossa identidade ainda está mantida em algum lugar deste tempo e espaço e, provavelmente isso seja o que mais nos dê a garantia de que tudo vai ficar legal. Sempre.


(As fotos que o pessoal da escola colocou nos murais e contou histórias para deixar a gente babando..., Suécia, setembro de 2008)

...

ps: essa sexta-feira estamos os três indo para Londres. Eu e Ângelo vamos esticar até a quarta que vem a estadia na casa da minha amigona Lujan. Vamos nos reencontrar depois de dois anos, na mesma cidade onde saímos sós com os maridos, quando Théo e Ângelo eram só planos. Agora seremos seis na mesa do jantar da casa deles. E eu espero curtir cada momentinho com todo eles!

Até lá, um beijo enorme para todo mundo e que tudo fique muito bem para vocês também!

Comentários

Anônimo disse…
Mais um texto tocante e profundo!

Só de ver essas fotos do Ângelo, sempre tão sorridente, dá pra ter certeza de que vc conseguiu, sim, e tudo ficou bem.

E, além de tudo, vc provou que a cada dia pode escrever um texto melhor que o outro. Parabéns!!!

Com muito orgulho,

Dri
Somnia Carvalho disse…
Querida Tia Dri,

Ce tá melhor?
Você viu que fofo lindo nas fotos?
e obrigada pelos elogios sinceros. Vindos de gente que escreve otimamente é de dar orgulho também.

beijao!
Beth/Lilás disse…
Que criança linda seu filho!!!

Bem, quando a gente mora longe dos familiares e forma a nossa família, como você marido e filhote, realmente ficamos bem mais "plugados" um no outro, principalmente num lugar assim de costumes tão diferentes dos nossos.

Quando eu casei fui morar com meu marido e filho (4 meses) numa cidade sem família por perto e nós três desenvolvemos um amor, carinho e preocupação um com o outro muito maior do que se a gente tivesse com papai e mamãe por perto.
Sinceramente, acho isso maravilhoso e você vai ver com o tempo, como isso une o casal.
Agora, sua brasilidade está a flor da pele, afinal além dessa distância imensa, tem também esse povo que é muito educado, muito discreto, mas profundamente frio e distantes e isso para nós é meio difícil de digerir. Só o tempo mesmo para se acostumar e tocar a vida como vocês agora estão fazendo.

Bon Voyage, menina!
um beijinho nas bochechas desse fofo que é o Ângelo.
abraço carioca
Renata disse…
Oi SO, amei seu texto porque vivi tudo isso que vc escreveu. Soube passar sensibilidade ao descrever momentos que realmente nos foram caros e que somente quem viveu sabe o que é. E tbm o quanto tudo isso é importante para nossas vidas. Parabéns pelo lindo texto amei!!!! Bjs com muitas saudades.

Renata.
Somnia Carvalho disse…
Querida Lilás, tô de volta!

Obrigada pelo carinhoso comentário!
É verdade! Amei ter estado em Londres, amei te estado com minha queridíssima amiga e família. Voltei, porém, com essa sensação de que esse tempo aqui com o Renato e o Ângelo valerá quase por uma vida para mim...

E voltei ainda mais feliz com o que tenho vivido! um beijo enorme e otima semana!
Somnia Carvalho disse…
Re, adorei ler você aqui!

Eu sempre penso em você por aí e como a gente deve estar vivendo coisas tão parecidas! dificuldades e alegrias e penso quando estivermos todos no Brasil de novo!

a gente vai ter muuuita conversa legal pra por em dia! e a Bia e o Ângelo - e quem sabe mais os que vocês trouxerem - vão poder brincar juntos... vamos olhar para os dois e lembrar de tudo isso aqui...

Ai! que legal! eu só queria mesmo era ter mais tempo de falar com voce! beijocasssssss! em vocês tres com muuuita saudade dos nossos encontros em Sampa!

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