Preparando a alma...
Em textos anteriores, escrevi sobre o pré-natal e o parto natural aqui na Suécia e de como as suecas se preparam psicologicamente e fisicamente para o grande evento que ë o parto.
Grávida no Brasil eu estaria experimentando sensações deliciosas e poderia dividir minha barriga e tudo o mais com as pessoas que amo de uma forma mais intensa.
Grávida aqui eu perco tudo que teria de bom vivendo aí, mas tenho, por outro lado, passado por uma imensidão de sensações que me permitem viver de outra maneira, mas não menos intensamente, essa fase da minha vida. Acho que além de preparar-se emocionalmente e cuidar do corpo é preciso que a gente consiga preparar a alma. Para o parto. Para a nova vida.
Na verdade, hoje sinto que estar grávida pode ser uma experiência que transcende qualquer expectativa que se possa ter sobre essa fase. Difere de qualquer vivência que se pode ter na vida, embora eu esteja convencida de que nem toda mulher precise estar grávida para se sentir transcedendo sua existência. Não vejo como uma necessidade para a vida da mulher. Eu continuaria sendo muito feliz, totalmente realizada no casamento, como pessoa e como mulher mesmo não tendo engravidado. A diferença é que se pode experimentar a vida por um outro ângulo. Eu tenho amigas que ficariam horrorizadas com o fato de se imaginarem grávidas porque isso, definitivamente, não está no calendário e nas expectativas de vida delas. É uma escolha, mas se houve a escolha eu acho desperdício que ela passe em vão.
Entre esse "viver e saborear cada momento" há um que ficará para sempre em minha memória.
Fiz algumas aulas de ginástica especial para grávidas na água em uma academia aqui em Malmö. Não é exatamente a nossa hidroginástica, porque os exercícios são preparados já pensando o parto e a preparação para ele e só grávidas participam. Nossa... foi lindo! se tem coisas maravilhosas que eu vou guardar dessa Suécia, uma das coisas será essa aula. Eu, uma peruana e umas 25 suecas (loirinhas, olhos azuis, barrigãooo gigante e perninha sem depilar) fazíamos a aula e no final a professora punha umas músicas muito calmas. Em uma em especial, do Vangelis, a gente fazia um círculo, todas abraçadas na água. Em sueco, ela falava umas palavras para nos acalmar (que não entendia "inte") e uma sim, uma não, íamos subindo as pernas e nos apoiando nos braços da outra. O círculo, quase uma espécie de mandala, começava então a girar (movido pelas que estavam em pé) em sentido horário carregando aquelas que estavam deitadas... Depois de alguns minutos, invertia-se e quem estava em pé, se deitava... Eu ali, na água, com mulheres que nunca mais eu iria ver na minha vida, ouvindo uma língua cheio de is e muito diferente do portugues, sendo acolhida naquele círculo onde todas os barrigões boiavam carregando bebezinhos.
Foi muuuito lindo, profundo e me ajudou a viver com maior intensidade ainda essa entrega que está longe de ser só minha. As imagens provam!
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