(A Cris, que dá um jeito de aparecer da festa de despedida à defesa de tese, em despedida minha e do Renato do Brasil, ano passado)
A partida
"Dia da partida. É giro. De há uma semana para cá que tenho sentido tudo como sendo a última vez. A última vez que vejo o amigo. A última noitada com a malta. A última volta de bicicleta com o meu irmão. A última vez que a minha mãe me prepara aquele bacalhau com natas. A última vez que estou a uma 3ª feira em Lisboa.
Já me candidatei há 8 meses para sair de Portugal. Desde sempre estive seguro desta minha opção. Ter mais uma experiência além-fronteiras era mesmo o que queria. No entanto esta melancolia de última hora faz-me questionar se vale a pena..."
Às vezes consigo falar com algumas das minhas queridas amigas que ficaram aí no Brasil. A distância física não abalou a proximidade, em muitos casos: o telefone ou a internet, ou um presente inesperado, ou uma carta pelo correio, servem para trazer à lembrança os anos todos em que construímos amizade. E matar a saudade. E fazer festa.
Em alguns casos, porém, fica mais difícil. E com algumas pessoas, apesar da saudade, nunca consigo falar.
Andei muito a pensar e lembrar de um filme que vi, ainda na adolescência, "Irmão Sol, Irmão Lua", de Franco Zefirelli. E, apesar de querer fazer um post depois só a respeito disso, fica hoje a idéia: deixar família, pais, amigos, lar, a casa e tudo e construir sua própria vida é uma das lições mais antigas que nossa civilização tem. E, ainda hoje, sofremos tanto com ela.
Mas, apesar do sofrimento, da distância e das perdas que nos são necessárias no caminho, ainda assim há tanto que ganhar e crescer. E isso o Francisco, de Assis, aprendeu bem. O Pedro, de Portugal, meu amigo de blog, e também eu estamos tentamos aprender.
(Minhas queridas Lu, Elô e Fá, na minha primeira exposição de pintura. Amigas para rir, chorar, discutir e crescer, julho 2005)
Falando, esses dias, com a Cris, cuja amizade começou em Sumaré, há tantos anos e foi parar em São Paulo, na USP, me deu saudade dela e de todas minhas queridas e caras amigas que tenho aí no Brasil.
Com algumas falo sempre, como a Mafer, minha irmã, a Pinta e outras muitas mais que fica difícil começar a citar... com outras, entretanto, o contato é assim, de alma, como a Susette, a Elô, a Cris e algumas mais. Muitas outras, como eu, também não estão no Brasil agora, mas trocamos algo ou tentamos nos encontrar quando é possível. E embora eu adore todas, sem exceção, e tenha muitas saudades, estar aqui significa perder esse tempo que tenho vivido aqui, com elas, aí.
Significa não poder ver a barriga do segundo bebê da Dani. Nem ver a casa nova da Daníssima.
Significa não ver os filhos queridos delas crescerem. Nem ir às festas de aniversários e casamentos que ainda estão a acontecer. Significa não ajudar minha irmã e meu irmão com suas casinhas e cantinhos...
Partir significa, sempre, perder.
Mas partir significa, sempre, ganhar.
Apesar de parecer melancólico eu creio, sinceramente, e sem demagogias, que nossa amizade permanece além das fronteiras. E que, poderemos tomar aquele café da tarde gostoso e dar risadas juntinhos, quando estivermos próximos fisicamente de novo. Acho, ainda, que é importante alimentar essas amizades, de alguma forma, para que não passem de "perdas temporárias" a "perdas necessárias", embora eu mesma tenha deixado passar em branco o aniversário ou tantas coisas da maioria delas.
Escrever esse blog é uma tentativa de troca. De conversa, ainda que eu também saiba que o que tem base firme se sustente, sempre.
Comentários
partido ao meio como o visconde
uma parte de mim quer silêncio e sossego outra parte se debate e luta no escuro tentando gritar.
mas sempre aqui, devagar e sempre