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Na Suécia também não tem... problema de pisar na grama

 (Piquenique com dezenas de amigos em meio ao gramado do FölketsPark, Midsommer, Malmö, 2010)

Eu já era razoavelmente velhinha quando fiz minha primeira viagem à Europa e ela foi não só inesquecível como também transformadora.

Eram muitas coisas diferentes, nunca vistas, nunca vividas, conhecidas só em filmes e livros sobre as quais eu poderia escrever muitos textos a respeito. Entre tanta coisa me lembro muito bem da felicidade de ter visto aquele povo todo espalhado pelos gramados das cidades lisboetas, francesas, espanholas e belgas. 

As pessoas não estavam fazendo nada de muito especial. Uns liam, outros conversavam, dormiam, descansavam, namoravam, ficavam literalmente de papo pro ar apenas ali deitados nos gramados verdinhos e cheios de florezinhas brancas e amarelinhas que nasciam na relva úmida. 

E também me lembro de ter desejado poder voltar muitas outras vezes e sonhado em poder viver num daqueles lugares, onde a vida parecia tão bucólica, algum dia.

(Esquilo se alimenta em meio ao parque de Londres e a gente faz a festa no gramado, Inglaterra, 2009)

Na Suécia, a regra de esparramar-se pelas praças, pela grama com a família, amigos ou sozinho não era diferente. Bastava o sol começar a dar as caras e o verde começar a brotar pelo mês de abril que o povo todo começava a se jogar pelos tapetes verdes naturais esparramados pela cidade.

Aprendi muito bem a fazer o mesmo. Piqueniques, dormidas, descansadas não faltaram nos 4 anos de vivência por lá e foi disso que me lembrei domingo passado quando fui conhecer o Parque da Independência, em frente ao Museu antes conhecido como Museu do Ipiranga, aqui em São Paulo. 

Seguindo nosso costume estranho de proibir que se pise, sente, passe na grama o parque estava cheio de placas de "proibido pisar na grama", mesmo estando ela feia, seca e longe de ser bem cuidada. Além das placas alguns guardas de bicicleta cujo trabalho era exatamente de assobiar muito alto e chamar a atenção de quem não respeitasse as placas. 

Certa altura, porque eu precisava muito vestir uma blusa em Marina e tudo estava longe do alcance, tentei sentar um pouco no chão com a menina nos braços e um dos guardas veio assobiando, me intimidando como se eu fosse uma delinquente. Colocou-se em frente a mim me encarando para que eu dali saísse. Encarei-o mais e terminei de fazer o que precisava. E então me fui. 

Achei tudo bem triste para ser muito sincera. 

Há coisas que aprendemos a fazer, a repetir, a cobrar, a perseguir para que todos façam o mesmo como se fossem a única escolha a ser tomada como aceitável e verdadeira. E fazemos cegamente ou porque só conhecemos tal opção e caminho ou porque nos disseram que aquela deve ser a única opção e caminho a ser seguido. 

Cuidar dos jardins de um parque público é dever de qualquer prefeitura e orgão público. Nós pagamos impostos bem altos para tanto. Impedir que o mesmo povo dito para quem se destina tais coisas seja proibido de usufruir com liberdade responsável tal coisa é um sinal fortíssimo de desinformação, de privação de direito

A grama nos cantos por onde passei na Europa eram as mais lindas vistas por mim até minhas duas décadas de vida embora tanta gente, tantos milhares de turistas nelas se deitassem. 

(Primavera na Bélgica significa... se jogar pela grama verde e deixar o dia passar em paz.. Renato e eu, Bélgica, 2006)

No Brasil a grama é tratada com uma dose exagerada de respeito. É um respeito de quem não sabe se envolver na natureza e acha que jardins são para serem vistos do outro lado da cerca e apenas aparecer em fotos. Tratar a grama como sagrada não é proibir qualquer um de nela poder ficar. Tratar a natureza como sagrada é deixar que as pessoas se sintam parte dela. Só assim é que o respeito pode ser sincero, vir de dentro e ser desejado verdadeiramente de dentro. 

Só assim uma cena vista por mim na quinta-feira, enquanto meu ônibus passava numa enorme e movimentada avenida ao lado do Hospital das Clínicas de São Paulo, pode-se espalhar sem medo: uma mulher sentada em flor de lótus, meditava sozinha e tranquila, em meio ao enorme gramado. Longe dela, muitas outras se amontoavam em bancos de cimento quente tentando descansar e não eram capazes de perceber que logo ali a vida podia ser sentida de forma tão, tão diferente.

"É proibido proibir pisar na grama" deveriam ser as únicas placas aceitas em parques públicos!

Comentários

Mariana disse…
Esta história de não poder pisar na grama é muito esquisita mesmo. E é tão arraigada na gente que em determinados lugares eu fico desviando da grama, rs. Só depois de alguns minutos é que percebo que sou a única que não está pisando naquele tapete que antes era proibido, rs.
Acho que o problema dos gramados no Brasil é a falta de calor humano, rs. Se mais gente deitasse naquela grama talvez ela estivesse mais verdinha.
Sandra Reynolds disse…
Um ponto de vista diffente: Tanto na europa como nos Estados Unidos, as estacoes do ano sao muito bem definidas, onde a propria natureza toma conta de irrigar e tradar dos gramados. Jah no Brasil me parece que esse trabalho acaba custando mais, pois eh trocado por trabalho humano, e sistemas de irrigacoes...
Por aqui, adoramos rolar, brincar, lunchar nos gramados dos parques...bjs. Sandra R.
Somnia Carvalho disse…
Mari tambem me lembrei de que eu fico muitas vezes evitando pisar em qualquer graminha... sobretudo porque pode ter alguem olhando...

eu entendo perfeitamente a necessidade de se preservar o gramado. Quando eu estudava na unicamp o gramado era lindo e tal e o pessoal cortava caminho por ele para ir ao bandejao! eu odiava tanto aquela atitude! eu metia a boca! caminhar pela grama e transforma la num caminho de terra quando ha a calcada para isso eu acho diferente.

Entende? o problema e que a gente nao tem essa noção, a gente nao consegue diferenciar que tem coisa que da pra fazer sem destruir a grama e tem coisa que nao... entao como nao consegue a gente proibide tudo.

eu vivia num lugar lindo no centro de malmo e tinha um caminho de grama e arvores e com terra no meio para a gente passar... todo o povo na primavera e verao vivia deitado na grama com a criancada, mas nao caminhava pela grama... para caminhar era a terra para nao destruir a grama...

eu entendo os porques eu so lamento que no fundo ha uma infinidade de coisas melhores que se pode ter quando se tem uma historia de educacao para tal coisa...
Somnia Carvalho disse…
Sandrita, eu tinha pensado na mesma coisa... nossa grama nao resiste tanto porque tem que sobreviver o ano inteiro! rs... imagina que na suecia eram 4 meses e olhe la!

entao eu concordo com vc! da mesmo trabalho e dinheiro! Voce falou de algo super importante mesmo!

ao mesmo tempo eu nao vejo sistema nenhum de irrigacao nos parques brasileiros, nem la no ipiranga que e considerado um jardim organizado... e tudo manual!! uma mangueirinha com aguinha escorrendo...

e replantacao? muito pouco! ai a gente podia pensar! ah mas tem coisa mais importante pra gastar do que jardim publico num pais pobre como o nosso! de fato tem! mas a verdade e que nosso dinheiro sobra nos cofres e vai parar em obra para aparecer e vender politico ou para o bolso dos mesmos...

e uma tristeza nao e?
Lúcia Soares disse…
É verdade que é tão proibido pisar na grama que eu "me pelo" de medo de fazê-lo!
No sítio temos um gramado em volta da piscina (após as pedras que a contornam) e me pego "nervosa" quando vejo pisarem nela! Mas depois vou lá, sem sapatos, e me delicio com o contato dela com meus pés.
O que falta no Brasil é educação para que os parques, jardins e afins sejam abertos aos passantes. Educação pura e simples.
Certo que a manutenção é difícil, há lugares onde o sol torra o dia todo..Mas nada que não se pudesse manter, com tanta tecnologia à disposição!
Em BH, o Parque Municipal é em pleno centro da cidade e há anos é cercado por grades, em toda a sua extensão. Uma feiura, além de fechar os portões às 18h e reabrir de manhã. É um espaço lindo, digno de qualquer lugar do mundo, com árvores centenárias, mas que tem vigias por todo lado, pois senão vira ponto de encontro de mendigos, de viciados, de vândalos por puro e simples prazer. Até os namoros são "quentes" por lá, tem que ter mesmo uma fiscalização.
Como a natureza foi pródiga com o Brasil, as pessoas não valorizam o que têm à mão o ano todo.
Quando eu trabalhava fora, cortava caminho passando por dentro do parque. Em plena avenida principal da cidade, uma selva de pedra, era só colocar os pés e dar os primeiros passos para sentir a leveza do ar, a pureza, parecia até palpável...
Grama e povo, Sônia, aqui no Brasil, são incompatíveis...
Beijos!
Zarastro disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Zarastro disse…
Pode ser que na Suécia seja assim, porque na França não era não. Namorida conta que ela e uma amiga ficaram só de calcinha e sutiã para tomar sol num gramado às margens do Sena. Em breve chega um policial e esculhamba as duas, porque afinal de contas, "era proibido ficar na grama"! Pelouse interdite, quoi!
Somnia Carvalho disse…
Lucinha, eu sempre penso quase o mesmo... como posso tentar imaginar aquela cena de descanso, desestress total de alguem que quer tirar os sapatos e sentir a grama macia e fresca no pe se e proibido pisar em qualquer gramado? rs...
Somnia Carvalho disse…
Oi Zarastro! acho um sarro a foto do seu perfil! rs...

entao, em algumas grandes capitais europeias e possivel que eles brequem o uso de alguns gramados sim... mesmo em londres por exemplo em que a maior parte dos parques em que fui todo mundo se esparramava na grama, ha um ou outro com placa de proibido, segundo depoimento de uma amiga.

Em Paris estive umas 7 vezes porque amo aquele lugar e tive oportunidade de voltar muitas vezes, mas ate estranhei voce dizer isso porque la eu me larguei em gramados e mais gramados, piqueniques e piqueniques e via muitos fazendo o mesmo... muitos mesmo. entao acho que a proibicao sofrida por ela deveria ser num lugar restrito nao? fiquei curiosa pra saber onde era...

abracao!
Beth/Lilás disse…
Soninha!
Aqui no nosso país tudo passa pela questão Educação e você repara que não é só nesta proibição maluca de não pisar na grama, mas também de dar autoridade a gente que não tem a mínima condição de tê-la.
Quer dizer então que o beócio do guarda foi pra cima de você como se fosse uma delinquente?
Se eu estivesse junto contigo ele não ficaria sem ouvir umas boas palavras. Jumentão!
E que delícia rolar nessas gramas com florzinhas amarelas! Vocês estão fofo na última foto, amei!
bjs cariocas
Anônimo disse…
Olá , já conheceu o Jardim Botanico de São Paulo ? Não dava nada por ele ... mas achei um belo passeio . E lembrando desse dia , havia um casal muito chique sentado numa toalha , tomando vinho emtaças e degustando queijinhos . Não achei realmente que estava nesse Brasilzão !!! Beijos , Claudia Ellero .
Somnia Carvalho disse…
oi Dona Lilasss!

ai dei risada de voce agora! que bom que ce me defenderia! rs... eu dei uma de topetuda com ele e ao mesmo tempo pensei como ele devia estar orgulhoso de cumprir tao direitinho o dever dele... porque eu sai mesmo da grama com a marina. E pensei nisso que falei no post... de como a gente cumpre ordem achando que e o maximo mas porque nao entendemos bulhufas do contexto.

beijoca
Somnia Carvalho disse…
Oi Claudia! e sua primeira vez por aqui nao? prazer e seja bem vinda!

eu tenho quase certeza de que nao... nao conheco o jardim botanico, ao menos nao com este nome... olhei no site deles e ainda assim nao reconheci. Pareceu mesmo super bem cuidado!

e la nao tem plaquinha entao? hummmm tomar vinho e fazer piquenique ao ar livre na grama num parque lindo? nao tem preco nao e?

valeu a dica!
vou pega um fds com a molecada e conferir!
Claudia disse…
Ora, ora,

Da próxima vez siga para a zona sul e jogue-se no Ibirapuera que a grama ali é liberada para deitar e rolar...

Nunca soube da proibição do Ipiranga, deve se algum chefe de segurança recém empossado que resolveu colocar os guardinhas na praça para proteger o parque do caos e não deve ser exatamente a grama que eles desejam proteger...

O jardim botânico de são paulo é bacaninha mesmo, estive lá algumas vezes para piquinicar com um namorado... fica perto de Santana, se me lembro bem. Mas dependendo da disposicão da prefeitura fica mais ou menos bem tratado... Naturalmente.

No Rio um piquenique na quinta da boavista é prazer garantido e dá para rolar na grama até se acabar. A grama ali ainda guarda o mesmo cheiro da minha infância quando meu programa favorito era rolar na grama do pequeno vale ao redor do lago e do palácio imperial.


Cláudia
Claudia disse…
Somnia,

Eu não sou a mesma Cláudia lá de cima não... mas meu blog mais atualizado é o saborsaudade.com e o blog da loja atualizado é outro. A loja fica no docevika.no e aquele blog que você encontrou está com os dias contados...

C.
Profa. Nádia disse…
Olá, Somnia,
Acabei de chegar de um passeio com minhas cadelinhas, onde aconteceu um incidente deveras intrigante, para não dizer tragicômico.

Moro em Camboriú/SC, e atrás da minha casa está sendo construído um condomínio luxuoso, que terá campo de golfe, marina, e tudo mais. Só que o local é exatamente o encontro do rio Camboriú com o rio Pequeno; portanto, um local de mangue, e deveria ser preservado. Mas não é isso que está acontecendo. Eles estão aterrando tudo; em alguns pontos, o aterro chega a 4 metros. Resultado? Na enchente de 2008, que arrasou o estado, nossas casas foram inundadas, já que a água não tinha para onde ir. Esse condomínio esteve embargado pela Fatma (Fundação do Meio Ambiente) por alguns anos; agora voltou a ser construído.

E ainda estão aterrando! Vários caminhões entram cheios de terra, enquanto dragas passam o dia todo cobrindo com a mesma! São tantos caminhões entrando e saindo, que o portão fica aberto o tempo todo. Com isso, os cachorros enormes que estão na portaria, ficam soltos, e nos atacam sem a menor cerimônia!

Hoje, ao passar em frente ao mesmo, deixei meus animais passear pelo gramado que fica do lado de fora das grades, junto à calçada (que ainda não existe) como sempre faço há 3 anos. Sempre tenho à mão sacos plásticos para recolher as fezes delas, apesar do gramado estar cheio de fezes de outros cachorros.

Ao passar em frente ao plantão de vendas, uma moça veio à porta pedir para eu sair da grama, pois eles tinham passado um produto, e por isso não poderia pisar nela.

Fiquei pensando: e aterrar o mangue, destruindo o ecossistema, e permitindo que as águas invadam nossas casas, pode?
Deixar cachorros bravos soltos, de forma que nos ataquem, também pode?

Em momento algum invadi a propriedade particular; não atravessei as grades nem o portão! Estava no gramado ao lado da calçada! Quer dizer que além de invadirmos o espaço dos animais, estamos proibindo os mesmos de curtir um pouco o resto que sobrou do seu habitat?

Isso é a completa inversão de valores!!!
Somnia Carvalho disse…
Oi Nádia!

Legal você enviar seu comentário pois seu depoimento é otimo!
é simplesmente muito contraditório mesmo! concordo com você! e uma coisa meio absurda que tambem tenho visto é que condomínios aqui tem colocado grama na suas calçadas de modo que quando saímos do carro não há como fazer senão pisar na grama, mas adivinha o que tem nela? um monte de placa avisando que e proibido pisar na grama...

essa coisa aí do mangue eu não sabia e fiquei boquiaberta! terrível! porque parece até que não tem ninguem que entenda do assunto lá gerenciando isso!

esse nosso país tem umas tristezas! mas acho que na medida do possivel a gente tem que por a boca no trombone! reclamar onde pode!

volte sempre! foi um prazer!

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