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Por que beleza é fundamental?


("Mulher nu com colar", Pablo Picasso, 1968)

Desde que o regresso ao Brasil foi confirmado eu tenho ouvido das mais diferentes pessoas, sendo a maioria suecas ou brasileiras, a mesma pergunta: do que eu sentirei falta ao deixar a Suécia?

Em todos os casos não hesitei em dizer que há, com certeza, muitos itens na minha lista, e passei a citar alguns deles, mas a insistência da pergunta ou de uma resposta mais objetiva, como a que um amigo francês e uma sueca me fizeram: "Não, Sônia, do que você vai MAIS sentir falta?" me fez eleger sem sombra de dúvida o que para mim é o mais forte, a liberdade.

Foi, porém, só o repetir do meu argumento me levou a perceber que minha resposta é ainda muito complexa. Na minha experiência de vida aqui e dado o tipo de pessoa, de formação e do que espero de uma sociedade e das pessoas eu sinto que sentirei falta de liberdade em inúmeros sentidos e vou começar a lista de posts citando um dos quais já há tempos não me sai da cabeça: a liberdade de ser "feia" ou de não ter que estar bonita.

Eu sei que a discussão é longa e complexa demais, mas deixa eu tentar esclarecer o que seria isso.

Desde muito pequena, numa cidadezinha do interior paulistano, aprendi no antigo primário que eu não tinha vez na dança da laranja baiana, porque simplesmente eu não era a moça bonita que os meus colegas imaginavam e a qual a letra da parlenda exigia: "Laranja baiana que vira em pó, galo que canta corocócó, pia que pia piripipi, moça bonita não sai da....qui!"

Nem eu, nem minhas duas outras amigas também esmilinguidas de magrelas, nem as morenas quase negras, nem as gordinhas, nem as de traços não delicados, nem as desengonçadas eram escolhidas. E olha que a gente tentava! Entretanto, só as meninas loirinhas, clarinhas, de corpinho bonitinho e de preferência olhos azuis eram selecionadas por todos da sala. E como os feios nunca eram indicados eles também não podiam fazer uma revolta e escolher outros feios e provar que beleza era algo subjetivo, por exemplo.

Sem revoltas no primário!

Bom, verdade é que isso me marcou profundamente, como deve ter marcado todas as outras meninas e meninos que não se encaixavam no padrão de beleza aprendido não sei direito de onde. Talvez de nossos pais em casa. Talvez da televisão. E ainda dos livros...

Junto de todas as piadinhas comuns da infância eu lembro ressonar na minha cabeça os versos de Vinícius de Moraes que lemos nessa época entre a 4a. ou 6a. série na aula de Língua Portuguesa. Não entendi bulhufas da análise do texto (nem mesmo sei se a professora o fez) mas eu lembro, ah! se lembro! certinho da primeira frase do poema Receita de Mulher: "As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental".

E lembro-me agora do quanto naquela época consegui odiar o tal poeta quem, na minha opinião, era "machista", apesar de eu não saber direito o que significa tal palavra. Essa exigência do que e como eu devia, precisava, tinha que ser para ser aceita me parecia mesmo horrível! E não me importava quem era, tinha sido ou seria Vinícius de Moraes, porque aprendi naqueles versos que precisava ser bonita para ser amada. Eu não fazia idéia também do que significa ser "bonita", mas imaginava que era não ser como eu era.

Você pode achar estupidez, mas não era. Eu era uma menina vivendo no início dos anos 80 no Brasil, onde todas as apresentadoras de tevê eram no mínimo loiras, altas e de olhos azuis. Eu não estava entre as eleitas e nunca estaria! Qual a saída? Desenvolver meu lado intelectual e ser bem agressiva com quem tentasse me lembrar daquela história. Perdi a conta de quantos tapas de mão aberta dei na cara dos meninos que me enchiam com apelidos do tipo "Olívia Palito" etc.


("Lolita", Maria Scavullo, in: Trigger)

E fui vivendo. E me valorizando como pessoa e também como mulher. Fui lendo muitos outros poemas e romances. Fui aprendendo e conseguir pôr em xeque toda aquela exigência que eu mesma acabei por me fazer... Senti que desenvolvi um estilo Somnia de se vestir e ser e isso ninguém mais me tiraria e conheci homens para quem a definição de beleza era um pouco mais ampla.

E eles viram beleza em mim, porque eu também já via...

Tudo parecia ir bem, obrigada! até que eu vir morar na Suécia. E até que depois de uns meses aqui voltei, como mãe, para o Brasil a passeio. É impossível esquecer como me senti: nas ruas, no supermercado, na padaria, no reencontro com amigos e família aquela olhadela looonga, fulminante, medindo-me do fio do cabelo à ponta dos pés, numa tentativa de confirmar rapidamente se eu, após ter tido filho e vivendo na Suécia havia engordado, emagrecido, caído, envelhecido, o diabo a quatro.

E é curioso como provavelmente as tais olhadelas já fossem uma realidade também antes, mas como eu só dei tanto valor depois de viver num lugar onde o que eu faço do meu corpo e das minhas roupas é simplesmente um problema meu. Onde eu mesma havia reclamado num outro post que NINGUÉM te encara na rua, ou te seca com os olhos, te critica ou te deseja.

Não quero dizer com isso que suecos e suecas sejam cegos ou que não sigam tendências de moda e idiotices para ficarem lindas também. Seguem! Adolescentes principalmente. Vi quatro meninas numa loja semana passada comprando e-xa-ta-men-te a mesma blusa-estilo-torcida-de-time-americano. Provavelmente influência de algum seridado que não conheço, mas a verdade é que se elas saírem de agasalho de torcida, de vestido de renda punk todo rasgado, de sapato tamancão e roupas pretas góticas, vestido transparente ou mini saia aparecendo o peito da bunda isso não fará a menor diferença para os suecos e suecas que cruzarem com elas. Dentro do pequeno grupo com o qual querem se identificar creio que sim, mas não fora dele.

Aquelas olhadas fulminantes que faz a gente sentir que está nua estando vestida eu juro que nunca senti aqui, a não ser de uma ou duas pessoas também brasileiras (ou latinas).

No último janeiro aí, com calor de 39 graus, saí de blusa decotada e shorts com o Ângelo no meu bairro em São Paulo e ouvi, além das várias buzinas de carros, olhadas do tipo "eu sei que você se vestiu assim dengosa pra mim!" uns desaforos do tipo: "E aí, tiazona, vem pra mim..."

Essa "liberdade" de dizer o que der na cabeça, de criticar e intimidar o outro de acordo com os padrões rígidos, machistas e ultrapassados brasileiros é algo que com certeza aqui eu não encontrei.

Em todas as voltas ao Brasil, sem exceção, senti novamente aquela cobrança enorme para que eu seja linda, ou pareça, ou ao menos me esforçe para ser linda. E tudo bem que há dias que a gente queira estar linda e se cuidar, mas tem dia que não se está mesmo a fim! E aí?

O que vejo é que mesmo as conveniências, as quais eu mesma estava acostumada a ceder e gostar como manter o cabelo legal, fazer manicure, pedicure, mega depilação, sandália, vestido, TUDO que faz parte do pacote de quem se preocupa em não estar entre as "muito feias", me irritaram profundamente se percebo que PRECISO fazer porque alguém vai me olhar e achar que sou menos, valho menos porque não estou querendo e tentando ser linda!

Ao mesmo tempo que é uma delícia poder pagar tão pouco e me dar a esses "luxos" os quais a Suécia não proporciona, não dá para negar a sensação de sufocamento quando percebo que minha escolha se torna uma necessidade. Que minha escolha NÃO É UMA ESCOLHA.

Não sei se tem a ver com o clima, porque nos mostramos mais do que nos mostramos na Europa, onde o inverno toma quase 6 meses do ano ou mais, como aqui. Talvez sim. Eu posso estar redondamente (bem redonda agora de 7 meses!) enganada, mas quando alguém me mede assim nas minhas chegadas aí ainda sinto aquela voz dos amigos do primário que não sabiam direito o que cobravam, mas estavam ali para julgar quem era e quem não era bonito. Quem estava e quem não estava adequado para entrar na roda.

O mais triste, além deste fator é que normalmente quando agimos assim de forma sádica, medindo as medidas dos outros estamos nós mesmos sofrendo o mesmo tipo de pressão. Não só dos outros, mas de nós mesmos. "O inferno são os outros", Sartre já previa... e o outro pode estar no espelho refletido...


("Mulher em frente à janela", Fernando Botero, 1990)

Sinto em tantas mulheres brasileiras ainda um deixar-se dominar muito grande. É claro que não é via de regra, mas se comparo com a moda na Europa, os nossos cabelos são muito mais longos, escovados, compridos e... sensuais... As blusas são mais grudadas, as calças jeans e o sapato alto parecem ser um esforço para marcar a... sensualidade. As unhas vermelhas, o batom, a bolsa colocada da mesma forma que outras milhares do lado são uma combinação perfeita para dar um efeito... sensualíssimo... Isso tudo sem contar o número gigantesco de cirurgias plásticas feitas todos os dias até mesmo em pré-adolescentes como forma de entrar na linha...

Eu concordo que o cuidado etc e tal, tudo isso pode até ser lindo, mas o importante ao meu ver é pensar: é lindo para quem? Para nós mesmas que acreditamos que dizemos que vamos à manicure toda semana porque gostamos ou para o marido, o namorado, o paquera, os amigos e parentes dele e nossos?

Eu tenho a mais absoluta certeza que há nisso alguma escolha, mas também me sinto numa arapuca quando sei (porque já ouvi) que quase a maior parte das mulheres que conheço no Brasil julgam o que julgo como liberdade por aqui algo que prove como as suecas, ou muitas européias são desleixadas, sujas, porcas e não sensuais. Quer dizer: não há muita chance de dizer que prefiro ser como as européias porque isso inclui assumir que gosto de ser "desleixada, suja tatatá..."

Eu mesma, apesar de querer ver o mundo com outros óculos, tenho dificuldade, com toda esta cultura do "tem que ser linda, gostosa e sensual", de não me sentir constrangida quando, na academia de ginástica que frequentava, as suecas ficam todas peladonas se trocando, abaixando, pondo o sapato enquanto põe à mostra suas nádegas e peitos. Malhadas ou fofuchas, morenas ou branquelas, sem ou com muuuito pêlo elas não se preocupam com o que eu vou pensar. O que eu vou pensar não é problema delas. É problema meu! E pareceu-me que dez em cada dez suecas, com as quais deparei nesta situação, estão se lixando se e eu ou você achamos que alguém só pode tomar banho na academia se não for "muito feio" e se estiver dentro dos padrões exigidos pela academia de sensualidade brasileira.

Dá para entender um pouco do que tento explicar aqui? É essa liberdade de ser feia, peluda, gorda, magrela, fedegosa, sem sex appeal OU LINDA que eu acho legal. É ver o pessoal no mercado de terno, de camiseta, de roupão, de casaco por cima do pijama que me faz sentir que posso escolher as muitas facetas de mim mesma no dia que mais me convém.

Aqui não é perfeito não! Tem pressão também, tem crítica também, mas é aqui que frequento um grande shopping center onde na entrada se vê a placa com a foto de dois funcionários dando boas vindas e eles são respectivamente uma moça bem gordinha (e linda) e um moço de pele escura.

É esse ser livre a ponto de nem sequer se preocupar com a questão de se "beleza é ou não fundamental", inclusive porque beleza é um conceito tão complexo e que muda tanto dependendo da época em que se vive do qual eu já pressinto que terei muitas, mas muitas saudades...

Comentários

Rita disse…
Oi, Somnia

Há tempos não comento, mas venho sempre. Adorei esse texto tão lúcido. E, sim, você sentirá saudades da liberdade de ser despercebida, com certeza. Mas não há de ser nada... você vai tirar de letra.

beijos,
Rita
Anônimo disse…
Olá , eu nunca comento , porém sempre sigo seu blog . Mas hoje , digo à você , que após ler sua postagem eu estou de pé te aplaudindo !!!!!! Parabéns pela franqueza e pela inteligência do texto . Sou brasileira , mas com certeza meu sangue europeu também fala mais alto . Sou muito mais saber do que aparentar . Parecia que estava até me descrevendo ... Parabéns mais uma vez pela sua sensibilidade . Beijo , Claudia .
Ivana disse…
Sônia, entendo sim! Como brasileira, também sinto esta cobrança eterna (do outro e de mim mesma) e, hoje, aos 37 anos, me sinto "acorrentada" a esta idéia de beleza eterna e vivo em um eterno paradoxo. Sim, porque além da avaliação a que todos te submetem (amigos, colegas de trabalho, família), ainda tem o fato de que se tem que ser jovem eternamente, mesmo que para isso você se transforme em algo que nunca, nem de longe, lembra a foto que está na sua carteira de identidade: boca retocada, olhos sem expressão de tão repuxados, etc.
A questão do peso também é um saco! Tem que se estar magra SEMPRE!
Moro em Floripa, como já sabes, e quando visito a família em Belém, sinto estes mesmos olhares. Alguns parentes com quem nunca falo, vem até fazer "visita", com o claro intuíto de ver/saber se você tá magra ou gorda; envelhecida ou não; casada ou solteira (sim, porque isso tb influencia na "avaliação"); se trabalho ou não e onde. Se der espaço, também perguntam quanto você ganha. Se tem carro (qual?); se já tem casa própria e tudo o mais! Com o tempo, fui indo cada vez menos à Belém. Mas claro, que isso não me livra das cobranças e avaliações, principalmente porque elas estão também dentro de mim.
Por isso me sinto tão liberta quando viajo (principalmente para outro país), quando me sinto absolutamente liberta para ser quem eu quiser, vestir o que quiser, sem pensar em nada.
É Sônia, depois me diga como consegue "driblar" esses olhares, quando repara que eles são de reprovação...
Um beijo!
despachos disse…
Acompanho seu blog há muito tempo e adoro seus posts. Hoje quero fazer uma ponderação.
Vivo em Curitiba, talvez a cidade mais conservadora do país. Mas aqui, porque é muito frio, não temos obrigação do corpo perfeito e ninguém estranha ou acha feio alguém gordinho ou passado dos 40.
No clube que frequento as mulheres tomam banho e se trocam uma na frente das outras (apesar de existirem box fechados). Ninguém se incomoda com isso, fica medindo ou constrangido. É rigorosamente natural. Senhoras de 60 ou 70 anos se enxugam ao lado de moças de 20.
No mais, acho que o incômodo com o que os outros vão achar ou com olhares infames é o verdadeiro problema. Basta simplesmente ignorar. Eu nunca tive esta preocupação na vida, nunca sequer percebi olhares de desaprovação com meu corpo de 40 anos que nunca viu uma academia de ginástica. Não me incomodo com meus cabelos já branqueando (que não pinto) ou com meus seios meio caídos depois da gravidez.
Eu simplesmente amo quem sou e nenhum olhar é capaz de me constranger.
Quanto aos europeus, já fui objeto de olhares e "cantadas" indecorosas na rua... nem tudo é perfeito e nem tudo pode ser generalizado...
Digo isso não como crítica, mas como reflexão. Nossa cultura valoriza demais aquilo que vai pela cabeça dos outros e, antes dos padrões de beleza, devemos nos libertarmos do outro.
Beijos e seja feliz no seu retorno.
Daniela disse…
Eu diria que poderia ter escrito esse texto não fosse porque eu jamais conseguiria escrevê-lo tão bem, de maneira tão lúcida, tão perfeita, tão ponderada. Você é demais, Somnia.

Eu costumo descrever a experiência de morar fora do Brasil (foram só 9 meses na latina e caliente Espanha, em tantos sentidos tão diferente da Suécia) como a primeira vez que me senti confortável em minha própria pele.

"ninguém liga como eu me visto, ninguém liga se tou acima do peso, os moços me paqueram assim mesmo, ninguém me chama de gostosa na rua se eu sair de decote...". É realmente uma sensação de liberdade maravilhosa e eu senti muito, muito mesmo, perder isso qdo voltei.

E ficava chocada as primeiras semanas. De como andamos decotadas,apertdas, com tudo à mostra, como ser "bonita" ou estar "bem vestida" no Brasil é sempre, sempre, sempre associado a quão gostosa, sexy, sensual, você parece.

O tempo que eu morei lá eu jamais, repito J-A-M-A-I-S vi alguém falando "preciso fazer dieta" ou "qtas calorias tem isso" ou "já comi dois pedaços, exagerei, amanhã só na saladinha" a menos que estivesse na companhia de mulheres brasileiras.

Outra coisa é que eu reconhecia as brasileiras à distância. De novo essa coisa de ser sexy, a fórmula jeans apertado, camiseta justa costa nua ou decotada, salto alto.

Sei lá. Acho opressiva mesmo essa relação com o corpo no Brasil. E eu, como você, desde cedo me senti preterida nas festinhas, nos bailinhos, em tudo. Lembro de uma vez com uns 13 anos que o irmão de uma colega de escola se recusou a apertar a minha mão e a da minha irmã. Era uma fileira de meninas que a minha colega e irmã dele ia apresentando e qdo chegou nossa vez ele simplesmente nos ignorou, passando para as garotinhas seguintes. Claro que éramos as únicas negras da festa inteira e ainda de trancinhas nagô. Fiquei com tanta vergonha e raiva da minha mãe, pq pra ela aquilo era um bom penteado, pra mim era o motivo de passar por aquela vergonha na frente de todo mundo.

Acho que por isso, pq eu aprendi muito cedo como esse padrões são cruéis, que eu sempre me rebelei contra eles. Não existe nada natural né? A gente que construí tudo. E se construiu, a gente descontrói tb.

Não vou revisar pq isso ficou ENORME.

E desculpa qq coisa. Vez ou outra eu fico tomando sua caixa de comentários de assalto. Shame on me.

Beijos queridona!
Mariana disse…
Quando vc começou falando de liberdade eu já me identifiquei, porque aqui no Canadá, vivemos também muitos tipos diferentes de liberdade. Uma dela com certeza é esta e eu acho o máximo. Sou um pouquinho vaidosa, mas nunca fui em manicure na vida e detesto sentir dor para ficar bonita, portanto nunca me depilei com cera ou tirei a sombrancelha. Então, sempre sofri muitas e muitas pressões no brasil. Como nunca fui a loira linda de olhos azuis, acabei seguindo a linha livro na mão (rs, rs, rs). Mas viver em um país onde eu posso ser exatamente como eu sou sem nenhum tipo de pressão mudou totalmente a minha percepção de vaidade. E hoje a tarde fiz pé e mão com direito a esmalte vermelho e aquela sensação de ultimo biscoito do pacote. Acho que pela falta de pressões, fazer a unha, escovar o cabelo e tirar a sombrancelha passaram a fazer parte da minha vida como se fossem escolhas minhas e hoje eu me cuido muito mais do que fazia no Brasil. Ainda bem, porque sei quequando for passear por lá vou ser fulminada pelos olhares!!!

bjs
Somnia disse…
Oi Rita!

Tirar de letra eu não sei, mas ao menos já estou preparada psicologicamente para a remudanca! rs...

Acho que adaptar-se faz tanto parte da vida e e algo que fazemos mesmo tao bem que veja que apenas depois de 3 anos e meio eu falo do Brasil como sendo estrangeira e to aqui defendendo algo que eu nem mesmo conhecia na pele... Me adaptei a tanto na Suecia que sim, provavelmente aguentar olhares e cobrancas eu vou driblar facil!

beijo e obrigada pelas suas visitas carinhosas!
Ju Moreira disse…
Clap clap clap... adorei o texto.

Vc conseguiu descrever exatamente o q penso a respeito da angústia q dá so em pensar ir ao BR e se deparar com comentários desagradáveis; e de como é bom viver aqui pelo fato de vc poder ser quem vc é.

xero
Somnia Carvalho disse…
Oi Claudia! legal que gostou do texto! e que comentou!

vc vive na Europa? viveu? ou tem descendencia? fiquei curiosa em saber...

eu acho que aquilo que nao e a regra de onde nascemos e crescemos normalmente torna-se estranho ao olhar... por isso eu entendo que de primeira mao a gente, ou muita gente, veja os costumes daqui como de desleixo e tal... mas aos olhos de quem vive aqui e o contrario... nos e que somos neuroticas demais, inseguras demais e sempre preocupadas em agradar um homem qualquer...

pontos de vista diferentes.. o legal acho e conseguir fazer a ponte, ir de um lado pro outro vc nao acha?
Somnia Carvalho disse…
Ivana, eu ri muito com seu comentario de manha quando li, mas as minhas respostas nao entravam...

entao, vc tem razao: e um fuça fuça em tudo!!! e eu nem falei da questão financeira! voce tem toda razão!

ta linda? tem carro? ganha bem? hahaha... o vida amargurada a que a gente pode levar se for ouvir tanta exigencia!

acho que vc tocou num ponto bom: o problema e nosso dilema... a gente quer seguir mais nosso desejo, mas fica nesse querer agradar, querer parecer bem na fita... e esse e o problema maior...

Sobre sua pergunta eu nao sei se consigo driblar os tais olhares nao! normalmente continuo a mesma grossa do primario: se olhar demais ou dependendo do comentario eu TASCO uma resposta atravessada e nao to nem ai com o resto... quer dizer eu tento nao estar nem ai com o resto... rs...

acho que e isso: eu vivo dando resposta mal educada! rs
Somnia Carvalho disse…
Oi Luciane!

olha to tentando abrir seu blog para conhecer mais de voce e nao entra... vi apenas uma fotinha de bolsinhas bordadas e caiu de novo...

Então, obrigada por vir aqui sempre e que otimo que resolveu comentar! e ponderar!

Eu passei uns meses indo e voltando de sampa a curitiba, porque casamos e fomos morar ai, mas nem cheguei a sentir o gostinho direito...

Concordo com voce: o problema e o quanto a gente valoriza as criticas! e se vc sabe lidar bem com elas, ou se voce e segura e tranquila suficiente voce normalmente nem notara, nao sera alvo delas...

Acho que quanto mais a gente tenta agradar, quanto mais fazemos o estilo "to suando a camisa pra mostrar que consigo" mais a gente e alvo de critica... Entao so concluo que vc e maior tranquila, que se sente segura e bem no seu corpo de 40 (meu Deus!!! que velha! haha... do jeito que vc falou parecia falando de uma matusalen, tem apenas um ano mais que eu!) entao afugenta gente chata... por outro lado Lu eu acho que vc nao deve prestar atencao tambem! entende?

quem se incomoda normalmente presta mais atencao e entao eu concluo que eu me incomodo muito porque percebo tudinho...

Fico mesmo feliz que ai vc sinta que ha um pouco de libertacao das mulheres que ve nas academias... eu nao sei dizer direito sobre academia em sao paulo, porque eu nunca fui de tomar banho la etc... mas embora eu entenda o que vc diz, entendo que generalizar como se toda mulher brasileira sofresse desse desespero e todo mundo a sua volta de cobra-la de ser linda e gostosa queria dizer que eu nao acho isso... Nao generalizo porque acho que todo mundo ai e assim e todo mundo aqui e tranquilao! mas porque NO GERAL, no que ouço das mulheres dai, de 9 em cada 10 amigas dai estão sempre falando a mesma coisa: como engordei, como meu cabelo ta feio, como minha unha ta comida, como minha pele ta maltratada!

e eu ainda tenho amigas descoladas que estao longe de ser as malucas que passam o sabado na academia carregando ate as filhas de 2 anos para pintar unha...

entende? o que a maior parte me diz e que a gente e sim muito mais neurotica com isso do que as europeias, sobretudo as suecas... aqui e mesmo muuuito mais "relaxadão" nesse sentido...

de qualquer jeito acho otimo vc vir e dizer: nao e todo mundo assim! e mais ainda: depende mais da gente do que do outro que essa coisa toda vire um inferno!

abracao e volte mais x para a gente ficar trocando ideia!
Beth/Lilás disse…
Soníssima,
Chiiiiiii, eu sei como é que são essas coisas! Brasileiro ou latino, sei lá, tem mesmo esse tipo de comportamento e preocupação com o que veste, se está gorda ou magra, um saquinho mesmo!
E você ainda é jovem, imagine como são estes olhares em cima de mulheres na minha idade, com todo o desconforto e prejuízo que a bendita menopausa realiza sobre nós.
Mas, eu ando meio aceitativa sabes!
Antigamente me preocupava mais se estava com unha feita, cabelo sempre bem pintado, agora faço quando quero e posso, livrei-me há tempos das amarras que estas imposições de nossa sociedade tem sobre nós. E uso aquilo que fica bem em mim e não o que está na moda, tudo isso tira nossa liberdade realmente.
E o Rio, ainda é um dos lugares que tem menos frescura com esses hábitos, pois vemos muita gente à vontade, sandálias havaianas, roupa mais despojada, um astral mais solto.
Meu sonho era poder andar que nem a Frida Kahlo, com saias rodadas, coloridas e flor no cabelo, hummm como seria bom!
bjs cariocas
Ai eu quero ir morar na Suécia! Alguém me arruma um emprego aí que eu vou correndo...ô país bom esse, viu? Tô cansada dessas futilidades desse país de terceira classe, com suas bundas e peitos siliconados, saradas e saradões por todo lado, olhando as pessoas "normais" como se fossemos ETs...tô cansada, quero morar aí.... beijos adorei o post!
Somnia disse…
Dani, por favor escreva sempre seus relatorios de percepção aqui que adoro!

olha que achei que vc ia dizer que nao tinha sentido isso na Espanha, inclusive porque a gente sempre tende a associar o comportamento latino em geral...

Fico feliz de voce dizer que mesmo la, onde os suecos por exemplo acharão que e muuuito diferente daqui ainda assim tem essa questão da liberdade mantida...

So estive em Madrid e Maiorca então não consigo ter muito parâmetro para comparar com aqui e Brasil!

Então acho que vc tocou num assunto ótemo Dani que eu mesma tinha me esquecido. Lendo vc falar do quanto nós e nossas amigas falamos o tempo todo da dieta me deu um uau! verdade!!! isso não e assunto aqui! tenho amigas que fizeram depois de ter bebe, mas foi tão sem neuras e esse nao era o assunto principal que eu simplesmente esqueci disso...

Eu ainda reclamo da barriga, disso e daquilo, mas entre as amigas das zoropa e bem menos neura mesmo...

Tenho receio de ficar repetindo essa teoria porque ela pode soar como maior antiquada e sem criterio, mas ainda acho que a questao do calor brasileiro ajuda muito... O fato de estarmos a maior parte do ano com o corpo descoberto porque e quente (aqui o verão maximo e a primavera nossa) acho que ajuda a ficarmos mais ligadas nesta questão...

Embora eu tambem note que mesmo no verao daqui a molerada sai de pelo na perna, no sovaco e os biquinis estao looonge de mostrar tudo e terem essa coisa do apelo sensual tao forte...

oi! escrevi demais!
Somnia disse…
Mari, fazer o modelo carregando o livro é legal!
rs...

engraçado como com o tempo a gente gosta tanto de fazer aquilo que sabemos e escolha nossa nao?

mas to te admirando! no Brasil eu nao acho facil fugir das exigencias (minhas) sobre estar mais ok nao!

acho isso admiravel! que nem a Luciane ai em cima, que nem amigas que conheco que simpesmente não vao na onda porque tem que ir... eu vou porque gosto, mas gosto porque talvez eu seja reconhecida no grupo das mulheres casadas com filhos que ainda se arrumam...

beijao
Somnia disse…
Lillasoca,

Verdade... acho que em cidade de praia a gente fica relax que so... chinelo havaiana, toalha na cintura... se bem que ainda tem aquela coisa com o biquini e a depilacao que aqui voce nao veria como ai... mas ja e legal!

mas eu fico feliz que com o tempo passando a gente mude e priorize o que goste de fato! oxala eu consiga fazer o mesmo!

preciso falar algo sobre sua urrtima frase, mas so posso falar semana que vem.. .rs..

beijao
Somnia disse…
Glooorinha aqui tem muita coisa que voce odiaria provavelmente, a começar pelo clima...rs

mas essa coisa ai que falei em cima e verdade... e pega muito quando a gente vive um tempo e sente todos os dias a diferenca sabe?

uma outra coisa que voce nao gostaria aqui e que e bem dificil arrumar trabalho se for estrangeira... mesmo falando bem a lingua e tal... entao eu ainda vou fazer uma lista do que tem que nao e legal pra voce nao ficar com tanto desejo... rs
Luciana disse…
Lá pelo RN também é assim, o povo cutuca mesmo pra te verificar. Estou indo esse ano ao Brasil, minha mãe já mandou eu fazer trocentas dietas, porque dei uma engordada, já disse que eu fosse comprar roupas bonitas e tal, ela me disse que no Brasil o que vale é beleza, temos que ser belas e ponto. Näo que ela não esteja a muitos kilos acima do que ela gostaria de estar, mas cobra das filhas, kkkkkk

Acho que o povo confundiu nos comentários Suécia com Europa inteira, porque essa liberdade estética que você encontrou aí na Suécia, encontrei aqui na Noruega também, mas já em outros países da Europa não é bem assim, tenho amigas e minha irmã que moram na Itália, e lá é bem parecido como no Brasil, talvez somente os padrões que mudem, como no Brasil é belo ter marquinha de biquini, em outros cantos é vulgar, e por aí vai.

Compreendi também e vejo isso aqui, de que sim, as mulheres e homens se preocupam com a estética, são vaidosos, o que eles não fazem é dar conta de como os outros estão, não ficam com uma lupa nos avaliando. As mulheres aqui fazem dieta sim, mas se eu tô gorda problema meu, näo ficam me analisando e verificando minhas celulites, como sei que vai acontecer assim que chegar no Brasil, sem falar nos comentários: Nossa, como você engordou!!!!!!

Quando fui ao Brasil há três anos, apenas com 5 kilos a mais, me senti uma super baleia, foi daí que percebi que tinha engordado, aqui eu nem tinha me dado conta.

Beijo
Anônimo disse…
Ler seu texto me fez voltar ao passado, quando cursava a terceira série e não fui escolhida para ser rainha caipira.Não conseguia compreender por que escolheram a japonesinha linda que sentava ao meu lado e não me escolheram, logo eu que queria tanto.Foi desta forma, aos oito anos, que senti pela primeira vez que nunca seria escolhida, porque eu não era bonita.
Marcela disse…
Brilhante!!! Quando me mudei para a Noruega foi um choque não ser olhada. Não queria comprar casaco longo para esconder todo o meu corpo, me lembrava de quando minha mãe me dizia: eu gosto de que saibam que vem uma mulher há 20 metros de distância, ou seja, sempre com roupas femininas e acinturadas. Imagine para mim com 22 anos ( idade em que cheguei ao Pólo Norte, agora tenho 24) queria impressionar o meu viking e por depender dele me sentia insegura por N motivos como não ter as melhores roupas de inverno, não fazer as unhas, etc. Às vezes eu pedia desculpas se eu relaxava um pouquinho e não estava arrumada para ele em casa. Um dia ele me disse que eu não precisava me preocupar em estar linda sempre. E lendo seu post eu compreendi que toda essa cobrança que sofremos no Brasil vem conosco para onde formos. Porém nada como o tempo para acertar os ponteiros. Agora uso casaco até o joelho e nem ligo- ninguém iria olhar para mim na rua anyway! rsrs VIVA! Posso ficar quentinha e passar despercebida, e guardar minha sensualidade para as horas em que eu deva realmente usá-la. Não preciso ir ao salão e ter momentos de irritação com as conversas fúteis e perguntas indiscretas sobre a minha vida, nem pagar para alguém me arrancar um pedaço de dedo! rsrs
E por último e mais importante: Posso focar em outras coisas e me sentir bem por ser simples, embora quando vejo uma latina toda produzida eu ainda me sinta menos mulher naquele momento. Quem sabe um dia a mentalidade norueguesa entra mais em mim e me cura disso também! rsrs

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(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que