Nossos amigos se foram. Voltaram ao ninho pequeno e quentinho em Londres, onde cuidam um do outro. O reencontro e o tempo juntos foi novamente inspirador e cheio de aprendizado, mas o tempo e a vida não pára.
Enquanto estávamos aqui felizes, alguns amigos no Brasil estavam chorando a perda da amiga Sandra.
A Sandra (de sobrenome Conti) era editora de imagem do “Super Nanny” e do “10 Anos mais Jovem”, ambos programas do SBT, onde trabalha mais um tanto de gente amiga que eu gosto muito. Recebi a notícia na terça a noite, por um email de minha cunhada Dri, uma de suas melhores amigas, e fiquei como a gente fica assim passado, sem chão, quase sem piscar o olho, desacelerando o coração.
Em alguns anos que conheci essa grande amiga dos meus amigos eu só lembro da Sandra sorrindo. Lembro-me de seu abraço apertado nas poucas vezes em que me encontrei com ela nos últimos três anos. Lembro-me de sua animação por me ver, por ver o Ângelo que ela adorava e era fã por osmose. Lembro-me dela dizendo: "precisamos nos encontrar mais!".
Por sorte nos encontramos todos num bar antes de voltarmos para cá, em fevereiro passado, e lá estava a Sandra brindando uma caipirinha. Lá estava ela com sua voz rouca bonita, com seu cabelo amassadinho, com suas mãos carinhosas a apertar todo mundo.
Estou longe e não posso abraçar meus amigos que estão aí tão tristes, nem minha cunhada, nem consolá-los por tamanha perda... Só consigo dizer que se não é possível parar o trem da vida, ao menos que nos lembremos dos dias felizes. Que fique em nós não o que poderia ter sido, mas a lembrança do pouco que conseguimos partilhar. Que fique o sorriso, não o choro. Que fique o abraço e a alegria de viver, porque era essa alegria que eu sempre vi na amiga de vocês e na minha "amiga por osmose". E que nos consolemos uns aos outros, sem medo de partilhar a dor e sem medo do para sempre, porque eu tenho certeza que a Sandra vive na jovem filha Clara, vive na mãe já senhora, nas irmãs, em cada um de vocês que a amavam. A Sandra vive em mim, porque por mais ôca que seja a dor de perder alguém, eu ainda não acredito na morte. Acredito que sejamos mais que um sopro de vida, acredito na vida que permanece.
...
(Bambis juntinhos fugindo da chuva, Skåne Djurpark, Höör, junho de 2009)
Estivemos no zoológico o dia todo na terça-feira e durante uma chuvinha todos os bambis do bosque se juntaram apertadinhos debaixo da única árvore que havia no pedaço deles. E, olhando pra eles, sem imaginar o que se passava no Brasil, eu pensava em como é necessário que a gente não busque fugir da chuva sozinho, porque sozinhos a tempestade parece mais assustadora e não há como se aquecer. Aqueles bambis todos juntos debaixo da chuva me pareceu uma cena de irmandade que eu não vou nunca esquecer.
Abaixo a letra de "Todos juntos", da peça Saltimbancos, que eu cantei minha vida toda e nos últimos tempos venho cantando com Ângelo.
Uma gata, o que é que tem?
- As unhas
E a galinha, o que é que tem?
- O bico
Dito assim, parece até ridículo
Um bichinho se assanhar
E o jumento, o que é que tem?
- As patas
E o cachorro, o que é que tem?
- Os dentes
Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá
Junte um bico com dez unhas
Quatro patas, trinta dentes
E o valente dos valentes
Ainda vai te respeitar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
Uma gata, o que é que é?
- Esperta
E o jumento, o que é que é?
- Paciente
Não é grande coisa realmente
Prum bichinho se assanhar
E o cachorro, o que é que é?
- Leal
E a galinha, o que é que é?
- Teimosa
Não parece mesmo grande coisa
Vamos ver no que é que dá
Esperteza, Paciência
Lealdade, Teimosia
E mais dia menos dia
A lei da selva vai mudar
Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo
Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
Não há nada pra temer
E no mundo dizem que são tantos
Saltimbancos como somos nós.
Composição: Enriquez - Bardotti - Chico Buarque
Comentários
Meus pesames.
Que linda e acolhedora essa homenagem! E a Sandra era exatamente isso: de tão alegre e generosa nem era preciso conhecê-la profundamente para amá-la.
Bjs ainda tristonhos,
Dri
Dri, sei bem o que vc está sentindo (nada fácil)... junte as forcas dos amigos que estão por perto e vc vai ver que vai conseguir muita coisa. Fique com Deus!
Beijos
Xu
Contra ela, nada podemos. Mas isso não diminui a dor de ninguém. Nem quando a pessoa passou por uma doença sofrida o "foi melhor pra ela" é verdadeiro. A dor é sempre igual. Ainda mais quando se perde alguém jovem.
Nessa hora, a fé nos sustenta.
Sobre os Saltimbancos, por pura coincidencia ainda nesse sàbado eu e minha famìlia falamos das musiquinhas, que meu irmaozinho ouvia todos os dia, sem exceçao!!!
que legal que alguns de vocês também gostam da música!!!
Mariel até imaginei seu irmãozinho cantando!
Acho que ver a dor de minha cunhada Dri me lembra o que ja vivi perdendo amigas e amigos ha alguns anos.
E dificil demais mesmo e so o tempo, so as amizades carinhosas podem ajudar a passar a dor...
mas o bom é que ela vai dando lugar para um saudade nao mais tao dolorida... ate la, melhor ter ombros bem gigantes para nos confortar!