Há uns vinte anos, dentro de meu quarto de adolescente na casa de meus pais, eu cantava (e dançava) escondida "Like a virgin" e "The girls just wanna have fun". Me fantasiava sozinha de Madonna e Cindy Lauper e sonhava em ser estrela nos palcos. Sonhava com tudo que era grande e meus sonhos provavelmente se pareciam com os de outros milhares de adolescentes e jovens da mesma época.
Eu sempre soube que a gente facilmente se mira em algumas estrelas de cinema e televisão quando é jovem e é difícil ir tomando as rédeas da própria realidade e deixando a vida fantasiosa de lado. Na sexta-feira passada, entretanto, pulando lá do alto da arquibancada do Morumbi, olhando meio "de igual pra igual" para uma das estrelas de minha adolescência e para a noite quente e azulada de São Paulo eu tive mil pensamentos adultos e muitas outras fantasias de criança novamente.
Quem me comprou o ingresso para o show da Madonna foi minha cunhada Dri e foi de última hora que alugamos uma van e fizemos uma lotação de gente muito descolada, animada e engraçada para o estádio. A festa começou na emoção gostosa da tarde, enquanto nos preparávamos para ir, continuou na van, numa farra deliciosa de adolescência e terminou nas arquibancadas.
Eu não sou uma fã direitinha. Sou uma má fã. Diferente do Paulo Belém, Ricardo e outros meninos e meninas de trinta que estavam com a gente, eu só conheço algumas músicas novas e curto de montão as antigas. Se no passado eu não sabia cantar por causa do meu criativo inglês de escola pública, agora me falta mesmo é contato com as músicas. Mas isso não foi problema no show. Dancei e pulei tanto que "desmaiei" dormindo na volta pra casa.
Enquanto dançava e sentia uma sensação deliciosa de alegria me invadir eu comecei a pensar, lá mesmo no meio da multidão, o que é que me atraía àquela festa e o que poderia atrair tanta gente feliz que lá estava. Depois de ouvir algumas histórias desses amigos e gente que conheci no dia, pensar em mim mesma, percebi que em mim era uma sensação de ter crescido que me dava felicidade.
Não era uma Madonna decadente, daqueles cantores que ficam repetindo suas canções cansadas de rádio para dizer que ainda estão por aí que eu vi. O que percebi é uma mulher que se dá alguns luxos hoje, como não cantar "Holiday" porque o fã pediu, como não fazer bis nenhum. Eu sei pouco da Madonna, mas a verdade é que me senti (você pode me dizer que isso é ridículo, não tem problema) muito próxima da estrela que tava lá no palco.
Nesses anos todos eu mudei muito. Eu conheci gente, viajei, trabalhei, estudei, casei e formei uma pequena família. E vim morar na Suécia. Eu não sou mais a jovem trancada no quarto tentando copiar alguém, embora eu continue me espelhando em alguns exemplos. Em alguns sengundos, olhando para a noite sem estrelas, minha própria história me pareceu tão bonita. E nuns pensamentos meio abobalhados eu senti orgulho de mim, da ex Material Girl e do pessoal que estava comigo.
A gente cresce e muda muito, pensei. Mas talvez o mais bonito de tudo seja que a essência seja a mesma. Continuo piegas e sonhadora. Continuo pululante como sempre fui e não consigo me controlar ao som de músicas que gosto. Posso passar do extremo tédio à suprema felicidade só porque vou a um show com gente legal, amontoados numa van. Posso gritar, gritar e gritar quando percebo que a próxima canção é uma de minhas preferidas e me ver como uma super dançarina numa ilha paradisíaca ao som de "La isla bonita".
Eu sei pouco de fórmulas de sucesso e felicidade, mas eu vi uma Madonna feliz, que caminhou e mudou muito, embora tenha permanecido quase a mesma. Nos olhos dos meus amigos e na voz deles a cantarolar as músicas eu vi gente que também se via quando olhava para o palco. Eles talvez estivessem revivendo seu próprio filminho, enquanto eu revivia o meu. E juntos, com a estrela, que enfatizou (verdadeira ou falsamente, depende do seu ponto de vista) que estava feliz de poder encerrar o show naqueles dias com os brasileiros, eu me senti parte de um show com direitos a muito holofotes e canções temáticas. Me senti uma estrela. Mais velha, mãe do Ângelo que estava com a vó dele em casa, mas uma estrela. Vai ver alguns sonhos de infância e adolescência devam mesmo sobreviver pra gente relembrar nossa história e se orgulhar dela.
Foi o que o show da Madonna me fez sentir e pensar....
Hoje, véspera de Natal, eu desejo para cada um de vocês que passam por aqui, pessoas das quais eu sei tão pouco, que o Natal seja super acolhedor com as pessoas com quem vocês amam e que o próximo ano seja recheado de sonhos, porque sem eles as realizações ficariam sem graça demais.
...
ps: estou novamente emprestando um computador por alguns minutos, então, me desculpem a falta de respostas aos comentários carinhosos, aos prováveis erros desse post e a falta de edição da foto do show.
Comentários
Que massaaaa ir pro show da Madonna! Mas que coisa mais linda ver voce feliz com o maridao e se sentido orgulhosa de quem vc é...sabe nao todos chegamos a essa conclusao, mas nao por isso nao deixamos de ser feliz com voce é na boa sem inveja nem maldade. Desejo a felicidade absoluta pra vc, Angelinho e Renato. Pensando em vcs daqui da Suecia friaaaaaa brrr.
BJS
/JR
PS:(nao precisa publicar isso, e meio depressivo, eu sei...)
E vc coloca pra fora tudo de um jeito tão legal!
AM,EI SEU BLOG!E uma dia tomara que consiga morar na suecia, meu sonho!
Puss
E La Cinquentona arrasou e arrastou milhares por aqui e aí.
Eu só não fui porque detesto multidões, mas me amarro nas musiquinhas e performances sensuais dela.
E que lindo ver vocês dois juntinhos aproveitando o melhor da vida!
Se aparecer pelo Rio, dê um jeito de me avisar, please!
super beijos imperiais
obrigada por ter gostado de minha analise!
E amei que voce tenha me odiado! tres beijos na sua bochecha!
gostei do seu espaco super rosa tambem!
beijos e apareca sempre!
sabe que tem muita cinquentona arrasando por ai? no rio por exemplo, conheco umas betes!!!