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A primeira vez que senti medo na Suécia



("Ashes", Edvard Munch, 1894)



Há algumas semanas atrás eu estava indo para a academia de ginástica no finalzinho da tarde, quando ainda estava claro e muita gente e carros circulavam pelas ruas. Como de costume, estava perdida no meu mundinho particular e cruzando a ponte do Canal da cidade. E de repente tive aquela sensação estranha que temos quando sentimos que alguém está nos olhando ou acompanhando. Um cara muito grande, largo e alto, meio estabanadão vinha se aproximando de mim. Apertei o passo rapidamente e ele veio mais e mais e senti um arrepio de medo terrível. Parei e saí do caminho dele com o coração num compasso muito acelerado. O grandão loiro e estranho, esbarrou e passou por mim como quem procura por outra coisa. Foi então que percebi que ele falava sozinho. Parecia alguém mais doido com seus botões do que normalmente a gente já é e notei que ele não perseguia a mim, mas estava apenas mais enfiado em si mesmo do que eu.

Um outro rapaz estava próximo e percebeu que eu havia me assustado. Foram apenas alguns segundos, mas eu gelei de medo. Desde que vim para cá ninguém esbarrou em mim assim. Aliás, todo mundo odeia que você esbarre neles. Continuei caminhando para a SATS que fica apenas algumas quadras de casa e foi quando eu percebi que aquela havia sido a primeira vez que eu havia sentido medo aqui na Suécia, desde que me mudei, há um ano e oito meses atrás.

Desde então, venho pensando neste post. E talvez eu sempre o adie porque prefiro falar de coisas mais suaves ou do lado bom e bonito das coisas ruins. Houve um tempo em que eu lia a "Folha" todo santo dia e me contaminava com todas as notícias, iguais a milhares de anos, sobre corrupção, violência, tráfico, acidentes, miséria e tantos outros problemas que a gente tem nesse nosso Brasil. E houve um tempo em que eu preparava muitas aulas cheias de informação e senso crítico para os meus alunos do pré-vestibular.

Acontece que, aos poucos, fui dando lugar para um dia egoísticamente mais suave e deixando de "comer" tudo que podia sobre problemas e possibilidades de mudança. Talvez seja isso que a gente vá fazendo mesmo para tentar sobreviver em meio ao caos. Para suportar uma vida cheia de riscos, como a que temos numa cidade como São Paulo e Rio, por exemplo, a gente precisa sublimar em algo que faça com que nos sintamos vivos, bonitos e cheios de perspectivas pela frente.

Infelizmente, esse dia do medo na Suécia fez vir à tona um monte de coisa que sempre pensei e continuo pensando sobre viver ou não no Brasil. Sou brasileira e tenho tanto orgulho disso que vivo tentando convencer os estrangeiros que conheço aqui a irem nos visitar um dia. 

Viver fora do Brasil é uma experiência totalmente ambígua. Quanto mais tempo você está fora, mais você se apega a alguns valores de seu país para tentar se manter vinculado a ele e se sentir parte daquela Pátria onde cresceu e aprendeu a ser gente. Talvez por essa razão muita gente assine TV brasileira (o que eu provavelmente nunca farei), traz comida brasileira, vai a mercados, shows, eventos, tudo que lembre o Brasil. Ainda não me incluo no grupo, mas também sou saudosista. Vivo falando de como é bom sair na noite de São Paulo e comer uns bons salgadinhos nos bares, de como a gente sabe fazer uma festa gostosa e dançar com um ritmo todo nosso. Adoro falar de como os brasileiros são felizes, de como abraçamos - em todos os sentidos - todas as pessoas que nos rodeiam. Adoro lembrar de meus amigos, do que fazia com eles, e penso em minha família e no que herdei dela centenas de minutos por dia. 

O Brasil está em mim. Eu não sou e nunca serei sueca ou européia. Por outro lado, quando vivo experiências como essa que descrevi lá acima, percebo que viver em Malmö tem me dado oportunidade de viver com essa paz, essa sensação de estar segura praticamente o tempo todo. Sair pelas ruas com todos os meus pertences, esquecer de grudar na bolsa, de esconder a câmera fotográfica, de atravessar pro outro lado da rua, ao mínimo sinal de que posso ser assaltada, não ter medo ou pena de quem invade o carro em todo cruzamento de semáforo, esquecer a possibilidade de que alguém na rua pode pensar em fazer mal a mim e a quem está comigo é algo que a gente aprende fácil e do qual é difícil querer abandonar. 

Eu tenho certeza de que todos meus amigos e família conseguem ter uma vida "quase normal", no sentido de que trabalham, se divertem, passeiam pela cidade etc e que eu farei tudo isso de novo e que serei, com certeza, bastante feliz de novo quando estiver por aí. A gente acaba sendo feliz por muitas razões, apesar de ter muitas outras para ser totalmente frustrado.

O que acontece, entretanto, é que estar fora daí me dá uma sensação de que o Brasil parece um planeta perdido na galáxia. Quem está fora não imagina o tipo de pressão em que nos colocamos todos os dias e quem está aí não quer ouvir dizer que a situação é tão ruim. Se apega, mais que eu, a todos os valores nacionais consagrados, para tentarem provar para si mesmos que o país é muito bom. Tanto que muita gente que conheci aí sempre me disse que não tem vontade de viajar para o exterior, porque o Brasil já é grande e bom o suficiente. 

Aqui, conheci gente de quase todo canto do mundo e acho que a maioria deles tem uma visão romântica do que seja o Brasil. Exemplo disso, foi quando num dia, depois de uma aula de sueco, o Jocelyn, um francês e o Darryn, um irlândes, me disseram o que ouço regularmentea aqui: que tinham muita vontade de conhecer o Brasil, mas que "ouviram dizer" que "era muito perigoso". E eu respondi. "Sim, dependendo do lugar pra onde você vai, pode ser sim." E o francês, economista, viajado pelo mundo todo, me perguntou: "quer dizer que podem roubar minha bolsa no metrô ou algo assim?". E então eu ri tristemente. Tentei explicar a eles, sem roubar-lhes o sonho de conhecer nosso país, de que era um "pouco" mais que isso, mas não teve jeito, eles ficaram chocados ao saberem que bandidos no Brasil usam armas de fogo, que matam para terem o que desejam, que sequestram famílias ou crianças para forçarem pagamento... Claro que pensariam assim já que aqui, por exemplo, nem mesmo a polícia usa arma de fogo na rua. Então eu parei e não continuei dizendo que os bandidos no Brasil também matam facilmente se não tiverem rápido o que pediram e que eles tem gangs que comandam os grandes assassinos dentro e fora da prisão.

Um outro amigo nosso, o Nik, marido de minha amiga alemã, Nikol, esteve aí para umas reuniões de trabalho e voltou totalmente desiludido. Segundo ele, a bela visão que ele esperava do país foi substituída por uma visão de miséria que lembrou-lhe apenas a África. Eu sempre pensei que um estrangeiro que sai de Cumbica e passa por Guarulhos não ia ter das melhores visões da cidade e foi exatamente assim que ele descreveu. Fora isso, ele disse que não conseguiu relaxar, porque não se sentia salvo, como já se sentiu viajando por dezenas de países, incluindo países mais pobres que o nosso. Apesar de ter percebido o quanto os brasileiros são gente legal e o quanto pode haver de coisas boas, ele nos perguntou como é que a gente fazia para viver aí sem sentir-se como ele se sentiu.

O Renato, meu companheiro, também já me disse várias vezes que nem nos cantos mais pobres da China, Vietnã, Tailândia e Índia ele sentiu medo ou teve essa sensação de insegurança. São países pobres, alguns miseráveis, mas que não têm o mesmo problema de violência que a gente tem.

Eu tenho certeza de que minha fala parece de gente fresca. Talvez você pense que eu agora "to me achando a maioral" e de que não me sinto culpada pelo problema de marginalização social, de corrupção e violência que temos. Pelo contrário. Não me sinto por cima da carne seca. Não me sinto melhor que qualquer brasileiro que viva no Brasil. E me sinto culpada sim, inclusive porque posso ter uma outra vida, enquanto tudo aí vai correndo em frente. Eu apenas percebo que minha identidade de brasileira fica perdida quando comparo meu país e o que eu posso ter aí com o que pode ser oferecido em muitos outros cantos do mundo. 

Sentir-se em paz e ter a certeza de que seus entes queridos não terão uma arma na cabeça, como muitos de meus amigos e muita gente de nossa família já teve, é algo que qualquer pessoa do mundo deveria ter garantido. É algo que esse povo daqui sabe muito bem como garantir, algo pelo qual eles prezam e trabalham muito. Talvez o segredo seja que nessa Suécia, onde a ginga não é tão bonita, nem o futebol tão famoso, o Estado cumpra muito bem seu papel, mas acima de tudo porque aqui todo mundo tem mais ou menos as mesmas coisas. Todos têm direito à escola, universidade, trabalho, moradia, lazer etc. Contudo, ninguém tem direito de acumular mais do que aquilo que precise. Ainda que exista um ou outro que tenha um pouco mais de dinheiro que outros, o que a gente vê é todo mundo tendo uma vida razoavelmente digna e simples. Sem exageros e sem escravos. E sem exageros e sem escravos eles não produzem gente violenta como a gente produz. Com muita formação moral e ética desde a infância eles conseguem garantir casas sem portão, bicicletas espalhadas pela rua, passeio ao ar livre sem pressa, turistas tranquilos e satisfeitos. 

Foi isso que senti e vi em muitas outras grandes cidades européias que tive a alegria de conhecer, incluindo a agitada Londres onde voltei na semana passada. É algo que os brasileiros todos deveriam ter bem claro nessa época de eleições no Brasil, ainda que não seja fácil achar uma agulha no palheiro. Sonhar com uma outra realidade possível não é só permitido, é necessário. 


Comentários

Beth/Lilás disse…
Oi, Somnia!
Quando li este seu post de hoje, fui prá ginástica pensativa e com vontade de "chutar cachorro", no bom sentido, claro! Afinal os pobres bichos não têm nada com nossa piração. Mas a verdade é que fiquei triste, meio deprê até com a constatação do que vc escreveu (por mais que eu saiba, mas é sempre difícil prá nós brasileiros, aceitarmos os dias de hoje neste país). Desde o início do governo desastroso e fraudulento deste PT que vem fingindo que está tudo bem para o povão que acha o "cara" o máximo! Enquanto ele inaugura a torto e direita as tais "pedras fundamentais" de grandes, megalômanos projetos que só existem mesmo em papéis que um dia serão, talvez esquecidos pelos próximos governos. De concreto mesmo quase nada, apenas o crescimento da ignorância do povo, a falta de educação, de civismo, de cidadania e outras mais que se eu for enumerar vão me chamar de exagerada e que é melhor então eu me mandar prá fora do país.

Triste também saber que jovens como você e seu marido fazem falta ao crescimento intelectual do nosso povo, mas que por motivos de força maior, têm que estar fora, aperfeiçoando-se e ganhando o que aqui não lhes é dado como direito.

Entretanto, vocês, como milhares expatriados estão neste ponto, de coração dividido e ao mesmo tempo querendo ainda usufruir do melhor para o início de suas vidas. Muito natural e justo.

Sinceramente, torço para que o seu Renato consiga um maior tempo por aí ou em qualquer outro país que valorize seu profissionalismo e que lhes dêm uma qualidade de vida que merecem, pois aqui, é isto mesmo que você narrou - tá difícil, muito difícil de viver.

Mas, se vc fizer como um colega de trabalho do meu marido que mora super-bem em Ipanema, a mulher trabalha numa grande estatal como ele, pagam 3 funcionárias e compraram agora um apartamento avaliado em mais de um milhão e meio de reais. Viajam prá lá e prá cá, os filhos às vezes vão junto com as babás e quando meu marido o perguntou se ele não se incomodava de morar e dirigir seu Land Rover numa cidade tão violenta, pois até mesmo o bairro de Ipanema que é bonito é também cheio de "trombadinhas e pedintes" - ele respondeu: Ah, isso a gente não olha, vira pro outro lado!

Então, se for prá viver assim como esse cara, tudo bem! Vai levando e fingindo que tudo isso à nossa volta não existe, são visões, expectros, sei lá como ele dá o nome!

Então, mas a gente não é assim, porque queremos que todos estejam bem à nossa volta para vivermos felizes. Não é mesmo!?

Tô torcendo para que o melhor aconteça prá vocês. Confie em Deus, então e espere.

grande beijo carioca

PS: Tô triste, pois tô só, maridinho embarcou hoje prá Suíçae só volta final de semana. snif
Somnia Carvalho disse…
Querida Lilás, não fica triste não!

Sabe que agora pouco eu tava relembrando o conteúdo do post e quase o deletei da rede?

é que pensar isso tudo faz um mal a gente que é incrível... fiquei pensativa também porque não queria que gente como você e tantos amigos se sentissem mal de apenas levarem suas vidas do jeito melhor que podem. Aliás, fazendo o mesmo ou melhor do que eu mesma fazia e faria.

Bom, mas foi só para desopilar o fígado, como diz uma amiga minha...

Concordo com você. Pra quem se preocupa é difícil viver bem quando se tem culpa e necessidade de que todo mundo tenha o mínimo... mas a gente "vai levando". A gente não deve desanimar não, mesmo porque deve ter gente muito boa, mas muito boa mesmo por aí que faz muita diferença.

um beijo e otima noite sem maridão! aproveita pra ver um flme ou livro alto astral.
Brasilina disse…
Olá Sonia,

Obrigada por nos “brindar” com um post tão pungente, real, atual.

Que ótimo que vc não o apagou. Ele faz com que os que o leiam, reflitam sobre a realidade brasileira e quiçá, tal reflexão faça com que votar seja um ato consciente, acreditando (mais que sonhando até) que a realidade pode ser outra, como vc muito bem colocou ao final.

É realmente intrigante o despertar da sensação de “vergonha/culpa” que as linhas de seu post despertam em muitos, que gostariam de compartilhar do digno e justo para todos. Talvez esta sensação seja o resultado da atual inversão de valores, banalização da vida, arrematadas pelo total descaso do governo com a educação da população, em um claro “extermínio/desperdício do intelecto” brasileiro.

É como se os bens adquiridos pelo cidadão de bem, que paga seus impostos e os adquirem através de seus salários justos (ou nem tão justos assim) ou a vida que se leva em países de 1° mundo ao trabalhar fora do país, seja uma “ostentação, uma afronta” aos que não tiveram a mesma oportunidade. ...

E parafraseando Cazuza: Que país é este??? (Que nos remete a tais sensações, especialmente, ao estarmos “de fora” de seus problemas).

Um grande beijo, sucesso e tudo de bom.

Janaina Souza
Renata disse…
Oi Sonia, dei uma passadinha por aqui e quando li este post tive a mesma sensação que as suas outras leitoras... Infelizmente, tenho que concordar com tudo que vc disse, aqui em Philadelphia, que é considerada uma cidade "perigosa" para os padrões americanos andamos pelas ruas, com a Bibi, mais de meia noite sem ter que ficar olhando para os lados ou praticamente correndo de algo que possa acontecer. Minha mãe esteve conosco por 1 mês e ela ficou boquiaberta com o fato de que quando vamos brincar na praça com a Bibi (vc se imagina fazenso isso com o Angelo em SP?) não precisamos ficar cuidando de carrinho ou bolsas ou qualquer outra coisa, ela simplesmente não acreditava. Não é triste, então, pensar que o seu país NUNCA chegará a tal nível de civilização?
Bjs com muitas saudades, ainda bem que vc escreve, assim tenho a sensação de que estamos conversando sempre.

Renata.
Anônimo disse…
Muié

Uau, que texto hein?!?! Não vou comentar sobre política, pois este é um dos meus pontos fracos.

O que posso dizer é que não existe o lugar perfeito, sem problemas, violência, etc. Nem aqui na Suécia. Sim, na nossa pequena cidade de Malmö (de 270K habitantes) temos o temido bairro do Rosengård. Quando eu fui até lá para lavar meu carro, as pessoas ficaram horrorizadas por conta do perigo que eu corria! Enfim, nada me aconteceu. (ufa!)
Por outro lado, já soube de diversos casos de pessoas roubadas na Franca, Inglaterra, Italia, etc. Claro que nas suas devidas proporcões, o Brasil não é está sozinho na categoria violência. E nem os países da Europa estão sozinhos na categoria sossego. Existem diversas cidades do interior de SP (não posso falar pelos estados que não conheco)super tranquilas: Santa Branca, Rio Claro, Holambra, entre outras.

Mas uma coisa é fato, a tranquilidade de morar numa cidade pequena como Malmö é realmente maravilhosa! Você é ainda mais abencoada por poder criar seu anjinho "sorto" (rs) por estas ruas sossegadas .

Quanto aos gringos que morrem de medo do Brasil, sou obrigada a dizer que eles são + mal informados que qualquer coisa. O lance é enteder que uma cidade como São Paulo não é fácil; mas é show e tem como ser aproveitada. Soube de 2 suecos q foram ao Brasil este ano e enlouqueceram! Um deles até arriscou alugar um carro e foi de Sorocaba até Maresias... o poberzinho não queria voltar pra suécia (rs).

O que importa mesmo é a gente aproveitar o máximo que pudermos, onde quer que estejamos.

Ah, mais uma coisinha... preciso confessar q eu me incluo no grupo de quem traz comida do Brasil (rs), pois ainda não consigo viver sem catupiry. hehehe!


Comentário final: pq vc não aplicou os golpes de body combat no tal loirão grandalhão? Afinal de contas, o Sebastian nos disse que está nos "preparando" para a vida "lá fora". Desculpe a piada sobre o assunto sério...

Beijos
Xu
Somnia Carvalho disse…
Dona Brasilina,

fico realmente feliz que a sua sensação não tenha sido apenas ruim e que você acredite que ele possa servir para alguém pensar sobre algo...

Mas adorei mesmo foi essa sua idéia de que acaba que viver algo um pouco diferente ou melhor parece uma ostentação. Concordo muito com você. Quer dizer, o básico não é mais o mínimo que a gente pode ter, mas passou a ser coisa de gente que exige demais ou é chata demais. Isso é uma inversão total de valores e de coisas pelas quais devemos lutar. Um grande beijo e obrigada por seus comentários alto nível!
Somnia Carvalho disse…
Re, queridona, acho que você pegou no ponto!

Mesmo - mesmo - Philis sendo uma cidade "violenta" para os padrões americanos, quer dizer, o povo aí acha que não é ideal. Tem lugar muito mais seguro, nao é? mesmo sendo assim, você se sente mais segura do que se sentia em Sampa.

Aqui é a mesma coisa... e largo sim bolsa no carrinho, brinquedo, tudo o mais e ficamos lá brincando... quando a gente poderá ter isso no nosso ninho gostoso? Não sei. Sei que consigo me sentir bem feliz em São Paulo e você tambéms e sentia, me lembro bem... mas o que pega é quando a gente pode viver outra coisa melhor ... comparar é a droga que leva a essa tal crise de identidade.

um beijo enorme e tô adorando papear com você, ainda que seja por aqui.
Somnia Carvalho disse…
Minha queridísisma amiga Xu-muié,

Seu comentário é otimo porque é de alguém que tá no mesmíssimo lugar que eu e que tem um ponto de vista um pouco diferente.

Eu concordo total com você. Não existe lugar perfeito e a Suécia tá longe de ser. Você sabe todas as dificuldades que a gente também tem aqui com o inverno escurão, com o povo mais quieto, com a dificuldade de falar nossa língua e achar pão de queijo mineiro... rs.. Mas, but, porém, contudo, todavia, amoreca eu discordo de você.

Eu entendo que os suecos piram quando vão para o Brasil, mas eles não moram lá. Passear é uma coisa, curtir só o que o Rio tem de bom é incrível, mas quem deles realmente decide largar a segurança profissional e em todos os sentidos que eles têm aqui e se aventurar? poucos.

Me lembro do Albert, sueco, marido da Josephine, coreana, que disse que Malmo, pra ele, é muuuito ruim de se viver. Muito perigoso, nada mais a ver com o sossego a que estavam acostumados. Então, eu acredito (minha crença) de que os caras que te falaram que Rosengard é perigoso estejam no mesmo plano que Albert. Eles comparam a mesma Suécia. O perigo ao qual eles se referem passa longe do perigo que corremos todo santo dia nas cidades grandes do Brasil. Eu nem falei das cidades pequenas, porque eu também acho, como você, que dá pra ter uma vida bem tranquila nelas. Mas há exceções. Sumaré, por exemplo, pequena e com índice muito alto de violência.

Ano passado meu irmão teve uma arma na cabeça porque os bandidos levaram a perua com a qual ele trabalha. E outros casos assim bem terríveis aconteceram com gente da mesma família... Então, eu fico só pensando: sera que o perigo que temos aqui pode ser comparado?

Creio que não. Mas achei ótimo você ter lembrado isso: aqui não é perfeito. O Renato mesmo me falou... ah! mas vc precisava ter escrito no post que aqui também tem roubo, Londres também... mas que - ainda assim- não dá para comparar com o que temos no Brasil... roubo é coisa tão corriqueira que a gente já sai preparado todo dia pra correr o risco...

Bom, queriduxa, eu acho que é isso mesmo, tem gringo muito idiota que acha que tudo é uma coisa só... mas não é o caso das pessoas que falei no texto não... eles são muito bem informados. Eles piram só de imaginar tudo o que tem de legal no Brasil... eles só foram bem sinceros ao dizer: é muito legal mesmo! mas é difícil mas não pude saber muito, porque o tempo todo tinha que estar preocuapado por onde andava e o que podia acontecer.

Umas beijocas e obrigada por ter a paciencia de ler e comentar!
Somnia Carvalho disse…
Xu, só duas coisas:

- não dei os socos no grandalhão porque ainda tô começando no boxing e o body combat me serve só para dançar na frente de grandalhões... rs...

- eu não sou do time que traz comida brasileira não porque não gosto, mas porque sou desorganizada e preguiçosa. Eu tô no time das que comem comida brasileira que as amigas e os maridos delas trazem... como docinho, salgadinho e tudo o mais que eles me convidarem pra comer! adoro que eles sejam desse time da saudade!
Anônimo disse…
Olá, Somnia. Vc não me conhece, estou no Brasil, mas tive contato com esse post por meio do blog da Ju Moreira. Primeiro, parabéns - é um dos melhores posts que já li na vida.
Bem, foi depois de uma temporada em Gramado, no RS, que coloquei na cabeça: quero viver na Suécia. A civilidade, educação e instrução das pessoas em todos os lugares, não importando cor, credo, classe social me fez sentir um desgosto profundo por ser obrigado a retornar para SP. Aquilo era um outro país. E pensei "na Europa deve ser assim... ei, pq eu não vou pra Europa? Pra Suécia." Mesmo com todo o apreço que sinto pela terra onde nasci, é difícil me orgulhar de um local que recebe um estrangeiro com um ataque do Primeiro Comando da Capital (PCC), como foi com a minha prima que veio da Alemanha em 2006. Mas não é também só uma questão de imagem: eu EVITO passar pelo Rio de Janeiro em minhas viagens, simplesmente pq temo pela minha vida mais do que andando na rua, à noite, em SP. Isso não quer dizer que eu me sinto seguro em SP. Muito pelo contrário. A verdade é que esse tipo de sensação é opressiva e um dia cansa, pois é como dar murro em ponta de faca. Não é uma questão de governo - muitos passaram e nenhum conseguiu ou se propôs a resolver. A meu ver é uma questão cultural: não há chance de mudança num país em que a maior parte da população espera que o governo lhe dê o sustento e assistência simplesmente porque é mais cômodo. Não busca trabalho, não busca qualificação profissional para obter trabalho, não busca o conhecimento em geral. E com o advento da inclusão digital (sim, a internet no Brasil é democrática) ficou muito mais prático ser passivo. O governo tem obrigação sim de prover as necessidades básicas do cidadão segundo a legislação, mas isso não que dizer sustentar acomodados às custas de outros. E não é uma questão de classe social: um lado de minha família é abastado e o outro pobre. E se vê essa atitude em ambos.
Cansei e isso não é uma desistência: me sinto verdadeiramente derrotado por um inimigo mais forte, como em toda luta (nem sempre justa). É triste? É. Mas não pode ser mudado. E a sensação de que posso passar a vida me debatendo à toa gerou em mim esse impulso egoísta de deixar pra lá e ir cuidar do meu bem-estar, pois o calor humano não compensa o elevado risco à saúde física e mental.
Desculpe-me, virou quase um desabafo.

Até mais e espero poder escrever da Suécia em breve.

Leopoldo Henrique
Somnia Carvalho disse…
Caro Leopoldo, é um prazer ter comentário de gente como você aqui nesse meu blog... e que prazer o blog me proporciona em momentos assim. Muito obrigada!

Gostei muito do seu "desabafo"! rs... é assim mesmo que me sinto em muitos momentos: desistir de querer mudar tudo em volta pra ser feliz, mas tentar ser feliz e quem sabe consigo mudar algo em volta...

Para onde exatamente você virá? quando? se quiser trocar mais idéias me manda email pro endereço do borboletapequeninanasuecia@gmail.com.

Uma coisa que você vai perceber quando estiver aqui ha um tempo: a vida aqui é simples. Você realmente precisa fazer coisas que nunca faria no Brasil, como limpar o jardim pros seus vizinhos... você precisa dar conta de sua vidinha particular porque não há outro pra fazer por você. E isso dá cansaço e não deixa que a gente curta tanto nosso horario livre como aí no Brasil... Menos festa, menos cerveja no fim do dia e menos encontros. É assim a Suécia. Por outro lado, você vai amar muita coisa... e se procura essa tranquilidade você tá fazendo uma escolha muito certa... Ontem, eu voltei mais de meia noite, depois de ter feito um favor pra minha amiga e ficado de babá pro bebe dela... voltei de bike, sozinha. Sem medo. Sem algo realmente ameaçador. É otimo sair as ruas e não ter que pensar que alguém pode tirar sua vida ou do seu filho ou marido porque quer dinheiro ou porque é "mal" o suficiente...

você terá isso e perderá outras coisas...

me escreva! um grande abraço!
Anônimo disse…
Oi Sonia !

Adorei seu post !
Morei em Estocolmo por 1 ano e entendo muito bem essa situação. Agora estou de volta a SP e contente em poder sair com os amigos, curtir a night, o tempo bom ... mas tenho saudades da sensaçao de segurança e estabilidade daí. Conheço Malmo e certamente é uma cidade onde em breve vou voltar pois meus poucos amigos suecos são daí ...

Ha det bra !!

Solange
Marcela Orsini disse…
Oi! Descobri seu blog hoje e simplesmente amei! Você escreve sobre muitas coisas que tenho pensado/ questionado e se expressa muito bem. Acho incrível como alguns brasileiros negam a realidade e não conseguem criticar o Brasil. Sem crítica não haverá melhora. Não adianta esse excesso de patriotismo para defender o país das críticas, tem que ter patriotismo na hora de defender dos corruptos e aproveitadores! Mas enfim falando agora sobre Malmo, ouvi dizer que aí tem guettos onde a polícia não entra? Isso é verdade? Eu moro em Oslo e costumava ser muuuito tranquilo, porém em um ano a coisa mudou muito e está tendo estupros, e muito mas muitos furtos! Eu mesma já presenciei um outro dia :(
Nessas horas me dá muito medo de ter saído do Brasil pra fugir da violência ( entre outras coisas, claro) e a violência ter chegado aqui também
Anônimo disse…
Não existe esse negócio de 'identidade brasileira'
Achar que vc tem algo em comum com outra pessoa só porque ela nasceu dentro de um limite geográfico convencionado por gente que ta c****** e andando pra tua vida é ingenuidade demais, e só serve pra esses mesmos.
'A idéia de nação é a pior mentira inventada pela humanidade'
A. Einstein

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