O texto abaixo foi publicado originalmente em agosto de 2005, num outro blog de uma amiga (mulheresonhando) e conta um pouco o processo de criação de uma de minhas telas. Por sinal, uma das minhas preferidas, mas que já não está mais comigo. Agora Teresa mora na Suiça, na casa da Gi e do Christian que, de tão apaixonados por Teresa, compraram na e trouxeram na bagagem do Brasil pra cá. Falta só eles me mandarem uma foto de como ficou a nova sala com ela.
"São Paulo, 16 de agosto de 2005.
"Em Tereza brotou a Rosa”
Em Tereza está quase brotando a Rosa... Faltam alguns dias...
Eu queria pintar um quadro. Comecei com essa mania de pintar quadros, de transpor minhas idéias malucas para a tela. Sou metida a artista. Não consigo guardar nada pra mim. Conto tudo, ou quase tudo que aqueles com quem convivo me permitem contar. Mas tenho contado ainda mais, através dessas telas. Nelas, diferente de como me sinto agora, enquanto escrevo, me sinto completement (com biquinho, embora nem sei se escrevi corretamente esta palavra que adoro) livre. Solta. É como se um turbilhão de idéias e sentimentos quisessem sair de mim e pular pra tela. E o tema me invade. E as cores quase me sufocam, porque elas querem que eu as escolha. Gritam, querendo preencher o vazio à minha frente. Minhas mãos e meus braços obedecem a uma força interior tão forte que não consigo controlar. Talvez livre não seja exatamente o que eu seja enquanto pinto, porque devo obedecer este desejo.
Mas quero falar da Tereza.
A Tereza real, eu conheci em 96, numa viagem ao sertão de Alagoas, numa cidade, acreditem! chamava-se, e ainda chama, Maravilha. A Tereza, o próprio nome já diz é uma mulher forte. Extremamente forte. Ela viajou o mundo, morou sozinha na Dinamarca, depois casada com o super Flávio nos Estados Unidos, onde teve um anjo lindo, o Rafael. Perdemos o contato por muito tempo e nos reencontramos em São Paulo Maluca. Logo ela me ligou dizendo que estava grávida. Fiquei feliz, rindo sozinha. E sua barriga foi crescendo. Fotografei Tereza em sua casa, porque me deu uma vontade louca de pintar aquela mulher forte, meio fragilizada, mais efeminada por causa daquela barriga. E Tereza estava linda. E eu entendi porque a maternidade seduziu tantos pintores. Umas semanas depois, aquele estalo: hoje farei o quadro!
Peguei uma tela enorme e rabisquei Tereza de perfil, olhando para a câmera, para mim. Seus olhos verdes saltavam da foto e, eu sabia, deveriam saltar da tela. Arrumei uma paleta cheia de amarelos e vermelhos e fui prenchendo meio freneticamente o fundo, enquanto pensava em que cor queria o corpo nu. Este foi totalmente coberto por um ultramar, com azul da prússia e toques de magenta. Nos cabelos, cheios de bicos, bastante soltos pus os tons terrosos. Eu olhava para meu quadro incompleto e estava extremamente feliz. Era como se eu pudesse compartilhar da alegria de minha amiga. Liguei para Tereza e confirmei o nome que ela daria a sua filha. “Rosa, respondeu ela”. Meu delírio foi a mil. Rosa Maria era o nome que minha mãe havia escolhido para mim, mas que um tio doido, trocou, enquanto fazia o registro, porque Sônia, era o nome da enfermeira por quem ele estava apaixonado. Daí, Sônia Maria que hoje eu amo. Voltei à tela, ainda mais inspirada e o fundo alaranjado foi sendo enfeitado de muitas rosas. E fui sendo invadida por uma lembraça de infância: “Da cepa brotou a rama, da rama brotou a flor, da flor nasceu Maria, de Maria o Salvador”. Era uma música que eu ouvia e cantava, desde pequena, quando freqüentava a igreja com meus pais, depois sozinha. E como eu amava cantar aquilo.
Alguns minutos depois, eu olhava para o quadro e a alegria foi se transformando em desejo de mudança. Eu queria uma Tereza estilizada, não um retrato. A cor rosa substituiu o cabelo marron, uma barriga ainda maior, e uma mão apalpando a barriga. Pronto. Pronto?
Esta versão durou uns dois ou três dias, enquanto eu ia olhando pra a tela, que agora eu estava odiando, e pensando em como mudar tudo aquilo. Voltei a ela, e suavizei tudo: Tereza ficou rosa, ao invés de azul, o cabelo terra com verde, o rosto e a barriga menor, a mão voltou para baixo, como originalmente estava. E das rosas do fundo começaram a brotar galhos que saiam da barriga de Tereza. Sim! Tereza daria à luz a Rosa. Dela brotaria esta flor. E aquilo foi me levando ao delírio artístico. Tereza adquiriu uma feição doce, porém, depois percebi, muito humana: mais delicada e talvez menos forte. Se o fundo havia chegado perto do que eu queria, Tereza tinha se distanciado. Um ou dois dias e... tudo de novo! Azul da prússia e preto nos cabelos que ganharam contornos ainda mais marcantes. O corpo rosa ganhou luzes amareladas, o rosto voltou a ser mais marcado e mais forte como era o de Tereza, porém sem o muito humano que a versão anterior revelava. Abaixo de sua barriga, muito verde, galhos. Tereza também se transformara em uma rosa. Finalmente alonguei os olhos, marquei uma boca muito vermelha e escrevi em volta da barriga de Tereza o título do quadro, que foi rodeando-a e repetindo: “Em Tereza brotou a Rosa... Rosa... Rosa...”
Tive que ligar para minha amiga e perguntar se ela não se ofenderia por eu por num quadro, que eu nem sabia se ela iria gostar, e nem estava sendo feito para ela, seu nome e o de sua Rosa. A resposta coincidiu com a Tereza tranquila, segura, descolada, cuidadosa e compreensiva que eu já conhecia. E aí está."
Comentários
espero que vc, o Angelo e o Renato estejam bem. Daqui a pouco este moleque vai pular pra fora de vc e pra dentro da vida! Muito bem vindo.
um bjo
Lia
Sim eu sei da sua veia artista, claro!
Isso sem contar da sua veia memória incrivel para lembrar histórias fantasticas! Aliás que você pode guardar algumas bem bonitas pra contar pro Ângelo quando um dia. E esses dias eu lembrei que devo me inspirar porque ainda não fiz um quadro para você e seu maridon. Beijocas.