Eu tenho uns flashs de memória e sensações de uma época de minha adolescência em que eu lia um livro sobre símbolos do Leonardo Boff. Eu me lembro de conseguir resignificar vários fatos da minha vida só com a leitura daquele livrinho.
Bom... este livrinho me veio à mente novamente quando recebi este texto da Daníssima, um dos dois últimos textos do nosso concurso. A primeira razão foi o fato de ser exatamente ela, a autora do "nariz de batatinha" a ter me inspirado a fazer o concurso ter sido também a pessoa a fechá-lo. E isso "totalmente ao acaso". Não deixei Dani conscientemente por último, mas pensando no quanto o inconsciente guia nossas escolhas eu creio que sim, eu queria deixá-la para fechar o ciclo.
A segunda, porque Daníssima, além de tudo que já contei aqui sobre ela e como nos conhecemos, também fez um curso de psicanálise Junguiana na Suíça. E lembro-me bem de a partir disso trocarmos muitas idéias via net sobre uma quantidade enorme de coisas intrigantes, sobre nossos sonhos e sobre os símbolos que permeiam nossas vidas e nossas escolhas. Jung nos intrigava bastante e a gente viajava com ele.
E, finalmente, a terceira, a qual creio ser a mais forte delas, a foto escolhida pela Dani. Nela estão uma senhorinha quem conhecemos numa viagem ao sertão de Alagoas e nossa amiga Teresa. Todas nós três estudávamos na Unicamp (Teresa, Engenheira agrícola, Dani, Pedagogia e eu Filosofia), mas nos conhecemos e nos tornamos amigas no projeto de Ruth Cardoso, cuja intenção era fazer os jovens conhecerem seu país e depois de formados não usarem a formação tida na universidade pública apenas para si mesmos. Foi naquela experiência a qual mudou nosso jeito de ser para sempre que a amizade se firmou.
E se eu disser que enquanto o concurso rolava eu tive desejo de escrever sobre esta mesma foto? Exatamente porque ela é um símbolo tão forte desta nossa mudança. Ela consegue descrever tantas memórias e seria possível eu escrever um livro a partir dela. As minhas talvez sejam muito diferentes porque embora a cena e a foto seja a mesma nós somos únicas, com experiências de vida e histórias únicas.
A forma simbólica com a qual Daníssima tomou esta imagem e escreveu seu texto e as milhares de coisas que não estão ditas no belo e curto texto me deixam até mesmo arrepiada. Eu não sei se estou certa ou não no que imaginei com ele, mas o que interessa é o quanto ele pode levar a gente a pensar.
Vocês devem entender melhor tudo isso se souberem (digo isso com autorização da Tê) que nossa amiga Teresa, uma das mulheres mais fortes, otimistas, abertas, descoladas que eu conheci; aquela Teresa quem me inspirou a tela "Em Teresa brotou a Rosa" está em sessões de quimioterapia se tratando de cancêr que lhe tirou as mamas, os cabelos, a forte imunidade, mas não tem tirado sua admirável força interior. Sua voz sempre tão animada ao telefone! Seu jeito de rir e encarar as coisas com a maior naturalidade que lhe for possível!
Ela continua com o mesmo jeito firme e carinhoso de se sentar e ainda ter tempo para ouvir, assim como ela fez em Maravilha, quando muitos do grupo tiraram esta foto. Enquanto muitos de nós estávamos meio embasbacados com a feição dessa senhora sentada do lado de fora de sua pequena casa azul rachada, a Tê foi lá, sentou-se ao lado dela. Ouviu suas histórias, deu-lhe atenção e a mão. A foto não era posada. Foi um segundo captado de uma experiência de vida de muitos jovens universitários em meio ao mundo hostil que pode ser o sertão.
Sim, Maravilha nos mudou. Essa senhorinha nos mudou porque sempre nos lembramos dela e de sua maneira maravilhosamente corajosa de enfrentar a vida no sertão. E sim a vida é permeada de simbologia e deve ser, pois como dizia Leonardo Boff, naquele livro que eu adorava: "Perdendo a visão simbólica, fecham-se janelas da alma e desaparece a magia das coisas."
Por essa razão eu creio que este concurso criado por mim e inspirado pela minha amiga Dani tenha tido tanto sucesso, por essa razão ele com certeza irá se repetir, pois conseguiu acima de tudo nos fazer entrar na simbologia de cada participante através de um texto que dá significado ao que poderia talvez não passar de mais uma imagem entre as milhares tiradas por nós em nossa vida.
Obrigada gente por tudo isso!
Foi um prazer enorme ter vocês por aqui esses dias todos!
A votação terá início na próxima segunda-feira e todos vocês estão convidados a ler, reler, divulgar os textos e votar!
A votação terá início na próxima segunda-feira e todos vocês estão convidados a ler, reler, divulgar os textos e votar!
E agora fiquem com nossa última participante... Obrigada Daníssima e desculpe se inseri demais minhas lembranças na sua foto também!
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“O mundo é grande e não cabe na tela”
"Eu não apareço nesta foto, mas a experiência por traz dela me apresentou uma parte da realidade do Brasil, do sertao, das familias que ainda nao faziam parte do Programa “Bolsa-Escola” ou recebiam qualquer ajuda social/econômica/material/espiritual do governo.
Em janeiro de 2006, participei juntamente com outros 9 estudantes e um professor da Unicamp do projeto piloto do Programa Universidade Solidária.
Ficamos alojados na cidade de Maravilha, sertão de Alagoas (226km de Maceió) e trabalhamos com a populaçao de uma cidade que não conhecia agua em suas torneiras, muito menos em suas hortas. E, por vezes, comiam a mesma comida que o gado (uma massa de cacto).
A foto me lembra do Brasil, das discussões políticas, de pessoas que enchem o peito e dizem algo sobre ensinar a pescar… e de outro lado, uma parte indefesa e fraca, sem apoio do Estado. Faz-me pensar que para entender o mundo não basta ler os livros, os jornais ou a tv, é preciso VI-VEN-CI-Á-LO!"
Daniela Morassutti Zuim.
Comentários
Encantada fiquei com o relato sobre esta foto que é linda e emblemática, de um tempo em que as pessoas que saem das cidades grandes e conhecem a verdadeira face deste imenso país.
Parabéns à Daniela que é uma pessoa repleta de sensibilidade e bons sentimentos. É de gente assim que o país precisa.
beijos cariocas
o texto foi meu, mas eu gostei foi mesmo é da introduçao da Somnia... eita, mulher!
a foto? Sô, foi o Silvério ou o Roman que tirou?
beijos
Uma coisa é ouvir falar de fome, outra é ver alguém alguém metendo a mão no lixo acumulado de vários dias, com larvas, ratos e sei mais o que e comer algo retirado dali. Vc tem razão, VIVENCIAR o mundo é muito diferente de ler sobre ou ouvir falar.
Girassóis nos seus dias.
Beijos
Arrepiou, sério.
Vou falar a verdade. Quando vi a foto e o sorriso no rosto jovem, achei que seria um texto com alguma coisa cômica.
Que dura realidade e que grandes ensinamentos essa D. Teresa deve ter passado pra vocês.
Sonia, acho que você deveria se aprofundar mais no assunto.
beijos