(A ex-mesa dos vizinhos dinamarqueses, depois de muito uso na minha varanda e antes da reforma final, Malmö, 2010)
Adorei os comentários do post abaixo sobre inspiração para decoração na Suécia e aqui vai um suplemento dele.
A Dani me sugeriu buscar móveis antigos e reformá-los, a corajosa Lucinha fez um post mooooito bom sobre a decoração - ou a falta de decoração - da casa dela, muitas mostraram como gostam de decorar seus espaços etc. Entretanto, algo me chamou muito a atenção nos coments do post dela. A Renata falou brevemente de sentir-se um pouco culpada por falar em decoração em meio a tantas catástrofes como, por exemplo, os mortos nas enchentes do Rio de Janeiro.
A gente aqui num blá blá do que fica legal na casa e tanta gente preocupada em sobreviver. Eu concordo. Também pensei rapidamente o mesmo quando escrevia meu post. No entanto, continuei. Pensei que continuar a discutir assuntos do nosso dia a dia não significa que não sentimos, não lamentamos e desejamos mudar tragédias assim.
Aí vi o post da Lolinha, sobre o fato de chegarmos a 7 bilhões de habitantes no planeta ainda este ano.
De cara eu poderia de novo me culpar, afinal acabei de ter um bebê e, por mais que nunca houvesse programado bem isso, tenho dois filhos. Tenho amigas e amigos que estão tendo filhos, a maioria, já no segundo filho também.
Aí o dado da National Geografic revelar que o problema não é espaço, já que 7 bilhões caberiam, por exemplo, na cidade de Los Angeles. O problema é o consumo, é o desenvolvimento não sustentável. É decorar derrubando, trocando, jogando no lixo todo o dia toneladas de material que pode ser reciclado.
Dessa maneira, não creio que devamos nos sentir mal por pensar como podemos deixar o canto onde nossa existência se faz todos os dias mais bonito, mais aconchegante e cheio de vida. Viver bem, sentir-se em equilíbrio interior, de bem consigo mesmo e com o mundo é parte para ser capaz de agir com responsabilidade no mundo.
Neste post trago um exemplo simplezinho. Na linha daqueles posts iniciados na Suécia, "Do lixo ao luxo", trago esta mesinha. Ela pertenceu aos meus vizinhos dinamarqueses, um casal que renovou a casa toda logo quando eu estava me mudando para lá e punha um móvel por semana no lixo de móveis.
(Antes da repaginada, como foi pega no lixo, primeira visita da Li e Gigi na Casa Nova, Malmö, 2010)
A mesa era de madeira excelente e nova em folha, sem nenhum arranhão. Peguei-a sem pensar onde usaria, mas não consegui deixá-la no lixo. Usei-a no quintal em almoços. Decorava com bolos e chás para os amigos ou servia comida para a criançada nas festas. Com chuva e vento vi que precisava logo reformar o móvel para tê-lo dentro de casa, antes que o perdesse totalmente.
O resultado foi uma pátina branca. Acho a pátina simples de fazer e dá esse ar rústico legal. Eu desejava usar a mesa numa futura sacada no Brasil, então apenas lixei-a (com super ajuda da amiga Liana) para depois pintar. Comprei um gravador de madeira de uns 20 reais, o qual poderei usar para outras muitas idéias, e inscrevi em latim um dos versículos bíblicos que sempre me inspirou: 1a. Carta de São Paulo aos Coríntios, versículo 13.
"Si linguis hominum loquar, et angelorum, caritatem autem non habeam, factus sum velut æs sonans, aut cymbalum tinniens."
(1a. carta de São Paulo aos Coríntios, mesinha do lio reformada, Malmö, 2010)
Que significa: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine."
"Caritatem" para mim nunca foi, apesar de ter sido uma carola fervorosa, sair dando moedinha na hora da missa, ou distribuindo para todo pedinte que encontro na rua. A caridade é o amor e o amor não é egoísta. Não sou caridosa para parecer boa, para merecer o céu e nem mesmo porque eu quero salvar o planeta. É preciso ser caridoso, amar o outro porque esse é o único dever que tenho como ser humano. É o que me une a qualquer outro.
(Do lixo para casa: com pátina e gravura a mesinha passou a marcar minha história, junto com a que tinha anteriormente, Malmö, 2010)
Bom, depois de transpirar gravando na madeira forte, veio a pintura, mas de maneira bem leve para não apagar totalmente os dizeres. Eu queria dar o ar de algo muito rústico, marcado pelo tempo. Então preferi inscrever o versículo em latim (língua a qual aprendi na faculdade e me lembro de adorar a pronúncia e a sensação de algo que vem mesmo de muito tempo atrás).
Essa mesinha está guardada num depósito, junto com minha mudança da Suécia, aguardando nossa ida no próximo mês para o novo apartamento. Uma das coisas as quais não tiro da cabeça é como vou colocar nela alguns livros bons de se folhear e de se inspirar. Perto, algumas flores ganhadas das quais venho cuidando, uma cadeira também reformada, tudo isso na sacada onde a vida no Brasil recomecará de fato, além de um passarinho de retalhos, feito por duas artistas.
São coisinhas simples e gostosas de se fazer e elas me dão uma energia danada.
(Do alto, Malmö, 2010)
Não há soluções mirabolantes para os problemas do mundo. O fato com o qual precisamos aprender a viver hoje é que nossas atitudes antigas não servem mais. Precisamos pensar na vida na Terra em cada decisão que tomamos diariamente. Eu vou trocar uns pisos no apartamento novo, mas nós até já pensamos em repintar azulejos de banheiro e cozinha com tinta apropriada para não ter que disperdiçar tanta material por conta apenas de cor.
Eu não sei direito como posso ajudar a resolver o problema do Rio e suas pobres inocentes vítimas, mas o que houve lá é resultado de nosso descuido com o planeta de muito tempo atrás, assim como com nosso fechar os olhos para tanta desigualdade e falta de planejamento.
(Depois de renovada, decorando e sendo muito útil, Festa de Despedida da Suécia, eu de Frida gravidíssima, Grzegorz com Suza, Agnieska, Nikol e Luis, Malmö, 2010)
Acredito que possamos continuar redecorando nossos lares, pondo uma florzinha aqui, uma corzinha lá... A vida merece ser celebrada. Há dias muito tristes na nossa vida e dias felizes. Dias terríveis na vida de outras pessoas todos os dias, em todo canto do mundo. E há uma forma de não se culpar tanto por isso: fazendo aquilo que estamos carecas de saber, mas temos preguiça demais ou somos egoístas demais para pôr em prática. Há algo que está muito ao nosso alcance e vai, com certeza, fazer menos vítimas no futuro: consumir menos e reciclar mais. Então comecemos!
Ótimo dia para vocês!
...
ps: Círculo de atitudes positivas:
Amanhã, quarta-feira, vou ajeitar um vasinho bem simplesinho, com alguma florzinha em cima da minha mesa. Vou fotografá-lo e vou pensar em vocês. Se quiserem fazer o mesmo e fazer uma cadeia de pensamento positivo, energia boa, pensando uns nos outros, no quanto estamos ligamos e irmanados, no quanto somos todos a mesma humanidade, é só montar o arranjo em qualquer canto, fotografar e me mandar as fotos. Publicarei na quinta-feira.
Comentários
Que excelente post. Eu aco bárbara estas "reinvenções" do lixo. Não sei fazer estes trabalhos, mas puramente porque nunca tentei.
Sabe, em uma das casas que meu sogro trabalha, em um condominio de luxo em Alphaville, eles resolveram reformar a casa e trocar quase tudo. Com isso, já recebi em casas muitas coisas que poderei reaproveitar, como vasos para plantas (daqueles compridos, lindos). Marido vai dar uma "ajeitada" nele, porque disso ele entende bem. O mesmo faremos com aqueles suportes para cortina, vasinhos para área interna, enfim. Há sempre uma maneira de reaproveitamento não é?
Um super beijo!
Se você estivesse falando de decoração para alguém que acabou de perder a casa e a família nos deslizamentos, seria sim uma falta de respeito e consideração. Mas decorar o seu cantinho e querer celebrar a beleza, o conforto e a alegria do seu lar não mostra alienação.
Acho que é o contrário - vermos como a vida é frágil, como o inesperado pode nos destruir de um momento para o outro é um motivo a mais para celebrarmos a vida.
Acho esta coisa da culpa um tanto católica, numa situação dessas as "responsabilidades" (uma palavra mais adequada) se dividem. O que aconteceu foi em parte descuido, descaso, em parte azar. Mas o importante agora é previnir e reconstruir.
Enfim, a mesa ficou ótima!
Obrigada pela visita, pelos elogios!
E continue a mostrar os resultados. Boa mudança!
Um bj,
Bem, primeiro ADORO DECORACAO E REDECORACAO (risos)! Entao, aproveitar o que eu ja' tenho redefinir posicoes, etc, eu adoro!
Recentemente me mudei de casa - te contei, ne'? - justamente para me sentir mais integrada com a "casca", a anterior nao era "minha cara" e, por consequinte, da minha familia. Foi uma das melhores coisas que eu fiz na nossa vida familiar nesses ultimos tempos, acredite! gastei dinheiro "desnecessario"? talvez... mas o "lucro" ja' esta' vindo, no tanto que estou (estamos) melhores aqui!
E' luxo? E'... muitos passam por privacoes enquanto isso? Sim. mas eu nao posso parar (nem devo) o Mundo. Faco o meu melhor por Ele, acredite! E pelos meus, sim! Tb!
Tenho 3 filhos! jamais me senti culpada por isso ou sequer questionei o fato de infalcionar a populacao terrestre. pelo contrario! Estou dando a minha CONTRIBUICAO, buscando cria-los da melhor maneira possivel para esse mesmo Mundo!
Caraca! Falei demais? Mil perdoes!
mas, sabes? A casa da gente, na minha opiniao, e' feito a casca. Como e' o nosso corpo para nossa alma. Devemos trata-los bem, com respeito, e mimos, sim! E se nao esta' bom como esta, dar uma repaginada, e' valorizar o que Deus nos deu, seja a casa ou a casca!
No mais, costumo repetir: UMA CASA E' FEITA DE TIJOLOS, UM LAR DE AMOR... E... mais uma? O LAR E' ONDE O AMOR ESTA'.
Mil bjs!
Ah! Postarei flores amanha... do meu jardim... espero que haja algumas bonitas no amanhecer...