“Mamãe, mamãe, mamãe
Tu és a razão dos meus dias
Tu és cheia de amor e esperança
Mamãe, mamãe, mamãe
Eu cresci e o caminho perdi
Volto a ti e me sinto criança
Mamãe, mamãe, mamãe
Eu te lembro de chinelo na mão
De avental todo sujo de ovo
Se eu pudesse
Eu queria outra vez mamãe
Começar tudo, tudo de novo”
Eu sempre gostei demais dessa canção em homenagem às mães, cujo autor é desconhecido. Apesar de nostálgica e, de certo modo, até triste, eu sempre dava um jeito do coral da igreja cantá-la no dia das Mães, quando eu coordenava a liturgia, lá da comunidade onde trabalhei por alguns anos.
E sempre funcionou que era uma beleza. Todas as mães choravam. Todas elas. Entretanto, só com o tempo percebi duas coisas: que era meio sádico o que eu fazia com as coitadinhas e que elas não choravam só porque estavam sendo homenageadas como mães, mas principalemente porque, na canção, se sentiam filhas de novo. E era às suas próprias mães que a singela canção lhes remetia.
Hoje, depois de tantos anos, não mais em comunidade alguma, continuo pensando nessa música ao lembrar de minha mãe. E hoje de manhã acordei com um nó na garganta, um misto de felicidade e tristeza por saber que hoje, aí no Brasil, é Dia das Mães.
Felicidade por saber que a tenho comigo, apesar da distância.
Tristeza por saber que não poderei dar o abraço que quero. Nem nela, nem na Irene, mãe do meu querido Re. Tristeza, ainda, por saber que ele também não o fará.
E talvez pela primeira vez, em alguns anos, não daremos um presente a elas. Poderíamos ter enviado, poderíamos ter feito qualquer coisa, mas, ao menos com respeito a mim, tem um momento em que você pensa, procura e vê que não há nada que consiga representar o que você vem sentindo. E o que venho sentindo é que não há presente que possa retribuir tudo o que, até hoje, minha mãe fez por mim.
Eu desejaria mesmo era mandar as plantações amarelinhas lindas daqui, já que ela gosta tanto de flores. E queria que ela pudesse, só por um dia, ficar embaixo das árvores daqui e ouvir os pássaros cantarem. E que ela tivesse de volta todo o amor, mas todo o amor mesmo, que deu e tem dado a mim, aos meus irmãos e aos meus sobrinhos.
Que ela e a Irene pudessem nos abraçar por uns momentos. E também ao Ângelo.
O que eu sinto é que essa canção dá uma nostalgia, porque a gente se volta ao passado e há tanta coisa vivida. Eu poderia fazer minha própria canção, mas ela não seria muito diferente disso, apenas com outros detalhes.
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(A Dona Maria José os filhos dos quais ela cuida até hoje: Sandra, Lê e Sônia, Brasil, fevreiro de 2008)
Minha mãe era daquelas que passava horas e horas costurando vestidos e saias para mim e minha irmã em sua máquina Singer, sem se importar com suas dores nas costas.
Eu me lembro dela nos chamando para o almoço, enquanto corríamos no quintal e dela me visitando, com um barrigão de nove meses, enquanto eu me recuperava no hospital de uma das minhas muitas doenças da infância.
Minha mãe era daquelas que mentia para o marido para que a gente pudesse sair com o paquera e não se importava se, mais tarde, tivesse que arcar com algum erro nosso.
Eu me lembro dela acordando antes de mim, por muitos anos, e me preparando o café da manhã para eu ir trabalhar. Dela me esperando voltar tarde da faculdade e dela feliz e orgulhosa no dia do meu casamento.
(Eu e minha Dona Maria preferida, no dia que fui de novo embora pra construir minha família, janeiro de 2002)
(Aqui, a Irene, transbordando de felicidade, orgulho e amor junto de nós, no dia em que o filhão dela foi embora de novo fazer a familinha dele, janeiro de 2002)
Mãe é essa criatura única.
Ela se doa, sofre, tem raiva e tem culpa.
Ela chora e se esvai em sofrimento, quando um filho não está bem.
Ela te consola e te apóia em quase todos os momentos de sua vida, até mesmo quando você toma o rumo que ela não esperava e tinha sonhado pra você.
Ela está sempre ali, mesmo que seja para dizer coisas que você não quer ouvir. E te socorre, quando você olha ao lado e não tem mais ninguém para afagá-lo.
Mãe tem esse amor inexplicável. Estranhamente entrega, que nos faz sentir culpados por não poder retribuir a altura. E, apesar de não ter claro na memória, você busca aquele afago dado por ela, desde o momento em que você nasceu.
Você chama "mamamamamãe", quando tem uma dor forte ou se sente doente e solitário.
Você quer abraçá-la de um jeito que ela compreenda que você agradece, que você se lembra sim das noites de sono perdidas, que você é grato sim por ela ter te acompanhado naquele primeiro dia de aula. E por ela ter lhe orientado sobre os maus amigos. E porque ela fez questão de estar na sua formatura de oitava série. E porque ela disse: "vá, minha filha", quando você disse que iria sair de casa e estudar em outra cidade ou quando precisou de seu apoio para conseguir partir e morar muito, muito longe, construindo sua própria família. E porque a distância fez com que ela sofresse calada e chorasse em seu quarto, sentindo sua ausência.
(A mãe de minha mãe, minha querida, doce, sofrida e dedicada Vó Maria, no dia do meu casamento, janeiro de 2002)
(A fofa, engraçadinha, carinhosa e sorridente Dona Conceição, com seu netinho, no dia do noso casamento, janeiro de 2002)
E como não há nada mesmo que consiga demonstrar todo esse mundo que te liga a essa mulher, você, então, imagina dizer: "obrigado, mãezinha, por tudo, extremamente tudo que tenha me feito até hoje", porque eu estou aqui, são e salvo. Saudável e feliz. Porque eu venho tentando me realizar como pessoa e é a você que eu agradeço.
Venho de mãos vazias, porque não há nem presente, nem florzinha, nem nada que possa mostrar tudo isso que tenho em mente e na alma. E porque eu e você ainda parecemos ser um.
Porque a gente sempre pensa em nossas mães todos os dias e agradece a Deus pela sua vida.
A gente quer estar com ela, mas quer estar longe dela. Quer seu amor e carinho, mas quer, ao mesmo tempo, independência. Quer o mundo, mas quer saber que ela estará sempre lá.
Quer dar o mundo e demonstrar a gratidão, e se vê como uma criança, sem poder fazer mais do que sempre fez: precisar dela. A gente se esvai em tristeza se, por um segundo, pensa em perdê-la e a única coisa que consola, a única, é saber que ela, em todo momento ou num dia como hoje, no Dia das Mães, tem os mesmos sentimentos para com a mãe dela. E que ela, mesmo por um instante que seja, entende que você a ame, tal qual ela também ama, se sente grata e culpada pelo amor que também recebeu um dia.
E, então, a gente sonha poder passar esse amor adiante. E sonha amar tanto, se dedicar tanto ou mais do que nossa mãe a nós se dedicou. E fazer nossos filhos felizes.
(Nós, crescidos, saudáveis e felizes, passando adiante o que de graça ganhamos, Suécia, abril, de 2008)
Mãe, Irene, Sandra, Vanessa, Vó, Tias todas, amigas minhas e vocês todas que são mães, sem falsas demonstrações, desejo a vocês todas um Feliz Dia das Mães. E que vocês sintam de mim e dos filhos o abraço mais apertado e carinhoso, cheio de quentura e ternura que receberam um dia.
Porque vocês um dia escolheram e arcaram com todas as consequências felizes e tristes de serem Mães.
Comentários
Quantas abelhas fazendo zum ,zum...
E borboletas azuis a voar.
Quantos carneiros no campo pulando...
Mãezinha só uma! Eu tenho pra amar!!
Foi aí que percebi que um aluninho estava com a cabecinha deitada na carteira e chorava muito, muito mesmo de saudade da mãe dele.Ele tinha entre seis e sete anos.Estava morando com uma tia aqui em São Paulo porque lá no norte não tinha escola perto para ele estudar.Ele era pequeno ,franzino.Mas a saudade da mãe era imensa.Então dei lhe um longo e apertado abraço,conversei com as crianças sobre a saudade.
E a musiquinha deixei pra lá.
Mãe é mãe! A musiquinha deixei sem ensinar.
Obrigada! Muitos beijos de uma mãe com muitas saudades!!!!
Que bom que você gostou do meu texto. Escrevi de uma tacada so, e não reli muito para publicar... no entanto, eu não posso fazer das minhas palavras as do Renato: ele disse que achou esse texto triste demais. Não era minha intenção... acho que sou saudosista por natureza. E vai ver continuo sendo sádica também. hahahahahaha