("Da janela lateral, do quarto de dormir" do Ângelo, vejo a neve enfeitando as árvores)
Eu vivo a cantar saudade do calor do Brasil, desde que o inverno pesado chegou por aqui... mas essa madrugada, enquanto fui pegar um copo de água, uma surpresa linda e branca pela janela: havia caído uma neve silenciosa e deixado o jardim dos fundos todinho branco de novo.
Pareciam flores nos galhos secos das árvores...
E eu pensei que, quando eu tiver de volta à quenturinha do meu país todas as manhãs, eu nunca mais terei essa paisagem para apreciar... Se o Brasil tem o calor que a Suécia não tem, o inverno daqui traz a neve que a gente nunca terá.
E fiquei pensando que em todo canto há compensações e belezas mil e que a natureza é tão bela quanto sábia.
(O banco vazio e solitário do jardim aguarda silencioso a chegada da Primavera)
Balada de Neve
"Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…"
(Augusto Gil)
(Ângelo todo feliz e quentinho cá dentro e a neve caindo silenciosa lá fora...)
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