Pular para o conteúdo principal

"Uma foto, mil lembranças": "O primeiro voo solo da minha pequena", por Celia Barbosa


Mães sempre (com exceção das mães loucas) amam demais. Não quer dizer que mães sejam criaturas perfeitas, porque exatamente essa característica de amar incomensuravelmente sua cria não permite tal feito. Depois de ser mãe eu entendi esse mundo em que um gesto, um olhar, um sorriso ou uma mãozinha segurando a sua ao atravessar a rua vale um mundo!

O texto da Celia, mãe da Elaine, cujo texto para o concurso eu publiquei esses dias, mostra um pouco disso. E também deixa nas entrelinhas o quanto amor cada pai e mãe devota aos filhos e filhas cada minuto de sua infância sem que isso seja, no futuro, exatamente sabido e compensado.

A memória da Elaine e a memória de sua mãe sobre o mesmo evento e o mesmo dia são provavelmente muito diferentes, porque a memória é construída de sentimento. Para Elaine o novo, o descobrir, a brincadeira, a alegria. Para Celia, porém, o olhar e o coração mandavam as emoções guardarem outro tipo de lembranças... E elas estão neste bonito texto enviado para participar do nosso concurso.

Obrigada Celia!

...

O primeiro voo solo da minha pequena


"Esta foto me lembra a primeira vez que minha filha saiu a passeio longe dos meus olhos, quero dizer, dos olhos cuidadosos de uma mãe. Isso aconteceu em 1980. Minha filha tinha cinco anos de idade. 
A direção da escola onde ela fazia o jardim da infância decidiu levar os alunos a um circo famoso. A ansiedade dela era tanta que não dava nem para imaginar como seria quando, de fato, chegasse a data esperada. Até que ela chegou.


Lá estava eu, juntamente com outras mães e tias (professoras), esperando os ônibus que levariam a garotada. Afinal, eles chegaram. E as crianças, já em filas organizadas pelas tias, vão ocupando cada uma o seu lugar determinado.


Do lado de fora, eu buscava com muita atenção onde é que minha filha ia se sentar. Fora as recomendações que eu já vinha fazendo há alguns dias, como não colocar os braços fora da janela do ônibus e que tomasse cuidado para não se perder das tias e das amiguinhas.


E lá se vão as crianças em alta gritaria e muitas risadas. Dava para perceber que elas se sentiam importantes por saírem sem as mães. A felicidade delas era muita.  Nós, mães, voltamos para a casa para aguardar o retorno. Preocupadas sim, mas confiávamos nas tias. No horário marcado, estávamos lá. Para mim, foi muito lindo ver a alegria estampada naquele rostinho e ouvir tantas histórias sobre aquele primeiro passeio longe dos olhos protetores de mãe. Esta é a minha história e a minha lembrança daquela linda tarde."


Celia B. Barbosa

Comentários

Que legal esse confronto das duas visões da mesma estória. Só quando a gente vira mãe compreende o que nossas mães sentiram em cada separação, em cada evento importante, em cada fase da vida...Muito emocionante esse texto, beijos,
Beth/Lilás disse…
Bom dia, Soninha!
O texto da Celia diz daquilo que toda mãe sente ao se separar pela primeira vez do filho, deixando-o à vontade para ser feliz, mas o coração da mãe fica sempre apertado com a breve separação. E depois, com o tempo, estas separações que vão ocorrendo durante a vida, apertam sempre um pouquinho o peito, mas vamos nos acostumando melhor.
Muito legal mesmo a visão de uma e de outra.
um beijinho carioca
bela história.Me lembrou minha filha....dias felizes
Lúcia Soares disse…
Sempre é emocionante essa primeira vez do filho sair em excursão.
Esses dias, quando estava viajando, Letícia (aos 3 anos!) foi a uma peça de teatro, em excrusão com a escolinha. Eu sabia do acontecimento, mas ainda bem que estava longe, senão seria um dia comprido para aguentar...rsrsr Imagina, já passei isso com os filhos e agora vem os netos...
Minha mãe raramente nos deixava ir a uma excursão de escola. Tinha uma tristeza enorme, mas agora entendo a preocupação dela. Porém, mesmo receosa, nunca privei meus filhos de irem.
Beijo!
Macá disse…
Ahahahah mãe é mesmo tudo igual.
A nossa ansiedade acho que é maior que a deles. Acordar mais cedo, arrumar a mochila, levar ao local de embarque da 1ª separação, coração apertado mas demonstrando uma segurança maior do que a que conseguimos carregar, o ônibus se afastando e a gente esperando - em vão - que eles saiam na janela e nos dêm um tchau e digam que ficarão com muita saudade.
Linda recordação.
bjs

Postagens mais visitadas deste blog

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que