("Casa no Campo", Elis Regina e Zé Rodrix)
Hoje de manhã saí empurrando Marina no carrinho a todo vapor para vaciná-la contra a gripe e voltar antes de Renato sair para trabalhar, já que Ângelo está em casa gripadíssimo.
Foram só uns 3 minutos caminhando, mas muitas coisas me vieram à mente sobre como temos tentado trazer um pouco da vida calma, super pacata levada em Malmö (+- 273.000 habitantes), na Suécia, para a nossa nova casa em São Paulo que é nada menos do que a quarta cidade mais populosa do mundo só perdendo para as cidades de Tokyo, Seul e México.
Se é impossível? É bem difícil inclusive porque a maior parte dos itens responsáveis para se ter realmente qualidade de vida, como segurança por exemplo, não depende exatamente de um desejo ou uma postura apenas nossa. Entretanto é sim possível reproduzir algumas atividades e se adequar para não se sentir tão frustrado e ser mais feliz com o que se tem.
Alguns exemplos dos quais me lembrei na rápida caminha de hoje:
Em Malmö:
- eu fazia tudo de bicicleta, a pé ou de ônibus. Carro só nos fins de semana ou para distâncias grandes.
- passeávamos de trem nos fins de semana.
- íamos aos parques e praia fazer piquenique praticamente todo santo dia da primavera e do verão.
- estávamos sempre com gente em casa fazendo festa, sobretudo se o tempo fora não ajudasse a sair de casa.
- as compras de supermercado eram feitas a pé e em pequenas quantidades. Evitávamos grandes supermercados que, aliás, não são a regra lá.
- as crianças eram acompanhadas pelas enfermeiras da saúde pública próximo de casa, já que na Suécia o sistema todo é público.
- reciclávamos lixo e eu vivia pegando móveis do lixo dos vizinhos e reformando.
Em Sampa:
- com a família grande e a necessidade de se mudar escolhemos um bairro mais plano que o anterior onde era só ladeira, assim conseguimos fazer quase tudo a pé, inclusive com as crianças.
- eu uso o bairro para tudo: vou a pé ao supermercado bem bom na esquina do nosso prédio com Marina no carrinho e trago tudo nele, assim como farmácias, bancos, lojas, restaurantes, bares etc.
- Renato usa o dia do rodízio para ir de trem trabalhar. E tem gostado muito! Ele até já fez passeios com Ângelo no metrô no fim de semana para apresentar a ele os trens em São Paulo.
- eu uso ônibus e metrô para destinos onde há linhas suficientes.
- aos domingos ele pega as crianças e explora a feira livre na quadra debaixo. Frutas e legumes fresquinhos, comprados enquanto se passeia.
- uso o postinho público super caprichadinho há duas quadras para pôr em dia as vacinas da Marina, algo inclusive indicado pelo pediatra particular quem garantiu qualidade das vacinas no Brasil.
- Ângelo manteve sua bicicleta e pedala quase todo fim de tarde.
- ao menos uma vez por semana faço piquenique com as crianças embaixo das árvores centenárias do condomínio. Um presente para quem mora numa cidade como esta!
- temos reunido os antigos amigos brasileiros quando possível em casa para que a festa que era nossa vida na Suécia com filhos continue aqui também...
- continuo reciclando lixo, embora aqui o sistema de coleta não seja nem claro, nem organizado suficiente.
- continuo reformando móveis e usando o máximo do que temos de antigo para evitar novas e dispensáveis compras.
Se é pouco para conseguir comparar um local com o outro é suficiente para tentar ter aquela "casa no campo" no lugar onde habitamos agora afinal a gente já plantou suficiente para garantir certa paz... Aqui temos os livros, os filhos, os amigos e tantas coisas mais...
E você? Onde você vive é possível ter alguma qualidade de vida? O que você tem feito para conseguir escapar às armadilhas estressantes das cidades grandes ou da vida moderna?
Comentários
eu sinto assim: que eu poderia ter ficado ai para sempre... o problema e que a gente sempre tem duvida, ao menos quando se esta no papel que eu estava, sem trabalho fixo ainda, com as criancas e com a volta programada...
acostumar aqui e que e um trabalho a se fazer todoooos santos dias
Leio muitos relatos de quem volta depois de um tempo e nao faz a menor questão de se adaptar, optando pela queixa somente.
Você se propoe novos caminhos. Claro que nao deve chegar nem perto do tipo de vida que tinha lá, mas e aí, nao está conseguindo?
Você é um exemplo para muitos. Eu nao tenho carro, mas acho que mesmo que tivesse, nao me incomodaria de pegar o metro nos finais de semana para ir ao parque, ao centro, enfim.
Eu gosto sabia? Da minha casa até o mercadinho e a quitanda é 1km. Tem uma ladeirona rodeada pela mata e adoro subir a pé. As pessoas estranham e me perguntam por que nao pego a moto.
Vou pensar mais sobre as suas perguntas. Quem sabe posto a respeito???
Beijos
Eu sei que você tem feito todo este movimento de adaptação à vida aqui no Brasil, tentando colocar do jeitinho agradável e politicamente correto que era lá na beleza de Suécia.
É difícil, amiga!
Eu também tento, faço muitas dessas coisas que você enumerou abaixo, meu marido idem. Como dissemos aí em conversa, até de ônibus pela manhã ele vai até às barcas, deixando os carros na garagem, porque entendemos que podemos usufruir dos serviços públicos se tem na porta do que colocarmos mais veículos nas ruas. Infelizmente, os veículos públicos são ruins, os serviços idem, mas insistimos porque somos conscientes e o dinheiro não cai de árvores.
O que nos falta realmente é mais estrutura, como segurança primeiramente, bons serviços e vontade de se exercitar, deixando a preguiça de lado.
Seu texto, como sempre, primoroso, lúcido e muito maduro para uma pessoa jovem como você. Vejo tanta gente mais velha sem esta maturidade e diz odiar tudo, não faço isso nem aquilo, essas frescurites que não cabem mais nos dias de hoje.
um super beijo, carioca
eeeeeeita coisa boa!
amo vc muié ;-)
tem que curtir o dia de hoje, tem que viver bem no lugar onde se esta agora senao para que viver!!!
de passado? de futuro? nao e preciso o presente!
vi la que vc ta de casa nova e to louca pra ver o pedaco!
eu sei que Seu Wilmar faz todo este percurso tentando tambem contribuir para alguma melhora alem dele mesmo poder ter menos stress... mas nao e facil ne?
acho que o fato de estar mais em casa e vendo menos o que tem na rua me deixa mais ainda em saudosismo com a suecia, mas eu sinto que a cada dia estou assimilando mais a realidade de novo...
e ruim... mas e bao... e assim vai