("O abraço", Gustav Klimt, detalhe de "A árvore da vida", 1905-1909)
Em meio às eternas brigas entre meu pai e minha mãe durante toda minha infância lembro-me bem de uma trégua dada, logo depois dos dois terem participado de um "Encontro de Casais", organizado pela Paróquia da cidade onde morávamos.
Depois de sangue, suor e lágrimas para convencer meu pai (20 anos mais velho que ela) a participar daquele fim de semana, encontrei pela primeira vez, em minha ainda curta vida, os meus progenitores emocionados pela mesma causa. Minha mãe visivelmente feliz vinha de mãos dadas com aquele estranho homem em cuja face eu reconheci meu pai.
Recebi deles, primeiro dele, um forte e amoroso abraço. Dela, um olhar quase confirmando "sim! deu certo!". Parecia a salvação do casamento dos meus pais e, ao menos foi, se não ao meu olhar, creio que foi ao deles.
Foi curioso como este episódio me veio à mente, após ter visto "SOS Casamento", programa cuja estréia foi sexta-feira passada, no SBT, e continua rondando meu pensamento ainda esta semana.
O tema é o casamento falido, ou quase falido e o objetivo do programa é ajudar os casais participantes a recuperar a chama da paixão, a terem olhares menos viciados em erros e críticas, a aprenderem como lidar com a vida a dois já corroída pela rotina, pelas responsabilidades e pela intimidade.
No primeiro programa, Salete e Edenílson, eram os candidatos perfeitos a receber a ajuda pedida. Nas primeiras cenas vemos como os dois se tratam no dia a dia, como se cobram, como se acusam, como não se ouvem, como se odeiam.
Sim. Eles se odeiam.
Ao final, acredite se quiser, vemos a mulher de olhar deprimente, desiludida da vida a dois dar, literalmente, pulinhos de felicidade e brilhar ao lado do marido quem está visivelmente de volta à cena. Eles foram resgatados. E não se trata de encenação. Nem de milagre de edição. O formato funciona.
Fiquei me perguntando o porquê e como. O que há por trás dos bastidores colaborando para o final feliz? O que é capaz de transformá-los e recuperar o amor novamente?
A resposta: o ódio.
Sim, porque em toda relacionamento amoroso há também o seu oposto. Amamos nossos pais e lutamos toda nossa existência para "matá-los" dentro de nós e sermos nós mesmos. Nós os odiamos durante a adolescência, mas quase sempre redescobrimos seu valor e nos apaixonamos por eles novamente na fase adulta.
Nós não vivemos sem nossos melhores amigos, mas mesmos os melhores amigos e amigas passam por pequenas desilusões e dissabores. Mesmo como amigos é preciso não deixar que a opinião do outro nos sufoque e nos tire nossa identidade.
Mais tarde, se optamos por ter filhos aprendemos a viver com a grande vilã da maternidade e da paternidade: a culpa. E ela vem de sabermos que, apesar de amarmos tanto aquela criaturinha e darmos nossa vida por ela, nós ansiamos por voltar um pouco ao passado, quando havia tempo para ser mais que o pai de fulano e a mãe de ciclana.
O mesmo ocorre entre os casais, independente de escolhas, sexo etc. Os problemas advindos da convivência são normalmente parecidos. Nós amamos e odiamos, amamos e odiamos nossos companheiros e companheiras o tempo todo. Embora seja difícil reconhecer a presença desse ódio nos nossos sentimentos ele é, no fundo, também uma prova de que há ainda algo nos unindo ao outro, ainda que isso não seja o amor "eterno" prometido um dia.
O único sinal de falência total do casamento é o descaso, uma falta de interesse tão grande pelo outro que nem mesmo suas ações mais insuportáveis são capazez de nos afetar. Só neste caso o bote do "SOS" não ajuda, porque o que está por trás do desinteresse é a ausência de amor. E a ausência de amor não leva ninguém a procurar ajuda. Nem no Encontro e Casais da Igreja, nem na terapia, nem num programa de tevê. E só quando alguém ainda nutre algum amor pelo parceiro ou parceira é que ainda luta, consciente ou inconsciente, para trazer a atenção para si. Por si só os casais, como Salete e Edenílson, são dignos de admiração. Eles expõem a ferida, a cutucam, tentam com ajuda curá-la sendo que o único ganho é a melhora de sua relação.
"SOS Casamento" oferece a visão e a crítica da psicologia, na pessoa de Ana Canosa, experiente psicóloga clínica, terapeuta de casais e educadora sexual, quem avalia o caso e dá sugestões de mudança. Através das criativas dinâmicas criadas pela produção do programa o casal é levado a entender seus maiores problemas e desafios. Algumas, como a "quebração" de pratos de Salete funcionam como catalizador das energias ruins. Enterrar a mágoa, superar o passado geralmente é parte do tratamento para a cura do casamento doente. Ao fazer isso ela consegue enxergar para além do marido ausente. Em outras, como na tentativa de provocar ciúme em Edenílson, o programa tenta mostrar como tomar atitude e estar presente na relação é extremamente imprescindível, ao menos no caso dele.
"SOS Casamento" oferece a visão e a crítica da psicologia, na pessoa de Ana Canosa, experiente psicóloga clínica, terapeuta de casais e educadora sexual, quem avalia o caso e dá sugestões de mudança. Através das criativas dinâmicas criadas pela produção do programa o casal é levado a entender seus maiores problemas e desafios. Algumas, como a "quebração" de pratos de Salete funcionam como catalizador das energias ruins. Enterrar a mágoa, superar o passado geralmente é parte do tratamento para a cura do casamento doente. Ao fazer isso ela consegue enxergar para além do marido ausente. Em outras, como na tentativa de provocar ciúme em Edenílson, o programa tenta mostrar como tomar atitude e estar presente na relação é extremamente imprescindível, ao menos no caso dele.
Além disso tem a enorme vantagem de ser dirigido e produzido por seus idealizadores, Ricardo Perez e Adriana Cechetti, quem haviam dirigido Super Nanny por vários anos na mesma emissora. Os ganhos parecem ter sido muitos e são visíveis em toda a produção de "SOS".
O programa promete muito. E, mesmo eu, que sou avessa às fórmulas rápidas e até mesmo à tevê estou muito curiosa para conhecer e aprender com novas histórias.
Alguém no twitter afirmou não ter gostado do "sumiço" que se faz com os filhos durante o programa, pois tem-se a impressão de que a solução é desaparecer com eles. Eu também senti falta de explicação para esta ausência no programa de estréia. Entendo, porém, que tal "sumiço" seja necessário. "Tirar as crianças de cena" é sempre necessário em um casamento e um dos grandes erros de quem se casa e tem filhos é não ter olhos para mais nada e ninguém além da prole e dos cuidados que a cercam. No programa as crianças, que ainda dormiam na cama dos pais, foram entregues aos cuidados dos parentes para que mãe e pai tivessem um jantarzinho romântico só para eles. O resultado pode ser vistos descaradamente na face dos dois no dia seguinte.
Quando perguntei à minha irmã se ela havia gostado do programa ela me disse: "... mas o que aconteceu depois? Acabou ali? O que eles iriam fazer? Iam viajar...?
Ao que eu respondi rindo: não. Não acabou ali. Continua...
À Salete e ao Edenílson "SOS Casamento" já lançou os coletes, o bote salva vidas e o mapa. Resta a eles agora continuarem na direção tomada e não desanimar quando toparem de novo com as mesmas torrentes e ondas fortes. Resta lembrar que o amor está sim suscetível às intempéries mas para além delas há um horizonte bem bonito a se vislumbrar de novo.
Não sei o que você quem também assistiu levou para si do programa, eu adorei o que eu chamei de "Máxima de Salete" e vou agora pregar por aí: para ser um bom marido o homem só precisa elogiar, te oferecer e manter com você uma aliança, e sexo bom sempre que convocado.
...
*ps: para quem não viu e gostaria de conferir, o primeiro episódio pode ser assistido em sua íntegra no site do SBT: http://www.sbt.com.br/soscasamento/episodios/
Comentários
bj, daniela
Não assisti não. Ontem mesmo so consegui assistir "Tapas e Beijos" na Globo, rsrsr.
Parece interessante. Também acho que enquanto o casal tenta chamar a atenção um do outro, mesmo que seja através da ironia, implicancia ou coisa parecida ainda há chances.
A indiferença é o marco de que 'a vaca foi pro brejo de vez'.
O Super Nanny eu assisti algumas vezes e gostei muito, nem sei se ainda passa.
Bjos
Não tinha assistido no dia, mas vi hoje pelo link que vc passou. Assisti de um tapa, as 3 partes.
Vi, de cara, que toda a "raiva" da Salete era pela acomodação do casamento. Como ele é do tipo bonachão, para quem parece que tudo está sempre bem, ele se acomodou e se deu por satisfeito em ter casa, comida e roupa lavada. Mulher mesmo, pra cama, ele tinha esquecido! E olha que são muito jovens, têm coisas boas demais para viver ainda.
Tomara que se acertem, estou torcendo por eles.
E não vou perder o próximo programa, sob a batuta da sua cunhadinha.
Parabéns para ela!
Beijo!
::
quanto ao botoezinhos do twitter e do facebook abaixo dos posts, eu os coloquei la usando uns codigos que encontrei num site de blogs. mas ja nao lembro mais qual. tentei ver o codigo no meu blog, mas nao sei onde ela começa ou termina hehehe melhor que tu veja num site mesmo, mais seguro :X
Bem, cê sabe né, eu quase não assisto TV. Gosto mesmo é de filmes e em cinema principalmente.
Mas, tratando-se de um programa feito pela Adriana que eu considerei uma pessoa extremamente simpática, educada e inteligente, acho que vou assistir sim.
E depois, com este teu post referenciando e tão bem escrito, fiquei pra lá de curiosa.
um super beijo carioca pra todos aí!
A afirmacao e corretissima se por detraz do desinteresse esta a ausencia de amor entao...GAME OVER...
vc viu o link da Pilar Sordo? ela trata um pouco isso dos casamentos mas da perspectiva mulher e da nossa necessidade der ser indispensavel pra tudo e todos.
bjs
Jessicka
Vou tentar assistir o programa pelo link que vc compartilhou. Bjos Somnia