A noite estava quente naquele dezembro e por sorte a sacada do apartamento, onde Sonildes vinha morando, dava para um grande descampado. O vento invadia a sala, os quartos e a cozinha. A cortinda de seda azul dançava ao som da brisa noturna.
Lá em cima a lua não era mais redonda do que a moça. Ambas cheias, iluminadas. Sentada em sua poltrona preferida, Sonildes segurava firmemente uma xícara de chá quente. Sim, ela ainda não havia perdido o hábito adquirido com Suécio, o de segurar firmemente uma xícara e sentir o calor vindo dela, embora o lugar onde vivesse agora não lembrasse em nada os lugares frios onde ela e o loiro gostavam de passear em férias.
Fazia agora algum tempo que Sonildes havia deixado Suécio. Voltara para a mesma cidade onde antes vivera com Brasil, mas pela primeira vez, desde que sua aventura de viver entre dois amores começara, ela não desejara cair nos braços de Brasil.
Sem Suécio e sem Brasil Sonildes seguia meio sem rumo ou conforme os ventos lhe mandavam, tal qual a cortina de seda a sua frente.
No chão rústico de madeira, ao lado do sofá, Sonildes percebeu de novo seu velho baú indiano. Comprado numa viagem à Índia com o ex-ex-amante, era ali que a moça resolvera guardar todos os cartões postais, as cartas (sim! Suécio adorava escrever cartas) ou pequenas lembranças obtidas nos quase quatro anos de relacionamento.
As cartas de Brasil? Não existiam. Brasil não tinha paciência nem para cartas, nem para emails simplesmente porque não levava jeito mesmo para a escrita. "Não sei fazer rodeio para escrever bonito!", dizia ele con seu jeito quase inocente de ser.
Brasil não tinha intimidade com as letras, mas falar ele falava. E muito. Se tinha uma coisa que poderia facilmente descrever Brasil era a fala. Juntos Sonildes nem mesmo precisava se preocupar com o que dizer. Ele falava, ela ouvia. Ele falava, ela sorria. Ele falava, ela fazia caras e bocas de apoio e curiosidade. Brasil parecia amar a companhia de Sonildes e ela de fato amara a companhia dele por longo tempo, mas...
Se a fala era a característica de Brasil, o olhar era a de Suécio. A verdade é que até conhecê-lo Sonildes não havia se dado conta de que alguém poderia também querer fitar-lhe por tanto tempo em silêncio. E ouvir o que tinha a dizer.
Sim. Suécio era ótimo em ouvir e disso era o que mais Sonildes sentia saudade naquela noite quente e solitária. Ela desejava ardentemente falar e ver no rosto alheio um interesse verdadeiro pelo que tinha a dizer. Ela desejava ardentemente uma xícara de chá quente ao redor de uma mesa numa cozinha aconchegante no fim da noite. E por mais que soubesse que o tempo de Suécio havia passado, naquele momento Sonildes gostaria de ser uma pequena molécula e viajar com o vento, sob a lua à procura da companhia de Suécio.
Sim... ela normalmente tinha tal desejo, mas aquela era noite de Natal e era estranho que depois de ter passado metade dos Natais de sua vida na companhia de Brasil e dos amigos que tinham em comum desde a adolescência, depois de pensar que seus Natais seriam sempre regados a muitas risadas, cervejas e berimbaus ela queria o que praticamente numa havia lhe pertencido. Queria um Natal quieto, cheio das luzes de velas que aprendera a amar com Suécio.
Talvez porque ela nem mesmo gostasse de cerveja. Talvez porque os chás viciassem...
Talvez ainda porque estivesse tão redonda e sensível ou provavelmente porque a criança que sentia mexer dentro de si movia calma e tranquilamente, tal como pai.
Então Sonildes fechou devagar os olhos, sentiu a brisa invadir-lhe o peito, repousou as mãos sobre a barriga e fez um pedido em silêncio na sua noite solitária de Natal:
"Eu quero que a cor dos seus olhos não sejam azuis, porque senão a saudade vai me ferir um tanto toda santa vez que sobre você eu colocar meu olhar..."
Comentários
quanta falta me fazes...
deixa que o vento artico toque o seu rosto pois nele vem um beijo frio do seu Suecio...
/JR
Querida amiga, te desejo um ano repleto de realizações cercado de muito amor, amigos e muita luz!
Que o Bem e a Paz iluminem o mundo!
Que a felicidade inunde os corações e se espalhe entre nossos semelhantes durante todo o ano de 2011!
Que nesse ano que se inicia nos tornemos melhores e aprendamos mais uns com os outros, Felizes Festas.
Beijos de luz!
Eu bem sei o que esta saudade anda roendo-lhe a alma!
Quando você diz "Queria um Natal quieto, cheio das luzes de velas..."
eu digo-lhe que é bem isso que eu quero. Quietude.
Pena que as pessoas em nosso país entendam diferente sobre 'quietude', acham que está ligada a sofrimento, a infelicidade, a dor, a perda, a sei lá mais o quê!
Eu quero muito um natal assim e vou tê-lo, pois estarei com aqueles que mais amo na vida e longe da confusão e barulho desta cidade praiana e quente.
Aproveito para desejar-lhe um natal de paz e felicidade junto aos seus mais amados. Que Angelinho seja premiado com o presente que ele tanto espera do papai noel e que a linda Marina durma tranquila a noite toda, abençoada pelo amor desta união tão bonita de vocês.
Feliz Natal, amadinha!
beijos natalinos da amiga carioca.
Beth Q.Lilás
Te desejo um feliz Natal e boas Festas.
Aproveito para registrar meus votos de Felizes Festas.
Feliz Natal, cheio de bançao, harmonia e paz.
Feliz 2011 cheio de saúde, amor e prosperidade.
besitos
Ana.Leitora
Madrid
Lindo teu conto, amei. Li com lágrimas nos olhos. Te desejo um Feliz Natal e um ano novo repleto de realizações. Que esse amor e essa saudades(do conto)permaneçam em ti sempre de forma gostosa de se sentir. Super beijo querida!
Entendo Sonildes.
Mas também se sabe que não haverá conciliação possível. Sempre será um ou outro.
A escolha será sua.
Beijos!