(Os quatro lados que cercam nossa casa, antes da tempestade forte de ontem que colocou 20 cm de neve no meu quintal, Malmö, janeiro de 2010)
Pessoar,
Esse post é para registrar que a Deslumbrette aqui não tem só dias de pura felicidade e que a Suécia não é bolinho para qualquer um não, como vocês já devem imaginar. Além disso, certa vez uma amiga me cobrou dizendo que eu tenho mania de frisar o que tem de bom aqui, mas acabo omitindo o lado duro e dou uma idéia meio Pollyanna demais da vida que levamos.
Verdade é que sou o tipo que detesta reclamar. Obviamente eu vivo reclamando de várias coisas, sou tão chata como qualquer outro, mas eu não gosto de oficializar minhas reclamações e de dar vazão para o que não é bom, entende? Além disso eu reclamo normalmente de coisas que eu sei que poderiam ser diferentes, mas não o são por falta de esforço meu ou de outrem.
Então, pulando para essa narrativa menos Deslumbrette depois do meu post "Halleluja"...
Mal cheguei , pus os pés na neve e estava cantarolando de felicidade quando uma virose, ou infecção alimentar, seja lá o que for, pegou a mim e ao Renato. Passamos uma noite inteirinha no banheiro, pondo tudo para fora, por todos os lados que tínhamos direito. Horrível! E nem sei se tem a ver com estar na Suécia ou não, parece que foi um queijo que compramos para o jantar ou talvez seja um tal vírus novo de gripe que disseram estar aparecendo por aqui.
Bom, resultado foi que o dia de ontem passamos imprestáveis, jogados pelo chão, nos revezando para alimentar e brincar um pouco com o Ângelo que ainda se recuperava de uma gripe pega aí no Brasil.
Isso tudo só para dizer que a Suécia é lindona, fantasticamente diferente e dá mesmo razões da gente não querer sair daqui de jeito nenhum. Por outro lado, é uma mãe dura. Sem avós, tios e tias para dar aquela mãozinha ou com todas as secretárias do lar que as amigas brasileiras contam a coisa pega num dia assim.
Lembro-me bem de uma vez, quando Ângelo contava com uns quatro meses e tinha cólicas terríveis todos os dias. Eu com ele, balançando pra lá e para cá, com compressas e tudo o mais e sozinha, já que Renato estava na China a trabalho. No skype meu cumpadi Ênio me manda um recado perguntando as novas e conto que estava com o tal probleminha. Ele me diz então, todo inocente, sem noção do que eu vivia por aqui:
- Sô leva ele num pediatra ou no pronto socorro...
E eu desconversei e tal. A situação era: 2 graus negativos no termômetro, neve e ventania por todo canto. Sem telefone de pediatra, porque a gente não tem um pediatra, como no Brasil. Ninguém telefona para o médico fora do horário. As farmácias funcionam até, no máximo dez da noite, sendo que a maior parte fecha as seis da tarde. A enfermeira que cuidava do Ângelo também não dava telefone fora do trabalho e qualquer urgência eu precisava primeiro ligar num número 1177 (e, detalhe, falar em sueco que eu não sabia ou em inglês no qual eu me sentia insegura) para ter certeza que era caso de ir mesmo a um pronto socorro. Isso porque a idéia, sobretudo no inverno, é não expor uma criança pequena a outras doenças e vírus se ela não precisar. Isso tudo sem contar que o carro estava ali fora na calçada, todo coberto de gelo branco, porque no centro da cidade onde morávamos não havia garagens para carros por ser tudo muito antigo.
Bom e eu sabia que a cólica era aquilo e não mudaria até a adaptação dele ao mundo passar.
Então tal como naquele dia, ontem a neve e a ventania corriam soltas aqui. De manhã -9, durante o dia melhorzinho. A paisagem em frente a minha casa continua estupenda! De cair o queixo. Não paro de olhar e admirar. É tudo lindo, lindo, lindo!
Linda só não está a situação da minha casa com todas as malas abertas e tudo jogado para lá e para cá aguardando o início de toda a arrumação..
Devo lembrar entretanto que ser filho da Suécia significa cuidar de si sozinho, ser forte e aguentar o vento e a tempestade, aguardar com calma a chegada do tempo bom e da primavera que já se anuncia através das revistas de moda que chegaram ao meu correio.
Hoje a tempestade lá fora é ainda mais forte que daquela noite de 2007, mas se precisar consigo falar bem inglês e me viro no sueco. Sei onde tudo fica e quais os "prontos socorros" onde posso ir direto sem ter que ligar para alguém. Aprendi a planejar tudo, inclusive o que não é muito planejável. A gente aprende vivendo e aprende sofrendo mesmo. E cresce...
Ainda que eu queira deixar registrado esses "causos" não tão super animadores, meu lado Deslumbrette não me deixa concluir que a gente deve mesmo é "enjoyar" o máximo que se pode cada momento, como pelo menos eu fiz na terça feira, porque nada melhor do que um dia após o outro, já que se há dias bem difíceis depois da tempestade vocês já sabem...
Comentários
Seu relato é de uma pessoa que aprendeu a viver e conviver com as belezas e dificuldades deste lindo país.
Sinto-a cada vez mais forte, mais segura, enfrentando as adversidades, mas reconhecendo, principalmente, as graças divinas recebidas antes de mais nada, afinal não é todo mundo que tem este privilégio de morar numa terra assim tão bonita e cheia de recursos. E pra quem acha que isso daí é difícil só por causa do frio e da neve, deve lembrar-se do inferno que é um Haiti, quente, tropical e agora, destruído.
Muita força, saúde e lindos dias é o que lhe desejo! Melhoras procês!
bjs cariocas (ainda quentes)
Isso é verdade, por essas bandas a gente tem que aprender a se virar de uma forma diferente do que estamos acostumados no Brasil.
Melhoras.
Abraço
Agora deveria ser proibido pai e mãe ficarem doentes ao mesmo tempo, né? Imagino como vcs estejam cansados. Espero que já tenham melhorado.
Um beijo,
Marilena
Tenho dois filmes lindos, franceses, e que vocês vão adorar ver por aí nestas noites de vento e frio:
- A Culpa é de Fidel
- Conversas com meu Jardineiro
Outro também fantástico e imperdível, filme japonês, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009:
- A Partida
Imperdíveis, mas não sei qual o título deles por aí, tem que procurar, ok.
beijocas e melhoras