(Paisagem, sem assinatura e sem nome definido também, Somnia Carvalho, maio de 2008)
A verdade é que a gente precisa disso. A gente precisa dessa esfera libertadora da vida. Esse espaco só nosso, onde o outro nâo palpite. O Rê detesta que fiquem na cozinha enquanto ele cozinha, eu gosto de pintar e escrever o que me dá na telha, sem me importar muito se quem vai ver e ler vai gostar. A verdade é que o prazer vem enquanto eu faco a coisa. Se as pessoas gostarem, ótimo, delícia! mas a gente tem que ter um hobby pela gente mesmo.
E crochetar, e fazer aquele suéter trabalhoso que é uma coisa, para seu sobrinho, ainda que ele nunca use e ache horroroso. Consertar rádio velho, escrever artigos ou crônicas em seu próprio blog, ainda que você nunca seja reconhecido como o grande escritor que é, meu caro Amigo Ed. Pintar, o que seja tem que ser bom porque é bom fazer. É por isso que, em cada horinha vaga, quando eu sinto um comichâo, corro e escrevo aqui algumas linhas.
Eu adoro quando vocês gostam, mas se vocês gostam ou nâo, já é outro passo, ou talvez, nem mesmo importe, porque esse momento aqui é só meu. E eu crio, ainda que muito simplesmente, eu me renovo, me sinto sempre mais eu e mais leve. Ainda que seja muito correndo, é muito bom.
Vendo as duas telas que pintei essa semana, estou orgulhosa. É a primeira vez que realmente crio um abstrato. E a paisagem daqui tem me dado vontade de pintar de um jeito diferente, com a espátula, me inspirando nas cores que tenho visto aqui. É claro que todo mundo, na intimidade, ou sem querer, sonha com o brilhantismo, mas ainda que ele nunca venha, esses momentos valem uma enternidade.
Coitadinha de mim pensar em me comparar ao incomparável e sensível Van Gogh, mas eu sempre me lembro do prazer que ele descrevia sentir ao pintar suas coloridas telas. Em "Cartas a Théo", que reúne as cartas que ele mandou, a vida toda, para seu amado irmâo, o que a gente percebe é que Vang Gogh pintava porque amava pintar. Ele pintava incasavelmente todos os dias. E criava. E ia para o campo. E sujava as mâos de tinta. E procurava pelos tons perfeitos. E Théo sempre lhe dizendo que ninguém ainda se interessara pelas suas telas. Mas Vincent nâo se conformava em pintar o que os outros esperavam que ele pintasse. Ele pintava como achava que deveria pintar. E, embora tenha morrido na pobreza e vendido apenas um quadro em vida, ele faz a gente suspirar, vibrar, chorar, ao ficar de frente para seus quadros, como fiquei no Museu Vang Gogh, em Amsterdâ.
Entao, eu penso que isso tudo, seu sucesso etc, só faz sentido porque, lá no seu momento criativo, Vincent conseguiu fazer de um pedaco de pano, um exercício de liberdade. E, apesar de eu estar muito longe de ser artista de verdade, é exatamente o que eu sinto quando pinto. E o que tento fazer, algumas vezes, quando aqui escrevo.
Comentários
Bjs,
Dri
Muitos beijos e saudades!!!
Myrna e Ana