(Kerstin em sua sala, com havaianinhas penduradas ao lado de seu broche de barnmörska)
"Hay hombres que luchan un día: son buenos.
Hay hombres que luchan un año:
son mejores...
Hay hombres que luchan una vida: estos son los
imprescindibles."
(O autor é Bertold Brecht e o poema é bastante conhecido também em espanhol, na voz de Mercedez Sosa)
Há nove meses atrás, quando cheguei em Lund aflita para começar meu pré-natal nesta terra que era uma total icógnita para mim, conheci Kerstin Nilsson.
O espanhol que nos uniu inicialmente, já que a primeira barnmörska que me atendeu achou que Kerstin seria mais indicada para cuidar de uma brasileira, acabou por ser pouco "hablado" nas consultas. Foi em inglês mesmo que recebi as orientações, cuidados e conselhos. Foi em inglês que tirei minhas dúvidas, falei dos meus medos a respeito do parto, abri meu coração.
Creio que sua formação, enfermeira obstetra, aliado ao fato de ser mulher e mãe, somado ainda à sua vivência de trabalho na Nicarágua e, portanto, sua sensibilidade para uma pessoa mais "latina" como eu, fez com que Kerstin fosse a médica que eu nunca tive aí no Brasil.
(Kerstin com a pequenina vida que ela, de certa forma, ajudou a trazer ao mundo)
Eu precisaria gastar muitas linhas para explicar a sensação de conforto e tranquilidade que foi me tomando a cada consulta.
E ao contrário do que nossa imaginação a respeito de uma "parteira sueca" poderia criar, a Kerstin mostrou-se longe de qualquer estereótipo: amável, franca, sorridente, muito, mas muito carinhosa. (Eu já falei bastante a respeito de sua competência num post em julho a respeito do parto natural na Suécia)
Há uns dois meses tivemos o que seria nosso último encontro. Quando percebi que não a veria mais, caí no choro e comecei a agradecer todas as coisas que ela havia feito por mim. Kerstin tirou os óculos e enxugou as lágrimas. Disse que o carinho era recíproco.
A pedido meu tivemos então mais um encontro para que eu pudesse levar alguns presentinhos brasileiros e ter ainda mais uma conversa. Entre os mimos que lhe entreguei estava este chaveirinho das Havainas que ela fez questão de pendurar no bolso.
Como eu não pretendo encontrar a Kerstin tão cedo, já que ela cuida apenas de mulheres grávidas, eu dedico este post simples, mas que foi escrito do fundo do coração, a uma das mulheres mais marcantes que conheci até hoje.
Agradeço à Vida por me proporcionar encontros como este e por me mostrar que em qualquer canto do mundo é possível sentir-se "em casa".
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