(Três diferentes, grandes e valiosas paixões que tenho na vida: Lu e Ju, os sobrinhos e Angelinho)
Esses tempos atrás minha amada sobrinha, Luana, perguntou à minha mãe:
"Vó, você tem sonhos na vida?". Ao que minha mãe respondeu:
"Tenho fia, e você?". E ela:
"Eu tenho três grandes sonhos: conhecer uma cachoeira de perto, ter um quarto só para mim e que minha tia Sônia volte daquela Suécia para que eu não tenha mais que falar nesse computador lento com ela".
Uma das coisas mais difíceis na vida é que ao escolher um caminho a gente se desvia de outro e que toda opção obriga-nos sempre a uma renúncia. O grande desafio talvez seja escolher sempre a estrada onde cremos poder somar mais realizações e sorrisos que frustrações e lágrimas e aproveitar tal escolha embora, claro, a saudade daquilo que poderia ter ocorrido de vez em quando nos acometa.
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Aqui vai um texto que há muitos anos eu cultivo, releio e repasso, já que um email de uma querida ex-aluna ontem, a Cindoca, me fez lembrar dele e das minhas grandes paixões...
"Aquilo por que vivi"
(Bertrand Russel)
"Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que – afinal – encontrei.
Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.
Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e também sofro.
Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade."
(Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.)
ps: no link do lado direito do post você pode ouvir uma maravilhosa canção pra este dia: "Love of my life", com Fred Mercury
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Dani
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