Pular para o conteúdo principal

Brobizz ou manuell?


(Renato piadista, em trem na Bélgica, 2006)

Há 10 meses, quando cheguei por essas bandas de cá, uma coisa que quase enlouquecia a gente eram as placas cheias de "palavrões" suecos. Isso porque os suecos adoram palavras grandes, looongas, cheias de consoantes que dão um nó na cabeça de qualquer falante de língua latina.

Algumas que tô tendo que traduzir esses dias num formulário:
sjukpenningnivå
föräldrapenning
omfattningen
skattepliktiga
e por aí vai...

É mais ou menos parecido com o alemão no sentido de que vai se juntando uma palavra na outra, sem espaço e aí você forma uma nova palavra. Além disso, tem umas letras que não existem na nossa língua, como por exemplo: å, ä, Å, Ä, ö, Ö. Um pouco pior é você conseguir distinguir a diferença entre um e outro, porque esses "as" podem ter som de "ô" ou "é" e o "ö" "som de um ô com boca aberta que é quase um "uuuu" com um bocão feio assim....

No dinamarquês tem ainda um "o" maluco, cortado ao meio. Com esse aí eu tive pesadelos, logo que cheguei. Sonhava que um tal O gigante, cortado ao meio, vinha pra cima de mim e queria me comer... hahaha... Era assustador... É verdade...

Esses dias, em passeio pela Dinamarca, acabei por me lembrar dessa época em que as placas nos assustavam e nos cansavam terrivelmente. O que acontece, me explicou minha amiga Daniela Ângelo, é que o cérebro fica tentando loucamente decodificcar, decifrar tudo que está lendo.


(Placas indicativas de estradas do sul da Suécia, foto de Caetano Pinto)

No Brasil, você não deve mais perceber as placas de trânsito ou outras informações no caminho de seu trabalho. Seu cérebro conhece tudo isso e não precisa mais "trabalhar". Quando você chega por aqui (prepare-se tia Dri!) qualquer informação escrita passa por um "trabalhão" no seu cérebro, que quase pifa porque "trabalha, trabalha" e não tem resultado nenhum, A gente decodifica muito pouco do que vê e lê.

Mas... como vocês sabem que eu, e meu super companheiro do jogo do contente, o Renato, não nos deixamos abater por pouco, isso logo virou piada. Da parte dele, claro, porque eu sou a "romântica" e ele o piadista da casa.

Ao cruzar a fronteira Dinamarca x Suécia, a gente precisa passar pelo pedágio (sem funcionário), pagar uma pequena fortuna e atravessar a grande ponte que separa Copenhaguem de Malmö. Então vê-se duas placas gigantes:

Brobizz
Manuell

Na primeira vez, Renato espertinho deduziu que ele não tinha Brobizz e que, portanto, deveria ter que passar pelo "manuell", que lembrava manual. Passamos, mas a palavra engraçada - Brobizz - que deve ser o nome do ticket que você compra antes para passar pela ponte (Bro), virou sempre motivo de riso pro Renato. Ele diz: "ih, não tenho Brobizz..." e cai na risada.



E então... esses dias, indo lá pro Museu de Loisiana, a gente deu de cara com o mesmo pedágio de novo e os mesmos escritos. Eu comecei a rir sozinha ao ler Brobizz... mas explodi ao ler "manuell"... Me lembrei das nossas piadas sobre portugueses em que o personagem "burraldo" (*) é sempre o Manuel e não me aguentava de rir, pensando que teríamos de tomar o "manuell" para atravessar a ponte.

E nós dois ficamos uns vinte minutos rindo feito crianças...

Mais à frente, por causa do congestionamento... uma placa digital dizia em dinamaquês algo do tipo... "Verub...blablabla.. forudeu".

E eu, que a essa altura já estava atrás com Ângelo que chorava, viro pro Renato e pergunto: o que tá havendo?
Ele, sem dúvida nenhuma, responde: "Hum... parece que fod..."



E então, mais uma sessão longa de risos.

....

(Renato piadista II, no Jardim des Tuileries, Paris, 2006


Moral da História:
Mesmo quando você não tem certeza se escolhe seguir pelo caminho do Brobizz ou do manuell e algo à sua frente ainda lhe disser "forudeu", calma... ainda há motivo para rir.
Ou ainda: não importa como você atravesse a ponte (Bro), se de bizz ou de "manuell", importante mesmo é atravessar de bom humor.
HEJ DÅ!

(*) burraldo: muito, muito burro. Palavra pertencente ao vocabulário Irenístico, da minha sogra Irene.

Comentários

Unknown disse…
É verdade estive aí e ficava tentando imaginar como seria a leitura daquelas enormes palavras cheias de consoantes e poucas vogais.Eu,que passei a minha vida toda trabalhando na alfabetização dos nossos pequenos brasileiros,onde as letras representam os sons da nossa fala,juntamos consoantes e vogais formando as sílabas,sílabas mais sílabas formando as palavras pensava lá com meus botões xô...xô...pensamento isto é coisa de Suecos!
Agora falando sério! Mesmo sem ser Sueca sempre gostei de modificar as palavras tentando dar a elas uma entonação maior ao seu significado.Para fazer isto assim como os Suecos tento deixa-las com mais letras,faço uma mistureba.Ex burro=burraldo.Um dia ainda escreverei meu dicionário porque pelo visto tem muita gente fazendo uso do mesmo.
Beijos!Meus amores!!!
Vavá Irene.
Somnia Carvalho disse…
Irene, tem que registrar em cartório!
ce viu que eu ainda cito a fonte, mas vai ver até usando você por aí sem citar...
Se eu fosse você não esperava "dar na sapituca não", fazia ja! rss
Art in Shapes disse…
Ahahahaha! Sominia, muito engraçado este texto, tô rindo até agora! É quanto "palavrão", né?

Beijos e ótima semana!

Dani
1daystand.blogspot.com
Somnia Carvalho disse…
Cê vê Dani... eles não falam... escrevem palavrões... rs.. ótima semana!
Anônimo disse…
Oi Somnia!! Finalmente consegui escrever um comentário!! Eu sugiro que ao voltar para o Brasil você publique seus textos que são ótimos. Muitos beijos para você, para o Renato e para o pequenino.

Flavinha

ps: providenciarei uma foto do presente que o Angelo me deu na sua visita ao Brasil.
Somnia Carvalho disse…
Hej prima! finalmente então!!!

pode deixar... vou imprimir, xerocar um monte de cópia e dar pros parentes e amigos que eu não gosto... hahaha... obrigada! é gostoso escrever e ouvir que o que escrevi tá bom de ler é gostoso e meio.

Claro! preciso da foto! E fazer do Angelinho um poço de dinheiro!

beijos
Anônimo disse…
Até imagino o Rê fazendo essas piadinhas...hahaha

Muito bom o texto e já estou me preparando pra ficar lelé da cuca nessa lonjura, como diria o dicionário irenístico.

Bjs,

Dri.
Anônimo disse…
Verdade! Fizemos o mesmo com o Ingles, e entre nós funcionava muito bem.
Ótimo texto!

Teco
Ed. disse…
ahahahahahhahahahahahahhha

eu ando todo "foredido" por aqui.
rsrsrsrsrsrs.
Anônimo disse…
Tem tanto tempo que não leio o blog e hoje estou indo para campinas onde não tem computador, mas no curto tempo disponível entre o sono do Pedro e a viagem eu resolvi me atualizar. Nunca ri tanto sozinha. Polianizar as coisas e rir do que poderia ser desesperador só poderia ser coisa de Sonato e Renia. Um super bj. Pinta.
Somnia Carvalho disse…
Pintinha, querida amiga, muuuita saudade de você!!!
aqui e no tapete de casa!
é muito bom sempre saber que você pode ler o blog, porque, ao menos, me sinto mais conectada a voce!
embora eu quisesse tambem poder ler um blog seu, sobre o que vc anda aprontando por ai... bjs

Postagens mais visitadas deste blog

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Ja, må hon leva!" Sim! Ela pode viver!

(Versão popular do parabéns a você sueco em festinha infantil tipicamente sueca) Molerada! Vocês quase não comentam, mas quando o fazem é para deixar recados chiquérrimos e inteligentes como esses aí do último post! Demais! Adorei as reflexões, saber como cada uma vive diferente suas diferentes fases! Responderei com o devido cuidado mais tarde... Tô podre e preciso ir para a cama porque Marinacota tomou vacina ontem e não dormiu nada a noite. Por ora queria deixar essa canção pela qual sou louca, uma versão do "Vie gratuliere", o parabéns a você sueco. Essa versão é bem mais popular (eu adorava cantá-la em nossas comemorações lá!) e a recebi pelo facebook de minha querida e adorável amiga Jéssica quem vive lá em Malmoeee city, minha antiga morada. Como boa canção popular sueca, esta também tem bebida no meio, porque se tem duas coisas as quais os suecos amam mais que bebida são: 1. fazer versão de música e 2. fazer versão de música colocando uma letra sobre bebida nela. Nest

O que você vê nesta obra? "Língua com padrão suntuoso", de Adriana Varejão

("Língua com padrão suntuoso", Adriana Varejão, óleo sobre tela e alumínio, 200 x 170 x 57cm) Antes de começar este post só quero lhe pedir que não faça as buscas nos links apresentados, sobre a artista e sua obra, antes de concluir esta leitura e observar atentamente a obra. Combinado? ... Consegui, hoje, uma manhã cultural só para mim e fui visitar a 30a. Bienal de Arte de São Paulo , que estará aberta ao público até 09 de dezembro e tem entrada gratuita. Já preparei um post para falar sobre minhas impressões sobre a Bienal que, aos meus olhos, é "Poesia do cotidiano" e o publicarei na próxima semana. De quebra, passei pelo MAM (Museu de Arte Moderna), o qual fica ao lado do prédio da Bienal e da OCA (projetados por Oscar Niemeyer), passeio que apenas pela arquitetura já vale demais a pena - e tive mais uma daquelas experiências dificilmente explicáveis. Há algum tempo eu esperava para ver uma obra de Adriana Varejão ao vivo e nem imaginava que