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Azulejos em carne viva? O que você vê na obra de Adriana Varejão?


("Azulejaria verde em carne viva", Adriana Varejão, 2000)

Gente querida,

Domingão a noite e tô no pique para começar a semana!

Meu grande mural preto, pintado na parede do escritório e onde escrevo com giz as tarefas semanais, já está limpinho, com a maior parte "ticada" e apagada. Estou anotando aqui o que preciso e gostaria de fazer até o fim desta semana e, entre elas, está finalizar a nossa apreciação da obra de Adriana Varejão, iniciada há dias atrás.

Como podem ver eu não consegui cumprir o prazo que me dei para divulgação do post final, mas abri mão de me culpar e vou aproveitar para pensar mais na obra com vocês.

Aproveito para convidar quem mora em São Paulo a visitar a exposição da artista, em cartaz no  MAM, Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera, com entrada gratuita e aberta ao público até 16 de dezembro deste ano.


("Parede com incisões a La Fontana", Adriana Varejão, 2011)

Para "apimentar" a discussão quero deixar mais duas telas da artista neste post e já agradeço minhas queridas leitoras Xu, Fernanda (Aprendendo a viver na Suécia), Luana (Teia de Narradores e Artes e Artesanais), Loide (Malas Prontas) e Lucinha (Sem Medida e De amor e de...) quem deixaram comentários super interessantes e reflexivos no primeiro post sobre o assunto, o "Língua com padrão suntuoso". Está tudo anotadinho e volto a eles no post final sobre a obra da artista.

Algumas de vocês me perguntaram como Varejão faz o trabalho de esculpir o azulejo e achei a pergunta curiosa. Eu também pensava o mesmo quando via fotos das obras, mas em visita à exposição "História às margens", pude perceber que se trata apenas da tela em tecido, pintada com rigor realista para parecer um azulejo. Daí sim há as intervenções para parecer o rasgo, a carne etc para os quais Adriana utiliza de materiais diversos.

Então, continuando nossa brincadeira de refletir quantas mil palavras uma obra de arte contém em si eu pergunto: O que você vê nestas duas obras de hoje? ou: O que você vê na obra de Adriana Varejão?


Comentários

Unknown disse…
Oi Somnia!

Isso tá ficando cada vez mais difícil...a arte de Adriana Varejão é muito abstrata para mim..mas vou seguir a linha de meu pensamento inicial, e pagar mico mesmo...ainda bem que ninguém me conhece!! :-)

Here we go... bom...primeiro eu aumentei a imagem e fiquei chocada com aquela "carne toda" e fiquei olhando sem entender o significado mas sabendo que existe um..

Depois já em segundo olhar, sem pensar muito "na carne" fui observando as variações das cores, umas mais claras, outras escuras, outras avermelhads mais os azulejos verdes mais uma vez pensei nos portugueses e do efeito de sua colonização no Brasil na mistura de nossa raça brasileira..foi isso que pensei não sei se há fundamento...

Já a segunda obra, a "Parede com Inscrições", a única coisa que vi são cortes sobre os azulejos, e talvez seja uma espécie de ruptura...um cessar ... a saída dos portugueses do Brasil, a nossa independência...

Melhor eu parar por aqui de falar tanta asneira.....



Beijos,
Loide
Bruno Kirilos disse…
Por traz da parede do banheiro estão escondidos todos os intestinos e bexigas (porque só vejo isso na foto) que já deixaram seus dejetos ali.
Cíntia Dietrich disse…
Só pra acrescentar, a parte do azulejo não é feita de tecido e sim de paviflex, pra quem não conhece pode ser encontrado em ferragens e serve pra pavimentção. A composição é de plástico/borracha ou seja, de fácil manuseio mas apresenta maior resistência do que o tecido.
Em segundo lugar a carne não é feita de materiais diversos e sim de espuma de poliuretano que por sinal também pode ser encontrada em ferragens também. A espuma vem em latas tipo spray de pintura.Serve para vedação. Em contato com o ar ela endurece e fica no formato que "você quiser". É menos simples do que parece, fiz um trabalho com espuma de poliuretano e é difícil manuseá-la, embora o resultado seja incrível.

E conceitualmente falando, sim a Adriana Varejão faz referência a colonização portuguesa no Brasil daí seria interessante conhecer um pouco mais de história para saber que tipo de relações ela cria nesse aspecto. Como estudante de Artes Visuais prefiro a obra dela assim, livre de pré-conceitos.
E só mais uma coisa, Loide Castle a obra dela não é nem de perto abstrata. Temos azulejo, carne e a referência concreta da colonização portuguesa. Dei uma de chata eu sei, mas sou fã da Adriana Varejão não podia passar sem deixar o meu depoimento.
Todo corpo por mais belo que seja em sua superfície, guarda algo que se for exposto causa nojo e horror, a beleza dos azulejos é contraposta a feiúra da carne. Por mais que o humano tente manter o máximo sua aparência com a lisura do mármore, com o ébano (lembro da expressão “pele de ébano”), ele é carne. O contraponto entre os azulejos e as entranhas, mostra que nossas sensações e ideais se comprazem mais com a artificialidade do azulejo do que com a vida crua das entranhas, que causa nojo ao invés de um comprazer animal (o tipo de familiaridade que os animais têm com a carne estripada de suas vítimas).

Tenho um conto com alguns pontos de similaridade com essa obra, me lembra, apesar de uma obra como essa ser mais aberta em possibilidades interpretativas do que um conto, e, no entanto, do ponto de vista dos signos, sem qualquer interpretação, vejo algumas similaridades nas imagens utilizadas (mesmo que talvez para tecer sentidos diferentes).

http://sonhosemnoitesdeinverno.blogspot.com.br/2012_10_01_archive.html
Acho que o conto se aproxima dessa obra pelo modo como ele é narrado, ressaltando aspectos próprios da carne, como o suor, carne cuja textura é compartilhada pela casa, mas cujo compartilhamento apenas de textura gera horror e nojo. Enquanto existe uma identificação com a forma da estatua ao mesmo tempo que um estranhamento que não é repulsa e sim atração. O interessante aqui é que a identificação foi com o mais artificial (ideal), enquanto a carne é estranhada, pela forma com que se apresenta.

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