A história concorrente de hoje é inspirada numa foto de várias décadas. Uma foto literalmente guardada num baú, repleta de memórias e histórias que esperavam para serem recontadas, porque o tempo, os desencontros e os encontros podem nos tirar de dormências...
A autora, Stela, eu conheci há alguns anos, quando comecei a dar aulas para a filha dela. Fiquei amiga tanto de uma quanto da outra, porque gente cheia de vida e profunda como elas a gente não encontra todo dia não...
Hoje, ao contrário do que normalmente faço, eu prefiro não tentar parafrasear o texto da Stela... Eu prefiro que vocês sintam uma onda de friozinho correndo pelo corpo como eu senti no meio e outra de esperança para o final...
A história da Stela fala por si mesma e, segundo ela, não haveria melhor momento em sua vida para tirar do seu baú uma foto e o concurso foi uma excelente forma dessa história poder ser contada...
Obrigada querida Stela!
...
"Ano? 1000...como as lembranças...
... 900... e 70... e 2...
Éramos professores, colegas e amigos. Além dos alunos, diários de classe e planejamentos que nos uniam, havia os passeios programados em grupo. Um deles, um almoço em Piracicaba. Divertido passeio, com direito a saborear um bom peixe assado à beira do rio, andar na praça, rir muito (sabe-se lá do quê!). Éramos todos amigos... aparentemente.
Aparentemente... porque ... entre o garotão loiro e a moreninha sorridente sentados lado a lado, no mesmo banco da praça, havia um sentimento a mais – ocultado, mas sentido pelos dois, perceptível para alguns conhecidos.
Um sentimento com vontade de crescer, mas inibido por contingências da vida. Ele revelava-se no sorriso dos encontros nos intervalos de aulas, horários de recreio, ligeiros recados deixados nos registros de aulas de cada um deles. Chegou até a reverberar na “coincidência” de morarem na mesma rua. “Alegria, alegria, essa rua é nossa!” foi o bilhete que a jovem encontrou em seu diário quando “ele” foi morar numa pensão ali, bem pertinho de sua casa; porém, os caminhos da vida colocaram os sentimentos na contramão dos acontecimentos.
Ele seguiu seu destino para o interior de São Paulo, continuando andanças, esquecendo o magistério. Ela permaneceu em seu berço paulista, sempre professora. Ambos casaram, constituíram família.
E passaram-se quarenta anos...sem contato, quase sem notícias um do outro. As poucas informações foram dadas pela moça da foto, uma grande e fiel amiga dos dois, por todo esse longo tempo...
Dessa amizade ficou, para a jovem, a imagem de uma semente que não brotou. Em seus pensamentos ela imaginava que havia sido apenas uma grande amiga para ele. E a foto do passeio a Piracicaba foi guardada na caixa de lembranças e na memória.
Do ano 1000 para 2000 – 2000 e 10. Um toque de telefone desperta a mulhermeninamorena da foto antiga. É a grande amiga.
Eu atendo ao telefone. “Tudo bem?” ela me diz. “ Tenho uma novidade. “Ele” está em São Paulo e gostaria de vê-la. Você quer encontrá-lo?”
O pensamento dispara as lembranças. Cenas, sensações, alma agitada. Com posso ver imagens se não tenho fotos em minhas mãos? Mas é isto o que acontece.
E o encontro se realiza. Por entre as diferenças físicas que o tempo esculpiu em nós, aparece a sutileza do que nos marcava e encantava um ao outro: o jeito do sorriso, a energia do toque das mãos na busca velada de um roçar de dedos.
Lembranças de antes entrelaçadas com o momento presente. Somos e não somos mais os mesmos jovens. Somos e não somos sexagenários. A ebulição interna mobiliza-me à procura da caixa de lembranças. Ah, a foto! Ainda a tenho! Se não foi necessária para me trazer lembranças, agora ela se torna um quadro vivo do que sentíamos! E o calor de um sentimento retorna e faz o coração pulsar. E nos faz jovens na alegria do reencontro. E dispara palavras e silêncios, toques e afastamentos, certezas e inseguranças.
A foto é tirada do seu exílio e silêncio. Assume seu lugar num porta-retratos; agora fala, sorri, gera palavras... e textos. Adquire vida, impulsionando à busca de mais vida, para que novas fotos garantam mais lembranças, para um futuro de uma vida que ainda se promete."
Comentários
Depois fui me surpreendendo com a beleza da escrita, linda, firme, delicada. amei simplesmente tudo!
Desde a descrição sobre a foto ao momento presente que, na redescoberta, parece que terá um futuro lindo.
parabéns Stella!
beijinhos cariocas
tem como me redimir? hihihihihihi
realmente estrela-texto
friozinho de emoção,
precipitação de alegrias!
Que lindo texto e mais emocionante ainda a história! Adorei "viajar" com você!
Felicidades às estrelas da foto e do texto.
Descobri, com esta experiência, a alegria de compartilhar textos. Memórias, histórias, palavras, minhas e de tantos, são preciosas para todos.
Adorei ler os comentários sobre meu texto. Aguçou a vontade de escrever, tirar mais coisas das gavetas.
Obrigada, Sonia e um abração pra quem passear pelas lembranças do concurso!
Stela Battaglia disse Stela Battaglia. Eu não disse prá mim mesma. Disse prá TODOS.
Vivendo, aprendendo e conhecendo usos das tecnologias. E por aí vai....
Oxigenio...Alegria...é de tirar o folego...
Que história eim...Menina Morena,você tranformou o conteúdo dessa foto,com uma escrita leve,com cenas,lembranças encantadoras,cheias de ternura,alegria e emoção que mostra claramente o conteudo de sentimentos que resistiu pacientemente ao tempo,guardado no Universo,esperando o momento certo para iniciar esta linda história.
Parabens mulhermeninamorena,estou emocionado.