(Lucian Freud em seu ateliê, foto de David Dawson, reprodução feita de www.louisiana.dk)
No domingo passado estivemos, eu, Renato e Ângelo, no Museu de Arte Moderna Louisiana, que fica próximo a Helsingorg, no lado dinamarquês.
O museu e o lugar onde fica, por si só, já são, como diz minha amiga Maria com seu sotaque português, "unn issschpétáculu".
Com paredes de vidro para vários lugares do jardim e com vista para o mar que divide a Dinamarca da Suécia, as instalações do museu já valeriam a pena o passeio.
De dentro de seu baby byorn, colado ao corpo de seu pai, Ângelo também pareceu encantado com o passeio e com as pinturas.
Tivemos a sorte de encontrar duas grandes exposições temporárias. Uma delas de maravilhosas criações do fotógrafo Richard Avedon, famoso nos anos 60 por fazer belas fotos para o mundo da moda, sobretudo para Coco Chanel, e por criar fotos extremamente expressivas de artistas da época, como a reproduzida abaixo do teatrólogo Samuel Beckett.
("Carmem", foto de Richard Avedon)
(Samuel Beckett, foto de Richard Avedon)
A outra exposição temporária era de "cair o queixo": várias obras de colecionadores particulares de Lucian Freud.
O artista, neto do pai da psicanálise, Sigmund Freud, tem uma obra marcada pela exposição do eu, num momento em que a psicanálise começava a ser incorporada ao mundo da arte e que se dá através de uma obra figurativa. Muitos retratos de busto e diversos nus.
Embora eu já tivesse visto bastante de sua obra no Tate Modern, em Londres, só nesta exposição no Louisiana é que pude ver também os fortes e incômodos retratos.
("Cabeça dormindo", Lucian Freud, 1979-80), Private Collection, Photo: Courtesy Acquavella Contemporary Art, Inc.
A pintura de Lucian Freud é tão expressiva quanto ele próprio. Está longe de ser algo suave, de funcionar como enfeite de parede na casa de alguém. Sua pintura incomoda, embora seja, de vários pontos de vista, extremamente bela.
Seja nos pequenos retratos de rosto ou nas telas gigantes dos nus a sensação é que Freud desnuda o seu motivo. Desnuda porque seu jeito de pintar, suas pinceladas, quase sempre em tons ocres, amarelos e marrons, revelam sempre um personagem desnudado. A pele está à mostra. Mas mais que isso, a pessoa, ela mesma, está nu diante de quem contempla a tela. Nu no sentido de que suas maiores angústias, sua solidão, sua fraqueza é revelada. Até os dois ernomes retratos da velha mãe do artista em suas roupas normais causa a mesma sensação.
("Garota em vestido verde", Lucian Freud)
Lucian Freud, no meu ponto de vista, soube compreender tão bem o que seu avô buscou com a psicanálise. Esta, assim como suas telas, trazem o sujeito, o que de mais profundo há no sujeito, à tona. Ela vai arrancando as várias camadas que o eu ou os outros criaram a respeito dele. A pintura do Freud neto, bem como a psicanálise do Freud avô, mostra que, no fundo, bem lá no fundo, todos nós somos extremamente frágeis. Todos nós temos um mundo particular que tentamos preservar. Todos criamos máscaras (no caso de Lucian, as roupas) para nos proteger. Não à toa temos tanto medo de nos desnudar. De ir mais fundo em nós mesmos. Não à toa, creio eu, tanta gente tem medo de tirar a roupa, de fazer terapia, de conhecer-se a si mesmo, admitindo os defeitos físicos e emocionais e colocar, então, seu eu mais frágil e desconhecido à mostra.
Tirar a roupa dos seus personagens, usar a tinta de uma forma excessiva e criar um ambiente quase sempre "torto", com uma perspectiva discorcida, permite a este pintor criar uma pintura que, ao mesmo tempo em que choca e questiona, encanta.
Ao meu ver, a estranheza e o desconforto inicial do visitante diante das telas de Lucian Freud, bem como do sujeito que se põe a analisar-se e ser analisado, podem levar a resultados muito profundos, inesperados e até mesmo agradáveis.
Lucian Freud mostrou-se a si mesmo em suas pinturas, porque usou sua própria arte para se desnudar, muito mais que desnudou o outro.
Comentários
Parabéns pelos quatro meses de vida do Angelinho, que, apesar de tão pouco tempo, tem vivido intensamente cada segundinho com uma descoberta diferente.
Bjs.
Tia Dri.
escuta essa: a exposicao vai ate marco de 2008, logo..
de trem ou de carro voce podera conferir... beijaoooo
Vim parar por acaso no seu blog e estou adorando.Os assuntos são muito interessantes e diversificados,além de dar a oportunidade de participar do crescimento do Ângelo.
Parabéns da sua leitora mais recente
esqueci de dizer... sera demais poder leva-la...
Que ótimo!!! fico feliz mesmo! mas me conte mais sobre você, porque conheço algumas Sylvias e fiquei em duvida se você é conhecida antiga ou não... abraco!
Bjs
Daniela
1daystand.blogspot.com
1daystand@gmail.com
não é demais? e você precisa ver que delícia estar na frente das telas que são gi-gan-tes... uma sensação estranhamente boa...
Você não me conhece , moro no Rio , sou pediatra e na primeira vez que entrei no seu blog você falava sobre a estrutura hospitalar na Suécia .
Beijos
Nesta fase em que estou na vida, com um bebe, um pediatra é quase tudo na vida... rs...
espero reve-la por aqui em breve, fico feliz que me leia! abracos, sonia
estive seco por um bom periodo.
mas amei tuas mensagens.
...
eu me sinto um et
e as vezes quero ir embora para berlim.
....
belos quadros.
e parabens para o anjinhoooooo
bjo
Teco