(Obra de Don Dalkhe, in: Emily Duong)
Uma tela em branco, tintas de várias cores, pincéis e crayons... Este foi o ambiente de uma de minhas últimas aulas de Filosofia da semana passada, no colégio onde dou aula. Ao invés da habitual sala de aula, um ateliê enorme de arte.
A ideia era aprofundar o conceito de "tábula rasa" do filósofo John Locke para quem nós não somos mais do que uma somatória de experiências vividas ao longo da vida. Para este pensador, tanto o conhecimento quanto quem somos é algo que deriva da nossa relação com o mundo, de como nossos sentidos captam este mundo e o outro a minha volta.
Cada vez mais tenho sentido a necessidade de extrapolar o espaço da sala de aula, buscar sensações para as reflexões, criar uma forma do conteúdo de Filosofia (e também Sociologia) não acabarem por ser mais uma disciplina a ser memorizada e aprendida para depois ser, como tantas milhares de coisas ensinadas na vida, esquecidas.
Nesta aula, em especial, minhas alunas e alunos refletiram sobre tudo que imaginaram que sabiam do mundo no mesmo dia em que nasceram. "Nada!", muitos responderam. "Eu era puro instinto!", disseram outros. Disso, pulamos para aquilo que julgam ser as principais características de suas personalidades, isto é, características moldadas a partir de experiências vividas. De sensações experimentadas. O passo final foi abstrair este "eu" numa tela branca, uma tábula rasa.
Não imaginem, contudo, um ambiente todo calminho, com gente pintando e refletindo. Os meus alunos e alunas adolescentes não são assim! Eles são agitados, versáteis, falantes, fazem e falam mil coisas ao mesmo tempo. Com eles, a lousa digital que uso, na qual vídeos, músicas, power-point etc são aplicados todos os dias, além dos seus tablets e nets pessoais, tudo pode facilmente se transformar do extremamente excitante para o insuportavelmente entediante.
Eles tem presssa. De tudo!
Foi pensando ainda nesta aula e em outra do mesmo estilo, dadas na semana passada, que li - lá mesmo na escola - uma matéria do jornal "O Estado de S. Paulo" sobre a "Universidade do Povo", uma Universidade Virtual que agora chegou ao Brasil. Este é mais um passo em direção à quebra, cada vez mais acentuada, no formato tradicional de educação.
Eu tenho pensado que a educação como nós conhecemos no passado e conhecemos ainda agora está com os dias contados. Os nossos jovens gritam por uma nova forma de aprendizado. Eles sentem o mundo de uma outra forma, mas ainda são educados como se fossem os velhos de antigamente.
É por conta dessa demanda por agilidade, simplicidade e facilidade que os milhares de cursos virtuais hoje ganham espaço e candidatos.
A Universidade do Povo é um bom exemplo de como nós estamos presenciando uma grande virada no formato educacional e no modo como o conhecimento era passado até então.
Claro que eu sou mais uma das milhares de pessoas que pensam o mesmo e tem apoiado formas alternativas de educação e ensino, mas aproveito para convidar você a visitar o site "Cursei", cujo criador eu conheço bem e é uma das pessoas mais extraordinárias que conheço na vida pessoal em vislumbrar o futuro, o Renato.
O Renato está tentando catalogar todo tipo de curso on-line, gratuito e pago, oferecido no Brasil. Ele pretende ser uma referência em cursos e quase um site de procura para quem pensa em fazer qualquer tipo de especialização e formação à distância.
Temos trocado muitas ideias sobre essas mudanças, esses novos rumos e pensamos como podemos fazer parte desse processo, sem apenas menosprezá-lo ou fechar os olhos. Como se atualizar, manter formas de crescimento e renda pessoal, mas ao mesmo tempo contribuir para que estas mudanças sejam experimentadas por outros, para que o conhecimento seja, de fato, globalizado.
O Renato, como eu, acredita que a internet tenha trazido não só ganhos para o conhecimento e para nossas experiências que o complementam, ela de fato transformou e transformará ainda mais a forma como lidamos com a criação e a troca de informação. A informação, através da internet tomou uma nova forma de relacionar as pessoas e criar sensações. E a partir dessa as possibilidades de transformar o mundo e as pessoas, mesmo que as salas de aula (provavelmente não no formato que conhecemos) e os ateliês de arte ainda possam guardar um lugar e proporcionar encontros incrivelmente saborosos.
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