Capítulo I
“Anda logo, seu saco de ossos!”
A altura do espaço que ficava entre a viga de madeira
abaixo de seus pés e o chão vermelho de terra lá embaixo não passava com
certeza de uns 5 metros. Não era isto que o preocupava. Aliás, isto havia
deixado de ser um problema quando entendeu que pulando haveria um grande risco
de apenas espatifar-se no chão, quebrar alguns ossos e provavelmente ser obrigado a
trabalhar ferido. Sim, seria um risco imenso caso insistisse no Plano A. Não. Ele não era tão
estúpido assim, apesar de acharem isso. Não havia frequentado muito a escola,
mas sentia de si mesmo certa perspicácia com os números. Não se sentia
inteligente, mas julgava-se bastante esperto. E se tinha algo do qual se
orgulhava era essa certa habilidade natural para o cálculo. Gastava seu tempo
agora em constatar como, de fato, havia escolhido os fios perfeitos: o
entrelaçamento, a fibra, o nó. Ele já a havia usado em tantas atividades na
fazenda e ela, sim, lhe parecia suficiente para dar fim ao seu corpo de 25
quilos e 450 gramas. Isso sem contar os testes conseguidos nas últimas três
semanas. Seu peso com certeza não estragaria seus planos. E pensar que havia
preparado tudo sozinho, como havia pensado no celeiro, cada detalhe, isso lhe
dava uma mistura de prazer, culpa e autopiedade, tudo ao mesmo tempo.
Sim, era verdade, estava bem abaixo do peso para um garoto
de 10 anos, e ele sabia disso, principalmente se comparado aos seus irmãos. Era
o mais velho. Mas o saco de ossos que era não chegava ao peso do mais novo. Saco
de ossos... Esse praticamente
havia sido o único nome pelo qual o velho Anders lhe chamara aqueles três anos
e meio. Ao contrário do irmão caçula, a quem o pai fazia questão de chamar pelo
nome e o “ö” pronunciado de forma tão sueca que até mesmo lhe dava náuseas.
- Byörn,
sussurou. Sentiria falta dele. De alguém mais? Provavelmente não. Com certeza
não! De ninguém mais! Sua
voz zangada assustou duas pombas acima dele. Elas voaram em direções opostas,
voltaram-se uma para a outra, bateram-se de frente, e, finalmente, alcançaram a
saída no topo do celeiro, enquanto uma ou duas penas flutuaram próximas de seu
rosto.
Apertou um pouco mais a corda em torno do pescoço e foi
colocando os pés pouco a pouco para fora da viga. O sapato apertado incomodava,
mas ele fazia questão de não parecer um qualquer. Ele não era um qualquer!
Ainda que fosse tratado como. Ele não apareceria em shorts beges rasgados e
camisas surradas. Ele não seria sepultado como um mendigo. Não, não, não. Ele
tinha sobrenome também. E, apesar de tudo, se orgulhava de não ser o mesmo do peste, mas também querido, Byörn. Ele não era um Zé Ninguém, ele era alguém.
Seu nome era Sven-son. Svenson!, pronunciou em voz alta, como se houvesse uma platéia a
assisti-lo no palco.
Umas faíscas de terra e pedrinhas caíram no ar. Só o
calcanhar restava na viga. Ajustou a gravata roubada da gaveta de Byörn e
limpou cuidadosamente o terno marrom claro do irmão. Estava pronto. Ele era
forte, todos veriam. Ele fazia diferença, todos notariam. Ele faria falta,
ninguém mais poderia negar.
Comentários
Manda brasa, Soninha, você tá com tudo, adorei!
beijos cariocas
Claro que vou acompanhar a história e me apaixonar pelo menino.
Beijo e sucesso, Sonia, Somnia, Sonildes.
e aí! tá curiosa?
te aguardo sempre por aqui!
Parabens pela coragem!
A gente acreditou que a historia daria um livro!
Puss och kram Liana
Parabens pela coragem!
A gente acreditou que a historia daria um livro!
Puss och kram Liana
E este ano, na escolar, chegaram muitas famílias brasileiras.
Vou divulger.
Beijos, Dani